segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os Melhores de 2008 (por quem conhece do assunto)

Tudo É Albino Menos Rebeca tem o prazer de veicular a vocês, na íntegra, a lista de “melhores do ano de 2008” do magnânimo mestre incorruptível do comportamento mundano brasileiro (o notável malabarista da foto acima). O especialista estupefato de tanta boiolagem e falta de talento revolucionário no mundo das artes, da moda e do ativismo social. Falo da sagacidade incutida em um espécime que usa pochete camuflada, camiseta regata de salva-vidas e a tatuagem, “marcada a ferro e fogo por um negão viril e virulento”, que ilustra a imagem de um camaleão (ou escargot) tentando sair com vida de um suculento caldo verde aquecido em demasia por uma velha leprosa assassinada em um dos episódios do “pré L World” (paralelo traçado de forma genial pelo nosso mestre) Xena, A Guerreira Chumacenta, que nada mais é que uma metáfora que sintetiza a agonia resoluta do “ser” guerreiro tentando desgarrar-se dos obstáculos impostos pela mediocridade da fauna que pega ônibus e pronuncia frases do tipo: “e aí, mano, qué fazê um dread?”, nas ruas nubladas e caóticas do centro de São Paulo, em frente à Galeria do Rock. Pois bem, o nome da divindade que espirra farpas apocalípticas contra os seus inimigos e elogios cândidos e ternos àqueles que merecem, é, nem seria necessário apresentá-lo, citado constantemente como influência perene por nomes do calibre de Nelson Motta, do saudoso devasso Nelson Rodrigues, Nelson Piquet, Nelsinho Piquet, Willie Nelson, Nelson Mandela, Nelson Ned, a banda farofa Nelson, o falecido Athayde Patrese, Clodovil, Leda Nagle, Ronaldo Esper, Sílvio Lancellotti, a “fofa” Ofélia, Cheech and Chong, Chicholina, Madame Bovary (que mesmo depois de morta fez questão presenteá-lo com um bolo encimado por uma calcinha suja de feno no seu trigésimo aniversário), Paulo Coelho, o Coelho da Páscoa, Emerson and Lake (o Palmer não vai muito com a cara dele), Emerson Leão, Leão Lobo, o Rei Leão, o Leãozinho, Miguel Falabella, Cissa Guimarães, o excelente filho de Cissa Guimarães que interpretava um péssimo ator no guia jovem do “faz de conta que é assim” Malhação, Carlos Eduardo Miranda, o ex-jogador de futebol Mirandinha, Sula Miranda, Miranda July, Orson Wells, Homero, Homer Simpson etc.
Inclusive, vem à lembrança o jornalista Fábio Massari, que, em 1998, realizou uma histórica entrevista com o nosso Deus da onisciência, na qual a perspicácia emanada por cada questionamento levantado pelo nosso guru me fez largar o emprego de tosador na clínica veterinária da minha tia Marluce (Gene Simmons com dois seios moles parecidos com dois sacos de cimento duros para os mais chegados) e adentrar com tudo no mundo do “está tudo bem viver como vagabundo”. Veja o trecho da entrevista que iluminou a minha antes lúgubre existência.
Fábio Massari: qual é a importância de Bob Dylan na história da música pop?
Nosso Deus: quem é Bob Dylan?
Fábio Massari: foi o grande responsável pela popularização da música folk.
Nosso Deus: quem é folk?
Adolf Gandhi Mascarenhas, nome artístico que burla o verdadeiro, Zé Tó, nasceu em Barra do Una, litoral sul de São Paulo, no dia 11 de setembro de 1941. O primeiro disco que fez a sua cabeça foi um frisbee lançado equivocadamente por um índio conhecido nas redondezas como Pão de Queijo. “Depois do incidente, Zezinho mudou, ficou louco, dizia que era um xamã em forma de guri”, disse a mãe de Adolf ou Gandhi ou Mascarenhas ou Zé ou Tó, dona Puritana, em uma rara entrevista que deu para um jornal qualquer que até hoje ninguém nunca leu, que de puritana não tem nada, pois anda pelada desde os 13 anos de idade, período em que deu à luz ao nosso pequeno iluminado e começou a se prostituir de graça em troca apenas de dois minutinhos para poder jogar com o seu parceiro de ocasião, segundo ela, “uma partidinha da maior invenção do homem: o ludo”.
O Messias dos relés diletantes das artes fugiu de casa aos 4 anos de idade e voltou dois minutos depois porque esqueceu que ainda não sabia andar. (Só de costas, antecipando o moonwalker.)
O interesse pelo universo artístico veio até ele graças à indescritível personalidade fora de forma de seu anjo da guarda e babá sexual, Pão de Queijo. “Pão de Queijo foi meu parceiro na vida, o meu parceiro no crime, o meu Compadre Washington, o meu Rio Negro, ou meu Solimões, não sei quem canta naquela merda mesmo... o meu Sullivan, o meu Maçadas, o meu centroavante impetuoso, o meu Milli, o meu Vanilli, o aplicador de vaselina, o perpetrador de vasilhame, o meu irmão, o meu cachorro, a minha cadela, o meu patrão, o meu parceiro na felação...”, desabafa com a característica eloqüência o nosso enfant terrible tupiniquim.
Aos 11 anos, já barbado e pai de dois filhos, foi apresentado à literatura, mas, como disse em seu quadragésimo segundo livro, o polêmico “Roda a baiana, Mascarenhas”, deu um tremendo azar. “Irmãos Karamazov foi muito pra mim. Desde então, não quero ler mais porra nenhuma. Só a coluna do Macaco Simão. E, para ser sincero, não passei nem do expediente do Irmãos Karamazov. O que já é muita coisa, pelo menos para uma pessoa como eu, assim, loucão.”
Em 1960, Pão de Queijo morreu em decorrência do vírus mais traiçoeiro e indestrutível da história das civilizações: vítima da moda... hippie. “Morreu de frio, o coitado, pelado, eu abanando o seu rabo, mimado, Pão de Queijo, bizarro belo de chinelo de folha de bananeira, quisera ele aprender a falar à modernidade, sinceridade, malandro desonesto com bom coração, pidão, cão de guarda dos sensibilizados, te traço, pão estragado à espera dos urubus cintilantes enviados pelo diabo de mamilo grosso, com cheiro de bosta, carnificina, gatinha, me dá um cigarro, mentolado, melado, sua saliva na minha, bonga, bongô, sarapatel, cansei!”, disse Zé Tó, em tom poético, em sua histórica aparição no programa Roda Viva, em 1987, a única edição do programa que apontou zero pontos no ibope, zero entrevistadores, zero apresentadores, zero câmeras, pra falar a verdade, ele nem foi ao Roda Viva, é tudo mentira, ou melhor, “intervenção artística”.
Após a morte de Pão de Queijo, Adolf foi embora, quis se aventurar na cidade grande, e foi parar em São Luis do Paraitinga. De onde jamais saiu. Passa seus dias ao léu, pois mora na rua, a pintar os seus quadros incompreensíveis e afamados, como “Espirro de Jó” e “Pollock uma ova!”. Escreve dez livros por mês – poesias, ensaios, romances, contos, quadrinhos, impropérios –, todos em um dialeto particularíssimo: “O Analfabetismo Intelectual”. Hoje, aos 67 anos, está enterrado na própria genialidade. Quer ver o mar, mas não sabe nadar.
Agora, imaginem a minha surpresa quando, no dia 11 de novembro deste ano, bem no horário do Programa da Yone Borges, Pra Você, lá pela uma da tarde, recebi pelas mãos de minha funcionária, Consuelo Leandro, um envelope tingido por letras garrafais negras no qual se sobressaia o seguinte título: “Me aduda”. Abri, me espantei pela densidade de informação, 174 páginas, não entendi merda alguma do que estava escrito, só a saudação final, “Miu Beijos, de Adolf Gandhi Mascarenhas, mi deisa esclevê a lixta de miori du ani no Tuidi Hein Albínu Minu Rebiqui, puin fuvou, vayii”.
Claro, mestre, claro, é uma honra pra mim.

Os Melhores Do Ano por Adolf Gandhi Mascarenhas

Melhor livro de 2008: Soldados Não Choram – A Vida de Um Casal Homossexual no Exército do Brasil – de Roldão Arruda e Fernando Alcantara Figueiredo.
Melhor disco internacional: Live in Churrascaria Rei de Pelotas, Double You.
Melhor disco nacional: O que Se leva da Vida É a Vida que Se Leva, Túlio Dek.
Melhor filme nacional: O Guerreiro Didi e a Ninja Lili, de Marcus Figueiredo.
Melhor filme internacional: My Blueberry Nights (ou Beijo Roubado), de Wong Kar Wai.
Melhor cantor nacional: Egypcio, do Tihuana.
Melhor cantora nacional: Karine Carvalho, na música Tatuí, do 3 Na Massa
Melhor cantor internacional: Khaled
Melhor cantora internacional: Scarlett Johansson
Melhor show nacional: Cláudio Zoli, no Festival de Inverno de Campos de Jordão.
Melhor show internacional: Double You e Holiday On Ice.
Gênio musical de 2008: Vinny, Biafra, Cláudio Zoli e Gilliard.
Melhor retorno de 2008: banda Yahoo
Melhor ator nacional: Jacaré, Turma do Didi.
Melhor atriz nacional: Livian Aragão.
Melhor ator internacional: Rodrigo Santoro.
Melhor atriz internacional: Norah Jones.
Melhor minissérie nacional: Haru e Natsu – As Cartas Que Não Chegaram, de Sugako Hashida.
Melhor novela do ano: os Mutantes – Caminhos do Coração.
Mulher mais sensual de 2008: Leci Brandão.
Homem mais sensual de 2008: Vange Leonel.
Silhueta do ano: Ed Motta.
Musa teen de 2008: Suzana Vieira.
Muso teen de 2008: Ferrugem.
Revolucionário do ano: Tico Santa Cruz.
Casal do Ano: Conrado e Andrea Sorvetão.
Jornalista do ano: Brito Júnior e Sônia Abrão.
Comentarista político do ano: PA, ex-Big Brother.
Melhor programa humorístico: Linha de Passe, da ESPN Brasil.
Figura impoluta do ano: Lobão.
Melhor apresentador do ano: Lobão.
Político do ano: Lobão.
Atleta do ano: Perdigão, volante do Corinthians.
Frase do ano: “Eu gostaria muito de produzir o Foo Fighters. Acho que eles rendem pouco em estúdio e, com a minha presença, eu daria mais consistência ao som deles”, discurso do produtor Rick Bonadio, em entrevista à MTV.
Artistas que deveriam retornar em 2009: a banda Lagoa e o grupo Loucomia.







segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

[1999]

Digo à minha namorada: “Encare os espíritos chineses, ignore as bestas espanholas, desdenhe dos psicopatas americanos, é só um filme, cacete, pare de usar as minhas belas mãos para vedar os seus olhos!”.
Mas reconheço que não dormi direito na primeira vez em que assisti A Bruxa de Blair. Eu tinha 17 anos. Mentira, 18 anos. E estava cheio de espinhas purulentas espalhadas por todo o meu rosto. E a menina que eu namorava na época tinha acabado de me dar um fora. E eu chorei na frente dela após o fatídico episódio. O que me fez conquistar o Nobel de melhor exemplo de eufemismo para patético: “Fofo”. E duas semanas depois dessa desventura tentei pegar uma amiga dela chamada Débora, que era meio banguela, em um baile de carnaval promovido por um hotel chique de Guarujá. Evidente que tomei outro fora. Depois tomei todas. Todas as bebidas e todos os foras possíveis e impossíveis de serem tomados em um espaço de quarenta e cinco minutos. Depois surtei. Me joguei na piscina. Perdi a comanda. Tive que ligar para o meu pai vir me buscar para não ter que pagar trezentos reais. Ele veio. Eu paguei trezentos reais. Os meus amigos da escola riram de mim. O meu colega David, quatro dias depois do “inferno”, disse em sala de aula “que o sol veio a ‘encalhar’”. Eu ri na cara dele e disse “a calhar”. Ele gritou que o pai dele nunca havia tido a necessidade de buscá-lo na balada para socorrer o bundão do filho. A sociedade escolar riu de mim. Sobretudo as meninas. Inclusive os funcionários. Até o zelador mudinho. Ana Flávia, do terceiro colegial, foi a única que não riu de mim. Porque me amava. Só que eu não a amava. Então ela gargalhou por vingança. E mostrou os peitos pro Gilson, que era da minha classe. E ele chupou. E não gostou. “Muito pequeno, bem mole.” Ele só sabia falar assim. “Juliana, bom sexo”; “Garganta, dói”; “Água parada, dengue!”; “Leonardo, filhinho de papai”; Eu respondia: “Gilson, mãe vaca”; “Gilson, pai cadeirante”; “Gilson, irmã chupou meu pau”. O que era verdade. Até mesmo o pai cadeirante. Que era a favor do retorno da ditadura militar e acreditava que o fim da violência só seria possível quando resolvessem explodir a favela. Apesar das desgraças, continuei empurrando o meu barquinho sem bateria sobre a maré impiedosa. Continuei perguntando à minha mãe se ela realmente me amava incondicionalmente. Continuei perguntando ao meu pai se eu era verdadeiramente o seu filho mais que campeão. Prossegui perguntando à minha avó, pós Valium e pós “só três dedinhos de uísque”, se existia alguma probabilidade de eu ser adotado. “Claro que não, boneco.” “Vó, eu sou seu neto, não sua puta.” “Hahahaha, você é muito engraçado, meu Choquitinho.” Continuei perguntando a Deus se havia vida após a morte. Ele me respondeu com uma fratura no meu tornozelo esquerdo, um rompimento no meu ligamento, uma cirurgia para colocar sete pinos de platina e uma placa, um gesso para me fazer companhia durante dois meses, um laxante para extirpar a rigidez que se transforma a merda quando se anda pouco, o recorde mundial de punheta, a oportunidade de assistir à última temporada completa de Six Feet Under e reconhecer mais do que nunca que a vida é realmente a morte da vida, mais uma cirurgia para remover o pino que servia somente para bloquear a minha articulação, um mês e meio de fisioterapia, um bolo da Dora, “a Dora dar o cu” para os mais chegados, para ver se ela dava uma mãozinha, as omoplatas, o traseiro, a vagina, sem beijo, a chupadinha miraculosa que levantava até eunuco, mas ela resolveu ser mais uma cidadã a adensar o agourento coro: “Tomara que você cague nas calças no dia do seu casamento, Leonardo!”. “Tomara que você nem case, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay e seja engolido por um leão quando você levá-lo ao zoológico, Leonardo!”. “Tomara que você batize o seu filho de Telmo e se arrependa depois por ter sido o principal responsável de desgraçar a vida do seu filho gay que irá ser engolido por um leão, Leonardo!”. “Tomara que você seja estéril, Leonardo!”.
Portanto continuei deambulando dando ritmo ao pendor intermitente da minha esquálida porém imberbe bunda salpicada por irritantes espinhas arrivistas que provocavam coceiras enquanto o ônus existencial de ter que carregar uma velha catraia esburacadamente úmida sobre os extenuados ombros prosseguia de modo a oferecer um único péssimo caminho escuro envolto por um túnel instalado sobre as águas chernobilescas da travessia Vicente de Carvalho-Santos para continuar a desenvolver a contragosto os imutáveis bom-dia/com licença/boa-tarde/por favor, use desodorante/caralho, tá demorando/boa-noite/boa-noite, tira a roupa, pega o dinheiro, estamos perdendo tempo/ em suma, modos desonestamente honestos de se relacionar com a sociedade - e formas embusteiramente sinceras de se visualizar no espelho e dizer, “sim, realmente, eu tenho uma vida, é, vida, sim!”.
Mas antes disso, mas no início disso, eu estava parado bem em frente ao finado Cine Ipiranga, na Avenida Ana Costa, na cidade de Santos, na companhia do meu amigo Lúcio, que havia, na ocasião, em um ato de insurreição contra a instituição familiar, pintado o seu cabelo de azul, logo ele que havia sempre se gabado por usar os melhores shampoos, os franceses, os espumantes, que embelezavam as suas longas madeixas cor Rio Tietê, que afagavam, às vezes com fúria, sobretudo quando ele empunhava a sua Fender Caralhocaster branca, as ombreiras de suas camisetas invariavelmente negras com as estampas do Megadeth, do Metalica, do Black Sabbath... Lúcio era aquilo que os bem-sucedidos proprietários de lojas de cd no início dos anos 90 chamavam de “cliente fiel”. Lúcio era o tipo de cidadão revoltado que enfiava o dedo indicador na boca escancarada e mostrava a língua no intuito de ostentar um sinal de reprovação para o seu interlocutor ou para si mesmo ao ver uma imagem que lhe desagradava. Exemplo, quando se deparava com algum dos inúmeros pôsteres do Ugly Kid Joe. Exemplo, quando diziam que o Yes era uma banda de exibicionistas. Exemplo, quando viu, incrédulo, o que o Caio fez com a parte detrás do seu cabelo ao raspá-lo a seco com gilete Bic de barbear caminhoneiro. Lúcio era o cara que na adolescência reunia os amigos para tomar uma gin pura enquanto discutia a dúbia vida sexual de Phil Anselmo. Lúcio era o raro espécime que não se importava quando chamavam a mãe dele de vagabunda, mas que se alimentava de um ódio vertiginoso, que só era extravasado por meio da violência ou do sacrifício humano, quando diziam que Mr.Big era rock; ou por meio da sodomia artificial que leva à morte - estupro com cabos de vassoura, com cabos de aço, com picolés congelados por dois meses em forma de cone, com cone de estrada com cobertura de pixe de estrada -, quando injustamente diziam que Lars Ulrich, baterista do Metalica, coçava as amídalas com rôla de negão suada e nada asseada de 42 cm de comprimento e doze cm de diâmetro.
Lúcio era assim, mas ficou assim. Era uma espécie de Mike Tyson do rock, mas decidiu dar uma mudada e se transformar em um Lafon do indie. Deu uma desmunhecada. Desacelerou o pé do metal e de toda a podridão máscula que o envolvia e começou a usar cachecol roxo no verão, a freqüentar as feiras anuais do Mercado Mundo Mix, a encomendar objetos “in” do Mercado Mundo Mix, a marcar encontros para um “coffee” no Mercado Mundo Mix, a achar Pixies melhor que AC/DC, a gravar por cima de Ruas de Fogo e Warriors o “insbibado” Velvet Goldmine, a escutar músicas do New Order e usar adjetivos como “Lindo”, “Sublime”, “Delícia”, “Demais”, “Caramba, que louco”; a esnobar mulheres detentoras de apelidos como “Demo”, “Piolha”, “Bigode”, “Bigode de Pancho Villa”, “Peruana Falsificada”, “Pior que o Sloth”, “Pé de Lama”, “Vítima de Radiação”, “Corpinho de Fóssil”, “Nem Deus Salva”, “Troço de Rato”, “Só 1,99”, “HIV, certeza”, “Grand Canyon” e se relacionar com moçoilas batizadas como “Elisa”, “Abelhinha”, “Sarah Lisboa”, “Abigail”, “Miranda Boaventura” e “Carol”; a remover e destruir os seus antes intocáveis pôsteres do Cannibal Corpse, do Dave Mustaine, do Kirk Hamlet, do Deep Purple, do Gwar, do Motorhead e substituí-los por imagens do Morrisey mordendo o caule de uma margarida, de Peter Murphy, líder do Bauhaus, sentado sobre a tumba de Jim Morrison, no Pere Lachaise, trajando uma tanga preta minúscula de couro enquanto dava uma baforada em um Gitane. A única imagem remanescente do seu passado metaleiro era um pôster de Rob Halford, líder do Judas Priest e eterno Judas dos metaleiros homofóbicos, acelerando a sua Harley Davison e olhando em nossa direção como quem quer dizer, “Porra, gente, tá na cara, né?”.
A cara de cachorro abandonado desgostoso pelo gosto tóxico do rancor inerente reservado aos abandonados com grande coração tomou de assalto o meu saudoso semblante de deslumbramento oferecido pelo inocente amor concebido pela falta de desconfiança que é a mente de um imbecil de 17 anos, mentira, 18 anos, naquela tarde quase nublada de extremo verão em que estava na presença do meu amigo Lúcio, “bom, muito bom, curte Erasure?”, que infelizmente deixaria a cena ao ser procurado por uma menina chamada “Renata”- outros dois amigos, anos depois, deixaram a cena por culpa dos chamados da Renata -, e me deixaria sozinho, estático, perdido, sorumbático, impelido a rastejar pela rampa negra do desafortunado cinema que seria implodido um ano depois, coagido a dilatar as narinas e a receber o odor mágico das pululantes pipocas bicolores, a reservar um cantinho especial no meu bolso para os extintos drops Ducora que ludibriaram até mesmo o mestre Tim, a ouvir o córrego de Coca-Cola de máquina transbordando o obsoleto copo de papelão, a caminhar até minha poltrona na sala de projeção repleta de ácaros, a sentar na poltrona vermelha, a dirigir o olhar para o relógio, a lembrar que nunca tive relógio, a fechar os olhos e ser invadido pela certeza de que não haveria ninguém na sala de projeção para ver o filme comigo, a chegar à tenebrosa conclusão que nem zumbis canibalescos, colegiais orientais possuídas por espíritos ensandecidos, exorcistas norte-americanas peitudas cobertas de chantily que cospem gosma inflamável, sádicos yuppies da década de 80, e bruxas invisíveis que aniquilam visitantes indesejáveis, seriam mais assustadores que a expressão do próprio rosto ao ouvir o seu amor de ocasião lhe dizendo “que não o ama mais”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Massive Attack and Drunk Memories

Prefácio: Papo de zagueiras

(Diálogo baseado em fatos reais)

Menina número 1: “meu, só tem gente feia nesse lugar.” Detalhe: a mina é birolha.
Menina número 2: “nossa, é verdade, só tem baiano nessa merda”, a mina número 2 é gorda pra caralho.
Menina número 1: “olha a roupa dessa menina, que coisa horrível, nada combina, parece uma... como é o nome daquele bicho que levanta umas pena colorida nas costa dele?” Além de birolha, é burra.
Menina número 2: “é uma garça, né?” Além de gorda pra caralho, não sabe que garça não é pavão.
Menina número1: “é esse bicho memo. Meu, mudando completamente de assunto, você soube que a Juliana Pompeu tá grávida?” Além de birolha e burra, é fofoqueira.
Menina número 2: “não, não acredito, pelo amor de Deus, que vaca, também ela já deu pra todo mundo, transa com todo mundo, beijou todo mundo do Universitas, bem feito praquela piranhuda gorda”, além de ser gorda e não saber que garça não é pavão, também é fofoqueira, virgem, sem espelho em casa e invejosa.

Eu adorava ir a lugares nos quais a dádiva da locomoção torna-se algo doloroso e vagaroso. Eu amava lugares onde sovacos masculinos e suor de pessoas gordas e porcas se fundiam com a nossa asseada pele. O problema é que eu estava sempre completamente doidão, portanto eu queria que tudo e todas as pessoas do mundo e de marte se fodessem explodindo.
O bom de ficar bêbado é que tudo parece possível de ser realizado. O ruim de ficar bêbado é que cu de bêbado não tem dono, mas nunca fiquei tão bêbado a ponto de esquecer que era dono do meu próprio cu. Por onde passava alguma coisa ia ao chão. Tentava mijar na rua, mas acabava mijando no meu pé e esquecendo de balançar a minhoca menor de idade (não só de idade) e os respingos amarelados sobre a calça eram inevitáveis.
Há mais de dez anos atrás, no período em que eu ainda era um inocente pré-adolescente que jogava Fifa Soccer, eu tinha uma terrível mania de fazer xixxizão com as calças completamente arriadas, o que era bastante reprovável e excêntrico quando eu, uma quase criança que socava uma e ainda reconhecia isso como um ato pecaminoso (mesmo sem saber o significado de pecaminoso), fazia a minha necessidade – e não “as”, porque extirpação das fezes eu não tinha coragem de fazer em público, embora já tenha feito na água do mar, o mesmo aconteceu com o meu amigo Ciro, o que não vem ao caso neste momento – no meio da rua, bem em frente aos incrédulos ou entretidos ou divertidos transeuntes de todas as raças, credos e gerações.
A minha devoção pelos destilados foi tão intensa que, aos 18 anos de idade, criei um pequeno guia de oito mandamentos por meio do qual instruía os incautos que atacavam as pingas com irresponsável sofreguidão a alcançarem o nível de embriaguez que os levaria, com alguma sombra de dúvida, ao tão almejado sucesso nas baladas de fim de semana. (Sucesso = Pegar mulher gata = Pegar duas ou mais mulheres gatas = Transar com mulher gata = Transar com duas ou mais mulheres gatas = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada, e com as mães gostosas que iam pegar as respectivas filhas igualmente gostosas - que já foram espetadas por você horas, minutos, segundos antes -, e com a cobradora do busão - só se ela fosse gata, o que de fato não acontecia; um camarada meu pegou uma cobradora que tinha o corte de cabelo no formato asa delta, atitude que expõe à luz o deslize de ele não ter feito usufruto dos bens do meu guia. O mesmo camarada transou com uma ex-detenta que usava a coleção primavera-verão 2002 da Onbongo e, segundo o meu brother Fagundes, que estava na Prainha Branca, local da hediondez, “tinha uma copa aloirada, tal como o Cascão, no topo da cabeça, e parecia o Márcio Santos”, zagueiro do tetra na Copa de 94. Se bem que o próprio Fagundes tentou comer a ex-detenta vestida de Onbongo com a copa Aloirada parecida com o Márcio Santos, mas não conseguiu. O que denuncia que nem o meu guia é capaz de domar tais pedreirinhos.)

Agora leiam o guia que fez da Carlos Nehring (rua na qual eu e todos os meus amigos fomos criados) o maior antro de conquistadores que a Pérola do Atlântico jamais verá. (Ou verá? Ainda estamos esperando o dia em que isso irá acontecer.) / fator George Clooney de futuro promissor/

Guia alcoólico para garotos medianos (amaldiçoados?) que não agüentam mais ficar pesados

- Coma bastante antes de sair de casa.
- Peça uma garrafa de cerveja e tome com parcimônia. (Caso não saiba o que é parcimônia, tome-a devagar. Digo a cerveja, parcimônia não se bebe.)
- Peça outra, mas dessa vez seja menos cauteloso.
- Peça mais uma e vire com tudo e cuspa no chão para impor respeito. (Sem mostrar o peito, por favor, esse gesto é bem gay e só viado irá colar em você durante a balada.)
- Peça mais uma, só que dessa vez grite e bata com a palma da mão no balcão e dê uma risada de cigano e beba no gargalo da garrafa e cuidado para não derrubar a merda da garrafa e fazer um estrago e queimar o seu filme no bar e ser expulso pelo dono do bar e aí você vai ficar bravo porque já está bêbado e o dono do bar vai chamar os pescadores alcoólatras que já passaram da hora de marcarem uma consulta no dermatologista para descobrirem que já estão em um estágio avançado de câncer de pele e então eles vão te bater muito e vai sair sangue e quando sai sangue é uma merda.(Eu, ao ver sangue, já começo a chorar e gritar.)
- Peça mais uma e vire muito rápido, muito rápido, rápido, rápido...
- Peça mais outra e beba mais rápido ainda, mais rápido, ágil...
- Agora peça uma pinga pura e peça outra cerveja e alterne a bebedeira entre a pinga e a cerveja e torça para não fazer nenhuma besteira, tipo vomitar no pé de uma garota, principalmente de uma gostosa, quando isso acontece é terrível, sobretudo quando se está sozinho na balada e a gostosa está na companhia de algum amigão que está louco para comê-la, mas ainda não conseguiu, de modo que ele enxerga essa situação como uma perfeita oportunidade para conquistar o coração da garota, ou só o clitóris, e enche você - um saco de ossos e músculos totalmente fora de si e fora de equilíbrio e que só fala um dialeto, o dialeto do bêbado, que consiste só em falar merda – de porrada para comer a garota de quatro dentro do carro no final da balada, enquanto quem come o seu rabo no dia seguinte é a sua mãe e o seu pai por estar todo melecado de sangue seco e estar fedendo a álcool e por ter fodido o farol do carro e o pára-choque e amassado a porta e por não se lembrar de merda alguma.

Desde criançinha carrego um talento absurdo para bailar e fazer imitações de cantores e artistas dos mais variados. Por esse motivo que me entregava de corpo e alma a essas manifestações vazias e sem propósito algum, que têm como principal foco nos fazer acreditar que ler Camus é uma merda e que a melhor coisa a se fazer no mundo é encher a cara, ouvir e dançar música ruim, e agir como um completo babaca acéfalo.
Portanto, devo esclarecer algumas coisas acerca do meu nem tão distante passado. (Porque todo mundo tem um passado do qual não se orgulha.) Antes de ter sido influenciado pelas poesias de Charles Bukowski, pela prosa do John Fante, pelos vícios do Dostoieviski, pelas obsessões do Woody Allen, pelas músicas do Bob Dylan, pelas bizarrices do J. D. Salinger, pela insignificância musical do The The, pelas lamúrias do Jeff Buclkey, e pelos peitos da Érika Mader na série Mandrake, eu fui uma das inúmeras vítimas a fazer parte, mesmo que por pouco tempo, dos prazeres desprezíveis do gosto popular – eu era mais um no meio da massa.

Agora, com detalhes, farei um rápido apanhado da meteórica época em que eu estava incluído na categoria “Maria vai com as outras”, do teoricamente democrático “gosto popular”.

Leonardo 1986-1994

1- Aos 4 anos de idade, eu era obrigado a fazer uma versátil RaulGildesca performance para as visitas que aportavam em minha casa, na qual se destacavam as dublagens e os trejeitos mancos de Roberto Carlos, e o swing ainda negro de Michael Jackson, que redundaram em um prematuro problema nas minhas partes baixas devido ao excessivo número de golpes acompanhados pelos gritinhos afetados dados pelo Michael que eu imitava. (As seqüelas dessas violentíssimas pegadas no santo e nada asseado órgão genital vieram à tona na época em que eu batia 48 punhetas em um único mês. “É pra evitar o câncer de próstata”, eu dizia.)
2- Aos 4 anos e meio coloquei na cabeça que queria ter o rosto do Fofão do Balão Mágico. Perdi várias aulas no coléginho por causa das inúmeras visitas que tive que fazer à clínica de dermatologia.
3- Aos 5 anos descobri que gostava de futebol e que queria ser um jogador.
4- Aos 5 anos e meio virei Corintiano.
5- Aos 6 comprei a fantasia do Grifon, do Esquadrão nipônico Changeman.
6- Aos 6 e meio quebrei o nariz achando que poderia atravessar uma pilastra de concreto.
7-Aos 7 ganhei a minha primeira pipa e logo a coloquei no alto. Infelizmente, um minuto e meio depois de colocar aquele pedaço de papel com o rosto da Hello Kitty no céu (presente da minha madrinha), vi a minha adorável pipa ser cortada e esquartejada. Chorei demais, fiquei inconsolável, peguei as duas mãos e as coloquei nos dois extremos da boca no intuito de estourar com tudo e fazer cessar a portentosa dor. Aprendi essa manobra com o fanfarrão Didi Mocó. (Devo fazer uma pequena observação. Ao saber que eu era um bebê do sexo masculino, os meus familiares ficaram completamente decepcionados, isso porque eles contavam com o nascimento de uma menina. Depois, eles fizeram de tudo, até mesmo com o consentimento do meu avô nazista e gigolô, para tentar me transformar em uma bichinha, ou até mesmo em um travequinho mirim. Por isso que a minha madrinha me presenteou com a adorável pipa da Hello Kitty.)
8- Aos 8 chorei com o gol do Viola na final do Campeonato Paulista de 1988. E, na mesma data, descobri que a história da cegonha era uma falcatrua. (Pai e mãe, mãe e pai, pai e tia, mãe e filho do zelador, opa, fechem a porta.)
9- Aos 9 virei fã do Vanilla Ice e tive uma séria infecção no couro cabeludo de tanto besuntar no meu cabelo gel das mais variadas marcas. O propósito que buscava para essa repentina excentricidade era o de edificar um topete ainda maior que o do meu ídolo.
10- Aos 9 anos e meio andava na rua com catapora, com 3 relógios em cada pulso (todos eles quebrados), camisa com a estampa do Sérgio Malandro fazendo glu-glu, e só uma parte da cabeça habitada por exíguos fios capilares.
11- Aos 10 virei fã do New Kid’s On The Block e a minha família finalmente achou que eu viraria gay.
12- Aos 11 me transformei em rebelde (muito antes dos rebeldes mexicanos), deixei o cabelo crescer, depilei uma sobrancelha (?), usava shortinhos de lycra pretos acima do joelho e bem próximos à virilha, bebia água no vasilhame de cerveja Malt 90 à guisa de me assemelhar ao meu mais novo ídolo, Axl Rose. Minha avó teve um infarto quando me viu trajando esses modelitos. “Um infarto de imensa alegria”, disse a minha avó – irmã do meu avô nazi-gigolô e tia-avó do meu primo paparazzi - estendendo a mão na minha direção para presentear-me com uma necessaire de esmaltes com as cores do arco-íris.
13- Aos 12 anos de idade, inesperadamente, comecei a gostar de Pagode, Patrícia Marx e Luis Caldas – essa última escolha muito comemorada pela minha família por motivos óbvios.
14- Aos 13 anos bati punheta pela primeira vez e gozei na mão.
15- Aos 14 anos de idade conheci o AC/DC, Sex Pistols, parei de tomar banho, parei de escovar os dentes, comecei a cuspir no próprio rosto em lugares públicos, deixei de limpar a bunda e, surpreendentemente, comecei a pegar mulher.
16- Aos 15 anos de idade comprei uma bateria, montei uma banda, continuei pegando muita mulher (a maioria eram monstros horrendos) e achei que seria o novo Neil Peart.
17- Aos 17 me apaixonei perdidamente pela primeira vez e tomei no cu

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cloaca PO(bre ou dre)P # 3

Perguntas que Gostaria de Fazer para Pessoas que Teriam Respostas para Me Satisfazer:

Pergunta:
Já que você odeia o cinema brasileiro contemporâneo, duramente criticado pelo senhor...
Resposta: Senhor? Eu só tenho 29 anos!
Pergunta: Desculpe, intui erroneamente a sua idade baseado na armação do seu óculos.
Resposta: Tudo bem, monsieur, deixa pra lá.
Pergunta: Voltamos à questão. Já que você odeia o cinema nacional contemporâneo, duramente criticado por você “pela excessiva dissecação do paradigma da miséria e pela glamourização do crime organizado”, qual o período do cinema brasileiro que você reconhece como o mais relevante da nossa história?
Resposta: A Pornochanchada!

Pergunta: Poxa, cara, o que você tem contra o rap?
Resposta: É uma música sem criatividade.
Pergunta: Mas você não foi o membro fundador do fã clube do Thee Butcher’s Orchestra?
Resposta: Fui.

Em 2004...
Resposta: O show do Mars Volta foi ridículo, puro teatro!
Pergunta: Qual foi melhor show da noite?
Resposta: Grenade, nossa, disparado, meu!
Pergunta: Você não é a assessora de imprensa deles?
Resposta: É, sou.

Resposta: As Panicats não são gostosas nem bonitas!
Pergunta: Tá falando sério?
Resposta: Nem a Flávia Alessandra!
Pergunta: Tá maluco?
Resposta: Nem a Dani Bananinha.
Pergunta: Virou bicha?
Resposta: Nem a Jennifer Connelly
Pergunta: Então quem é gostosa e bonita?
Resposta: Kim Deal, sempre Kim Deal, para sempre Kim Deal.

Resposta: Tira esse som, tira essa bosta, essa mina chata gritando!
Pergunta: Eu li uma entrevista do Strokes falando muito bem dela, sabia?
Resposta: Me empresta depois para eu ouvir melhor.

Pergunta: A senhora escreveu um livro acadêmico sobre os brasileiros que vivem em Portugal?
Resposta: Sim. O livro parte da problemática da premissa redutora que o ser pernóstico...
Pergunta: Tá bom, cala a boca! O que é um livro acadêmico?
Resposta: Ah, eu só tive que colocar o meu nome na capa. O resto é só citação.
Pergunta: Cópia?
Resposta: Magina...
Pergunta: Cópia acadêmica?
Resposta: Exato.

Resposta: Cara, cê só fica aí deitado, bebendo cerveja, fumando maconha, lendo livro, falando merda com esses teus amigo fracassado, discutindo futebol, assistindo filme do Kevin Smith, do Simon Pegg, do Scorcese... Sai desse mundo sem significado, seu idiota, vamo curtir a vida, conhecer pessoas diferentes...
Pergunta: Me deixa, caralho, cuida da tua vida... Por falar nisso, que dia é hoje?
Resposta: Sexta.
Pergunta: Vai pra onde?
Resposta: Pro Glória!

Pergunta: A Trama é boa pra música?
Resposta: Claro, rapaz. Criamos o site Trama Virtual, o programa da Trama, na rede Multishow, apoiamos o programa Radiola, na T.V Cultura, estimulamos o cenário independente por todo o Brasil...
Pergunta: A Trama é boa pra música?
Resposta: Claro, meu rapaz. Lançamos Wilson Simoninha, Max de Castro, Pedro Mariano, Jairzinho, Luciana Mello...

Resposta: Ler Chuck Palahniuk não faz de você um intelectual respeitável.
Pergunta: O que devo ler para ser considerado um intelectual respeitável?
Resposta: Ulysses, de James Joyce.
Pergunta: Já leu?
Resposta: Claro, meu querido.
Pergunta: Entendeu?
Resposta: Não.

Resposta: Ele me falou que eu sou ridícula, que não tenho o mínimo de carisma, que não possuo apelo comercial...
Pergunta: Sério? Ele falou isso mesmo pra você?
Resposta: Que eu sou feia, que a minha voz é horrível, que não consigo segurar uma nota...
Pergunta: O que mais?
Resposta: Que eu não tenho talento, não tenho criatividade, que pra sempre serei uma empacada...
Pergunta: Afinal, quem falou isso tudo pra você?
Resposta: Kiko Zambianchi.

Pergunta: Olá, seja bem-vinda, como vai você?
Resposta: Vou bem.
Pergunta: Cadê o seu namorado?
Resposta: Não pôde vir, surgiu um compromisso inadiável de última hora.
Pergunta: Você tá bem mesmo?
Resposta: Mais ou menos.
Pergunta: O que tá pegando?
Resposta: É o meu namorado, o Carlos...
Pergunta: O que foi que ele fez?
Resposta: Eu não gosto quando ele desmarca os compromissos em cima da hora. Agora vou ficar de vela de você e da Pietra.
Pergunta: Que nada, relaxa. Qual o compromisso inadiável que não permitiu que ele viesse?
Resposta: Foi jogar Magic com os amigos.

Pergunta: E essa?
Resposta: Já peguei.
Pergunta: E essa aí com o moletom desbotado do Epcot Center?
Resposta: Já pagou uma bubuca pra mim dentro do carro do Senzala.
Pergunta: E a loira bunduda?
Resposta: Dei só uns beijinhos. Beija mal.
Pergunta: E a morena peituda?
Resposta: Tirei a virgindade dela.
Pergunta: E a ruivinha sardenta?
Resposta: Comi ela e a mãe.
Pergunta: Ao mesmo tempo?
Resposta: Lógico. Fiz cada uma gozar três vezes!
Pergunta: E aquela ali que tá apoiada no vaso de barro?
Resposta: Tive um caso com ela durante dois meses. Inverno é foda.
Pergunta: A anã? Tu teve um caso com a anã do terceiro ano de geografia?
Resposta: Opa, peraí... caralho, me enganei... é mentira... confundi...

Pergunta: Você tem alguma informação oficial sobre os indicados ao prêmio Nabokov deste ano?
Resposta: Informação oficial eu não tenho, mas já sei quem vai ganhar.
Pergunta: Quem?
Resposta: Porra, o Marcelo Camelo.

Resposta: Corintiano é tudo ridículo, tudo sofredor, tudo cagão!
Pergunta: Torce pra quem?
Resposta: Pro Manchester United.
Pergunta: Você nasceu onde?
Resposta: Na Barra do Una, fica no litoral sul de São Paulo.
Pergunta: Tem um puta manguezal por lá, né?
Resposta: Tem, eu nasci bem ao lado do mangue, fiquei com cara toda melecada. Na verdade, ainda nem tem luz naquela porra.

Resposta: Fecha a porta!
Pergunta: E aí, o que aconteceu? Por que essa bagunça?
Resposta: Minha mina me deixou.
Pergunta: Por quê?
Resposta: Incompatibilidade de interesses.
Pergunta: O que você tá fazendo com essa caixa na mão?
Resposta: Vou jogar tudo que é dela fora. Começando pelos CD’s.
Pergunta: Ela não vai ficar brava?
Resposta: Eu quero que ela se foda. Se liga, me ajuda.
Pergunta: O que é isso?
Resposta: É o CD do Fugazi, uma bosta, é dela, pode jogar fora!
Pergunta: E esse?
Resposta: The Nudes, Pele. Também é dela, deve ser alguma coisa que o Pelé canta, música pra criança pobre e analfabeta, sei lá, eu não sabia que ela gostava do Pelé, aquela vaca sempre odiou futebol. Foda-se, joga fora!
Pergunta: E esse aqui com esse cara de boina?
Resposta: Bob Dylan. Parece música sertaneja. É um malandro tipo fanhoso. Também é da Elisa. Manda Pro lixo.
Pergunta: E esse do cara de correntão?
Resposta: Caralho, eu achei que tinha perdido este CD, gosto pra caralho desse cara, ele faz um som foda. Este disco é meu. A Elisa odiava este CD. Mas um motivo pra odiar aquela vaca! Bota pra rolar no som.
Pergunta: Qual é o nome desse cara do correntão que tu curte?
Resposta: Cabal.
Pergunta: Ele faz a sobrancelha, não faz?
Resposta: Tá louco, mano, o cara é sangue nos óio!

Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Revolução dos Bichos.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Veja
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Valor nutricional do Cebolitos.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: “Era Só Mais Um Silva: A História Do Funk Carioca”.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Cartaz de desaparecimento de um cão na primeira pessoa.
Pergunta: Foi o cão que escreveu?
Resposta: Parece que sim.
Pergunta: Como é?
Resposta: “Oi, eu sou o Fluffy, tenho dois aninhos e estou com a minha patinha esquerda quebrada. Sou macho, apesar do meu nome e da minha raça, pudoll, e há duas semanas estou longe de casa e com muito frio, fome e com saudades dos meus donos...

Resposta: Na minha adolescência, quando estava com os hormônios em ebulição e não podia alugar filme pornô na locadora, eu alugava Instinto Selvagem.
Pergunta: E hoje, se não tivesse internet, o que será que a molekadinha iria alugar para socar uma?
Resposta: Ken Park!

Resposta: Hoje eu fiquei pensando nas oscilações da existência e cheguei a uma reconfortante conclusão.
Pergunta: Qual?
Resposta: Até as coisas mais grotescas podem se tornar triunfos tão aprazíveis quanto um orgasmo fantástico que precede o mais belo pôr do sol.
Pergunta: Por exemplo?
Resposta: Kenny G versão Ska!
Resposta do que sempre pergunta: Pode crer.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O que é meu não é seu – mas pode ser


O primeiro livro que me causou angústia foi 1933 foi um ano ruim, do escritor norte-americano John Fante. A primeira música que me fez chorar - apesar de ser uma alegria só - foi Penny Lane, dos Beatles. O primeiro filme que me mostrou que a estupidez pode ser genial foi O Balconista, do Kevin Smith.
Basicamente, sou um homem angustiado, emotivo e estúpido. Na real, todo mundo é angustiado, emotivo e estúpido. Só as razões é que diferem. A famigerada particularidade.

Tenho um amigo. O nome dele é Flávio. A mãe o chama de Frávio. Nós o chamamos de Falcão. Falcão nasceu no interior de São Paulo, em Piracicaba. Falcão tirava foto sem camisa, só de cueca e colocava no Orkut. Falcão retocava o rosto cheio de espinhas no Photoshop para não queimar o seu filme com as garotas. Falcão fazia sessões de strip-tease na frente da web can. Falcão sonha em se tornar um ator pornô. Ele diz que o seu pinto mede 21 cm. O ator predileto de Falcão – tirando o mega star da pornografia Rocco Siffredi, que é hour concour – é o ex-lutador de luta livre The Rock.

Vicente nasceu pobre. Desde criança percebeu que preferia os meninos às meninas. A sua mãe era cega. Não porque não sabia de nada. Era cega porque não sabia que o céu era azul. Era cega porque não sabia o que era azul. Era cega porque nunca se viu no espelho. Era, porque se foi. Vicente virou bombeiro. Conheceu o mundo. Tornou-se um grande desenhista. Fez amigos na Itália. Fez amigos na Suécia. Fez amigos na África. Fez amigos em Vicente de Carvalho. Conhece a vida de Carmen Miranda como poucos. Conhece a minha mãe como poucos. Vicente é meu tio. Mas Vicente não é o meu tio de sangue. Embora eu o considere mais meu tio do que qualquer tio que tenha o meu sangue.

Aos nove anos de idade, Pietra ainda não tinha os incisivos centrais. Os dentes da frente. Imagine a Mônica sem a protuberância. Pronto. Pietra parecia uma indiazinha quando pequena. Mas Pietra cresceu rápido. Sempre a última da fila. A gostosona da turma. Pietra tem uma cicatriz na parte de dentro do tornozelo esquerdo. Tudo por culpa de um garoto. Decepção seguida de atropelamento. Duas cirurgias, sete pinos, seis meses engessada e a recompensa de se apaixonar doze anos depois: por mim.

Uns preferem tirar para colocar. Outros preferem fugir para se encontrar. Alguns não percebem que precisam sofrer para se apaixonar: por si mesmo, pela vida ou por alguém. Particularidades.







segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Praia (a minha, não do Alex Garland, muito menos a do Ian Mcewan

Acordar. Trocar de cama. Beijinhos e abraços matinais. O que era fofinho vira sacanagem. Não gosto quando acaba a sacanagem, quero mais, sou tarado. Minha namorada toma banho. Eu tento invadir o banheiro. Ela trancou a porta. Ela sai enrolada na toalha. Arremeto sobre ela. Ela foge e diz que talvez ela precise cortar o meu pinto. Me sinto o Michael Douglas. Vou para o banho. Saio do banho direto para a privada. Escorrego o moreno. Ou os morenos. Me troco. Ela já tá trocada mas não tá pronta. Escova no cabelo e liga o secador e arruma a franja: “Nossa, minha franja está horrível.” O cabelo dela é lindo. A cor, o comprimento, a forma como ele realça todo o rosto dela e ela faz questão de criticá-lo todo o santo dia. Será que a Jennifer Connelly não gosta da cor dos seus olhos? Será que a Scarlett Johansson está pensando seriamente em diminuir o tamanho daquelas enormes e suculentas tetas? (Que vulgar, tetas, não é? Sou um príncipe, não posso dizer uma coisa dessas.) Então ela vai ao refeitório e eu a acompanho só para fazer companhia mesmo. Ela pega mamão e suco de caju e faz um sanduíche de presunto com queijo e pega leite e coloca três colheres de Nescau e mexe a colher dentro da caneca e o barulho é tlec tlec tlec... Levantamos, vamos até o quarto e fuço dentro da minha mochila e arranco lá de dentro um pacote de bolacha recheada de chocolate Passatempo e abro o frigobar e pego uma Coca Ligth e digo como sempre digo e direi enquanto tiver saúde para expressar exaustivamente essa frase sem graça: “É o café dos campeões!”. Saímos do quarto, está um puta sol e desde que chegamos aqui não choveu e parece que não irá chover tão cedo. Vamos para o centro, à cidade, ao encontro do povo. Depois do primeiro dia, no qual voltamos a pé para a pousada, excluímos da nossa atividade atlética o único e solitário quesito: caminhar. Vamos de carro. Além de mais rápido, ainda podemos cantar “I Am The Walrus” inteira e metade de “Penny Lane” ou “Penny Lane” inteira e metade de “A Day In The Life” ou “A Day In The Life” inteira e metade do som dos pássaros e dos carros ou das pessoas porque a minha namorada já cansou de tanto “I Am The Walrus” e “Penny Lane” e “A Day In The Life”.
Estaciono sempre no mesmo lugar, em frente à praia feia, não, o nome da praia não é praia feia, é que ela é feia mesmo, toda praia é um inferno, o inferno é a praia, quer coisa mais repugnante do que ficar sob um sol de quarenta graus e se queimar todo e um bando de vendedores gritando no seu ouvido e batendo a porra da merda daquele arame na tábua e aí você se suja todo de areia e vai ao mar e o sal existente na água salga toda a pele e tira todo o gosmento protetor solar e ainda imerso na água você imagina o trabalho que dará ter que passar a merda daquele protetor solar novamente e você sai da água e a sua namorada ou a sua mãe - depende com quem você vai à praia - besunta aquela porcaria industrializada que provavelmente deve ser mais nociva do que o próprio sol e passa nas suas costas e no seu rosto e no peito e no braço e você permanece molhado e aquilo começa a grudar na pele e depois lembram de ter esquecido a toalha em casa ou no hotel ou na pousada ou no camping – depende se você mora na praia, não dentro, mas perto; depende da classe social que você faz parte, ou do seu estilo de vida, às vezes você é rico, mas se rebelou contra o sistema e gosta de acampar e curtir a natureza e parar de tomar banho e parar de lavar o rabo ou deixar mãos peludas alheias lavarem o seu rabo – e você está todo encharcado daquela água nojenta cheia de fezes e musgo e sangue de peixes mortos e urina podre e o sol inclemente bate nas costas e o protetor solar é quinze porque a sua namorada ou mãe ou amiga ou amante ou namorado – desculpa, mas não sei bem quem está lendo este texto – não é altruísta o bastante e nem suficientemente inteligente para intuir que você não é nada brasileiro, principalmente de espírito, e parece mais um urso polar manso porém mal-humorado, às vezes brincalhão, sobretudo quando está tomando uma cerveja em um local fechado e frio, e precisa de um protetor solar número trinta, quarenta, cinqüenta mil, e você sabe que a imaginação é inimiga da perfeição e quando está tudo mais que perfeito é que a imaginação está mentindo pra você, e então você começa a imaginar a insônia que você terá devido à ardência insuportável que as suas costas – parecem chamas, parecem chamas, fogo!, fogo!, fogo! -, os seus braços, o seu rosto, todo todo todo o seu corpo irá sofrer depois de passar algumas horas sendo tostado pelo sol e para cagar um pouco mais a situação a sua namorada ou a sua mãe ou o seu amante ou o seu amigo, colorido ou não, ou a sua avó ou o seu irmão ou o seu dinossauro o informa que, embora a praia esteja linda, a vida é bela, as crianças já dizem mamãe, o vovô já se curou da hemorróida, esquecemos de trazer à praia o guarda-sol e tá tanto calor, tanto calor, você pensa até em morrer, começa a sentir saudades do Alaska para o qual você nunca foi, começa a xingar o Brasil por ser um país tropical e calorento e chega à inevitável e infeliz conclusão de que você precisa entrar mais uma vez no mar para se refrescar só um pouquinho, porque nesse calor não dá, não dá mesmo, não dá pra respirar, sorrir, viver... E você sai correndo que nem uma gazela bicolor e cai de barriga na água e mete a boca sem querer em um pedaço de fezes extirpado do ânus de uma criança cheia de brotoejas e você brada em direção aos céus, urra em direção ao sol da mesma forma que urra o lobo em direção à lua cheia, e o sal de novo está impregnado no seu corpo e o calor piora vertiginosamente e o sol queima e queima, “não, não precisa acender o cigarro no isqueiro, pode acender nas minhas costas, caralho!”, e você não quer mais protetor solar, não quer mais praia, não quer ver mais gostosas de biquíni sorridentes, pessoas despencando do banana-boat, vendedores gritando, vendedores vestidos de Pokemon naquele puta calor, “Deus, como será que eles conseguem”, não quer mais cerveja, tira esse limão daqui, não tem guarda sol, não tem guarda sol, eu não posso, não, eu não posso deitar na areia, mas deita, deita molhado para fuder com tudo e principalmente com você, e a água gruda na areia que gruda na água que vira lama que entra em contato com o sol e com a pele e com a bunda e você já se transformou em um bife à milanesa e está empanado e se encontra pronto para morrer!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sobre Santos e Demônios - a crítica cinematográfica não precisa se perpetuar no seu insosso tratado filosófico hermeticamente imbecil


Sente a vibe. A positividade da vibe positiva. As bolhas nascendo sob os seus pés. A inevitabilidade do saudosismo. A marofa da maconha fritando os neurônios de algum fã do Ney Matogrosso. Pode ser também do Planta e Raiz. Pode encontrar aquele cara em algum ritual da Bola de Neve. Ouvirá histórias do muleke brother do surf que traficava ecstasy prum bando de playboy lá na Ponta da Praia e agora, graças ao senhor antes de tudo, e também graças ao ex-cliente, ex-viciado em crack, ex-cleptomaníaco e ex-vândalo que pichava desgostos sob a vista grossa dos magricelas novos ricos que, indiretamente, estão envolvidos com o entretenimento de todos nós, encontrou o caminho da salvação seguindo os passos do Jesus Cristinho. É familiar a história do menino de classe-média de olhos claros e cabelos lisos queimados pelo sol e pela parafina que foi encontrado sem a cabeça e com o corpo imerso no fundo do rio com as costas cravejadas por três tiros de calibre doze? – quem viu conta que dava para ver realmente atravéeeeeessss dele. Lá se pode encontrar também o homem que tomou tanto tiro que ficou conhecido como Peneira. O rapaz que teve que fugir de madrugada da cidade por ter sido flagrado em um vídeo pornô sendo sodomizado enquanto mordia o tronco grosso de uma árvore centenária. O garotinho que teve o rosto deformado pelo fogo e que é municipalmente conhecido como Churrasquinho. O retardado que jogou uma cobra de borracha, “só quis brincar, porra!”, sobre uma mulher grávida que acabou perdendo o bebê meses depois. O menino que perdeu a vida por causa de uma vida. O menino que perdeu a vida por causa de uma pipa. O menino que perdeu a vida e a pipa. O menino que perdeu a vida por causa de uma mina. O menino que perdeu a pica. O menino que perdeu a pipa, o pai, a mãe, os irmãos, o sorriso, o namorado, a virgindade anal, mas que ainda não perdeu a vida nem a pica que não se encaixou bem para o seu gosto pleno de heterofobia. “Me alembro duns mininu que vinha até aqui na locadora alugá ‘Instintu Selvage’ purque num tinha idade para alugá fita de sacanagi.” Falava-se mixa. Dizia-se (ainda se diz) fita. Puli ou pule. Cagibrina ou Catirela. “A minha prima disse que o cara que mora no 715 é mó ‘bomba fofo’”. Há anos existia um cumprimento diferente, um toque - “um toca aqui, tá ligado?” – para cada bairro diferente. Havia uma padaria que era o ponto de encontro de todos os jovens da cidade. Dava pra se embriagar dentro do “ainda único” shopping e esperar ser expulso pelos seguranças. Dava pra ver as minas bêbadas mijando na praia. Olha que às vezes ocorria a situação (ou o clamor) em que os garotos tiravam (não havia força, havia até colaboração) as calças das meninas e cheiravam as suas calcinhas e pediam para elas chuparem o pau deles e algumas chupavam, outras não, outras falavam “que nojo”, outras saiam correndo, gritando, havia certa alegria ninfomaníaca naqueles rostos, outras mordiam o pau dos caras e os deixavam sangrando estatelados na areia áspera do arrependimento. Jovens ficavam na rua até tarde, andando de skate, magros pela ausência de cerveja, pinga!, pinga!, pinga!, gin!, lançando bicicletas desprovidas de quem as conduzisse nos cruzamentos atolados de carros a 80 Km por alguns segundos, caia pra 70, caia a noite e chegava a 120, alguns sem os faróis ligados, a brincadeira da roleta-russa que nunca acabou em tragédia, não havia radares tendenciosos, bafômetros inexoráveis, havia muros para serem derrubados, pneus para serem gastos, encontros em postos de gasolina a serem explorados, porta-malas a serem abertos, sons para serem exteriorizados, desafiados, madrugadas para serem perdidas em frente à televisão, zapeando imagens oleosas da Flipside Video de tantas batatas fritas com gosto de isopor. Ainda continua vivo o cachorro chamado Sabbath? O que é melhor: hardcore melódico ou old school? New York Hardcore ou Venice Beach Hardcore? Jello Biafra ou Ian Mackaye? Beastie Boys ou Wu - Tang Clan? 7 Seconds ou Black Flag? Metallica ou Pantera? NOFX ou Pennywise? A ala A do lado B do prédio C responde: “NOFX, lógico.” AC/DC ou Guns And Roses?
O currículo consta somente que ele jogou Nintendo a vida toda e namorou a menina que acreditava que o mundo era reto. A biografia denuncia de maneira pungente que ele adquiriu autoconhecimento quando se apaixonou perdidamente e ficou perdidamente perdido por ter perdido objeto de sua paixão. A história de vida mostra que ele roubou a namorada de um cara que reconquistou a namorada que ele havia roubado reconquistando assim a namorada que antes era do cara depois dele depois do cara e agora de novo dele provocando uma fúria cega no cara que anos depois inexplicavelmente o acabou salvando da morte o segurando quando o corrimão de ferro cedeu e todas as pessoas caíram e seis pessoas morreram esmagadas pisoteadas afogadas sem o auxílio da água e ele (o cara que havia perdido a primeira vez) que havia perdido recuperado perdido e jurado que seria eternamente inimigo do homem que roubou o seu amor “por enquanto” para sempre provou que animal que se julga indelevelmente ferido acaba por acabar a ceder à bondade inerente característica dos falsos homens durões que mesmo traídos salvam a vida dos seus inimigos.
Santos e Demônios é isso. Saudades multifacetadas, arrependimentos inevitáveis e reencontro com a dor.
O pouco de você que existia no passado. O pouco de todos nós que existe hoje.

PS: Não se perdia tempo analisando o quão estupidamente estúpidos iríamos nos achar no futuro por passarmos graxa no rosto e cuspirmos na própria cara. Na nossa própria, sem sócios, cara!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Brasil: Terra em que Mallu Magalhães é rainha, Kanye West é plebeu e Alex Atala, ahã, punk


“Ela é tão gostosa e eu sou tão pobre.” Bem que esta frase poderia ter saído da boca de John Fante. Contudo, ela foi proferida por alguém bem menos célebre e muito menos genial: Guilherme, o meu infame amigo Calafrango, pobre terceiromundista médio que gosta de Merlot e garotas escandinavas. Nem preciso dizer que ele jamais provou um Merlot e muito menos uma garota escandinava. Calafrango é o protótipo do tarado parcamente assalariado com complexo de Hugh Hefner. O cara que acha que merece ter sangue azul mas já se acostumou com insosso sabor do Sangue de Boi.
Creio que muitas pessoas nessa multifacetada república varonil carregam o mesmo fardo no coração. No meu caso, por exemplo, ele se manifesta na temporada de festivais nacionais com atrações internacionais. Quem mandou gostar de Bob Dylan e Kanye West e só ter bala para assistir ao show do Biafra, sem banda de apoio, nas bodas de prata de sua tia Consórcio (péssimo nome e péssimo gosto, Biafra no playback)?
Li o que escreveram. Escreveram que o show do Kanye West foi péssimo. E quem escreveu escutou o CD da Mallu Magalhães e achou bom. Então chego à tenebrosa conclusão que em terra onde Mallu Magalhães é rainha e Kanye West é plebeu, Alex Atala deve ser punk!
Impossível ir ao show. O valor de duzentos e cinqüenta reais está fora da realidade de qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico (e com o mínimo de salário mínimo). Sei que dinheiro é só dinheiro. Mas existem premências que só o dinheiro é capaz de comprar. Gasolina, cerveja, o novo laptop, viajar cinco horas à nova morada da namorada, livros, DVD’s, cerveja...
As mentes geradoras do TIM Festival superestimaram o sucesso das outras edições e subestimaram as carências do público. Há dois anos atrás, no Rio de Janeiro, paguei sessenta reais para assistir às apresentações do Beastie Boy’s, DJ Shadow e Instituto. Saldo: tendas lotadas, pessoas felizes, público mais tolerante quanto à qualidade do som, cervejas consumidas em demasia, meninas mais assanhadas, sexo à vista (para os outros, lógico) e momentos inesquecíveis a contar à província (aqui) e respectivamente aos amigos provincianos.
Entretanto, neste ano, baseado, com extensas ressalvas, nas confissões da crítica neo-indie, o que se viu foi um imenso vácuo. Entre artista e público (pessoas que conversavam durante os shows sem se importar com o esforço do artista que tocava para uma audiência caracterizada em sua maioria pelo trivial defeito adquirido em vida de possuir no lugar do cérebro o mais fétido entulho cognitivo); entre organização e público (o público, em sua maioria, reconheceu que não era o fim do mundo, mas o fim do mês, e decidiu não comparecer); entre organização e organização (há uma terceira organização chamada (des)organização); entre os credenciados apreciadores de electrorocktransformista e os diletantes sem padrinhos (bom gosto é o gosto de que gosta de alguma coisa. Gosto não se discute, qualidade, sim. Se um fã de Tchakabum considerar Tortoise uma merda, ele é burro. Se há alguém que considera Peter Doherty um gênio, ele é o Lúcio Ribeiro).
Quem sabe no próximo ano a coisa muda de figura, mas não de preço. Então teremos que comer a mulher do nosso irmão, roubar o negócio da família, matar o nosso traficante, matar a nossa mãe e fuder com a vida do nosso pai para podermos ter dinheiro para curtir o show-retorno do Dismemberment Plan (imagina, Daniel, imagina, cara, só imagina, porque é o máximo que nós podemos fazer) no Tim Festival.
(Se não entendeu, assista Antes Que O Diabo Saiba Que Você Está Morto.)

QVAALV (Quando você acha que acabou, lá vem!) : O que vocês acham da organização do Tim Festival convidar o Bolinho, agora vegetariano - haja árvore para manter esse corpinho brilhantemente esculpido pela mesma dieta que assassinou John Candy - para dar um basta nessa bagunça desnorteada e organizar a próxima edição do festival?





segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As gostosas da sétima série são as gordas eternamente grávidas do agora


Eu estudava em um colégio particular com o distinto conforto de um colégio estadual. Na sétima série a classe tinha 63 alunos. 60% composto por mulheres. A maioria dessas meninas era mais danada do que o mais testosteronico dos homens. Metade da ala masculina era composta por micro-criminosos (pichadores, cheiradores de cola, de benzina, adeptos da erva do Bob dos Marley, ladrões de refrigerante, alcoólatras pueris, fãs de Marcelo D2, espancadores de mulher, sonhadores em busca da dádiva da pós-graduação do estupro, afogadores de gordinhos nerds que, no primeiro momento, não passavam cola a eles, mas depois de apanharem bastante, sofrerem bastante, prostravam-se como prostitutas regeneradas pelos braços gordos, suarentos, dourados, de um ex-cliente bem feitor). A outra metade era substancialmente heterogênea – nerds chatos, nerds legais, gargalhadores que até babavam em suas ridículas jardineiras, orelhudos patinadores, desafortunados de língua presa, míopes sem sorte nos esportes, narigudos e orelhudos, obesos gentis, obesos efeminados, ingênuos que se achavam o máximo por irem à escola de mobilete, aspirantes a valentões protometrossexuais, filhos de dono de padaria com halitose, assinantes incógnitos de revista de mulher pelada das mais variadas, orelhudo e narigudo e gordo e com o rosto atulhado de espinhas amareladas, e magrinho cabeçudo inusitadamente bom nos esportes, amigo dos nerds legais, respeitado pelos nerds crápulas, estimado pelos valentões, incompreendido pelos professores, companheiro dos feios, conselheiro dos anormais, mediador das diferenças, por um semestre adorado pelas mulheres, por outro sumariamente odiado pelas vacas; ou seja, falo de mim mesmo.
Em circunstâncias normais, não era para eu estar naquilo que se tornou o maior pandemônio na história da Escola Adélia Camargo Corrêa. Antes, havia reprovado dois anos em outras instituições. No colégio Alfa, exemplo de ensino elitista guarujaense, onde se tinha que levar papel higiênico da própria casa, senão teria que flanar pelo suntuoso pátio com a bunda suja, me fodi na quinta série, em quase todas as matérias, menos em educação física; e no Don Domênico, reduto dos playboys enfurecidos por serem playboys, que cometiam atos ignominiosos tais como a deglutição das próprias unhas ao vivo, a extirpação de espinhas sanguinolentas contra paredes quase translúcidas e a audácia de conceberem respostas invariavelmente ofensivas que visavam professoras corcundas de história que possuíam laços familiares estreitos com Platão, Aristóteles e o machão do Sócrates, me estrepei na sexta série, em matemática e geometria.
Segundo o método criado pelos meus pais, por meio do qual a minha incompetência era julgada sem compaixão e com requintes de crueldade, eu teria que mudar de colégio a cada vez que fosse reprovado – com a atenuante condição de ter que fazer as malas somente a escolas particulares, pois eles tinham medo da triste possibilidade de seu querido rebento tratado a pão de ló ser esfaqueado ou currado por um bando de pré-adolescentes selvagens. Outro quesito desse método era que, embora eu fosse aportar em mais uma instituição particular com o meu rosto angelicalmente corado, obrigatoriamente seria matriculado em uma versão menos bem sucedida que a antecessora. Em outras palavras, não faria mais trabalhos escolares com herdeiros de políticos, mães platinadas peitudonas não escutariam mais o meu tímido mas sensual sibilar as agradecendo pelo rocambolesco lanche da tarde, e a melhor notícia de todas é que não haveria mais necessidade em me apaixonar por garotas impossíveis, intocáveis, musas sem defeitos – à época desconhecia o fato que a falta de idéias é um câncer grave que concebe fracassos e se alimenta da própria criação.
Toda a paz e respeito que adquiri na sétima série talvez tenha sido uma recompensa pelos sucessivos e intermináveis anos em que sofri nas mãos de crianças grandes papudas de unhas sujas que por meio da violência minimizavam o seu diligentemente atualizado acúmulo de desventuras sociais. Recebi o meu primeiro soco na cara muito antes do primeiro beijo. Vi amigos atolados na espécie mais cruel de subordinação. Guarujá é tão pequena que não faltam ocasiões para esbarrar fisicamente no outrora diabo dos seus pesadelos. Eles mastigam de boca aberta enquanto saúdam amantes contratadas num esforço sobre-humano de infundirem discrição na inevitável brusquidão dos seus gestos. Nas bolsas de aposta são favoritos absolutos a terem o próximo ataque fulminante nos intumescidos corações gordurosos. Não falam, cospem. Não abraçam, esmagam. Não lembram, esquecem. Ao contrário delas, suas sempre atuais - estava escrito nas estrelas - esposas chifrudas, aquelas coitadas que inspiram compaixão alheia tamanho o descontrole absoluto das crianças que se agarram histéricas em suas roupas de grife já alargadas pelas mãozinhas geneticamente ignóbeis. Elas, as cornas permanentes que insistem em evocar o passado glorioso repleto de luxúria e intransigência, jamais esquecerão da ensolarada adolescência. Jamais intuirão que os verões noventinos eram mais claustrofóbicos do que os verões atuais. Elas reviram minuciosamente álbuns de fotografia em busca de consolo. Não invejam as amigas porque essas estão em pior situação. Provam freneticamente as roupas que caiam tão bem há alguns anos atrás, nem são tantos anos assim, e que agora as banhas fazem questão de estragar derramando os funestos tecidos adiposos sobre os fechos antes vistos pelos inúmeros ávidos rapazes como a única porta capaz de se comparar à exultante sensação de conquistar a Copa do Mundo.
Paloma me viu e fez questão de rolar o corpanzil redondo em minha direção. Olhou nos meus olhos com olhar explícito de expectativa. Enfim a chance tão sonhada de poder cruzar o limiar em direção à máquina do tempo. Um passo pra trás em busca do progresso. Fisicamente eu não mudei nada. Ela sabe disso mais do que ninguém. O único consolo nutrido pela circunferência ambulante é a possibilidade de não ter havido uma alteração drástica na minha risível personalidade inocente. Ela espera elogios. Não se pergunta como porque está excepcionalmente interrompida a inclemente visão auto-crítica que nutre sobre si mesma à base de muito açúcar, sal, pizza, batata-frita, ausência de orgasmo, perda de fôlego, curso por correspondência de interpretação dramática em prol do fingimento em pleno ato de fornicação, duas horas diárias de desfalecimento acompanhados de sonoras flatulências e estertores modelo porco e ingestão de suor azedo com pitadas de pêlos descoloridos e pentelhos companheiros saudosistas de órgãos genitais invisíveis... Não a vi chegando até mim. Vi gotas de suor sobre sua testa. Vi uma torrente de suor sobre os seus braços. Não vi o seu pescoço. Ilustrei internamente o fato de poder tocar os seus seios com o dedão do meu pé. Conjeturei pleno de certeza a visão patética que deve ter sido o percurso de sua maratona em busca da linha chegada (eu). Conjeturei a triste empertigada corporal no apoteótico, não menos grotesco, intuito de empinar a geleienta comissão de frente repleta de atrativos similares a uma esparramada ilha desmatada, ausente de turistas, famosa pelo seu passado e devastada por antigos homens que usaram, abusaram e sugaram todos os belos atributos naturais a tornando um ambiente digno de pena. Conjeturei os bastidores, a pré-balada, as palavras saindo da boca do marido, o esposo calvo, ele era mais bonito, ele era o mais bonito, o bafo de cebola se intensificando à medida em que se aproximava à boca da mulher, que já foi tão linda, que só com o olhar era capaz de escravizar uma legião de garotos sôfregos, e hoje tem opacas olheiras escondendo os olhos esverdeados, o semblante extenuado de tanta amamentação, de limpar merda fresca, de carregar trinta quilos em cada braço, de ter que fugir desesperadamente de lugares públicos devido à abertura do berreiro dos seus fofos herdeiros que destruíram de vez a sua vida, mas ela os ama tanto, mesmo quando pede a Deus para acordar no dia seguinte com 15 anos de idade, livre de tudo, cheia de esperança, prometendo a si mesma não cometer os mesmos erros, já que ela conheceu o futuro e não gostou de nada do que viu lá, principalmente ao se olhar no espelho e se impressionar por se reconhecer em um corpo de dirigível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cloaca PO(dre ou bre)P

“Se escutar Pitty é sinônimo de bom gosto, então definitivamente nós estamos fudidos!”
Ernest Hemingway, do além-túmulo.

O VMB (Visível Merda Brasileira) é um prêmio-festa-freakshow-TV Fama que estimula o pior que a cultura brasileira tem de pior (muito além da redundância) na mente das pobres almas ignorantes que são nada mais nada menos (“e a vírgula?”, questiona Professor Pasquale) que o desventurado e raquítico (na verdade a maioria deles está até bem acima do peso, mas me refiro aos anoréxicos de intelecto, embora não aprecie 100% esta palavra) tropel adolescente que, infelizmente, se afunda cada dia mais nessa merda movediça desconhecida mundialmente (acorda, Cansei De Ser Sexy, nisso, só nisso, concordo com o Álvaro Pereba Júnior da Sandy de Moicano) como mundinho pop/fashion/alternativo/risível/irritante/cancerígeno tupiniquim.
(Se te irrita as minhas “digressões”... dez segundos para consultar o dicionário. Cinco, quatro, três, dois, um, zero. Se te irrita os meus desvios, minhas divagações, minhas constantes tentativas de desviá-lo do assunto, o meu abandono do dever de guiá-lo pelo caminho mais seguro – então, aprendeu? -, vai ler o diário de confissões cor de rosa-choque da Mari Moon ou a profunda mensagem subliminar demoníaca encontrada nas letras da assopradora de cata-vento e unabomber de bolinhas de sabão, Malu Magalhães.)
A Mtivi ou Mtêve surgiu no Brasil em 1990. Nasceu nos Estados Unidos no começo da década de 80, e, quando aportou aqui (com uma bicuda bem no meio da bola esquerda do meu saco dado pela Marina Lima), já era bastante criticada lá fora pelos “artistas” (nem todos eram, mas criticavam, critique você também) devido ao desserviço que prestava à música – leia-se Snap, que hoje é cult; Milli Vanilli, dupla de não-cantores que se viu livre desde o começo do pior falso elogio perpetrado pelos onanistas ambidestros musicais, ou seja, de banda honesta!; Poison, banda de idéia deveras contrária ao Poison Idea; Extreme, extremamente gay; Right Said Fred, o do “I’m Too Sex’y”, o grupo mais macho entre os skinheads; Madonna, menina que amarfanhou o vestido de noiva um século depois de Madame Bovary amarfanhar o seu vestido de uma forma que podemos classificar de quase ostensiva ao descer da carruagem após entrar para o clube das danadinhas; menina (ainda Madonna) que beijou o Santo Antônio milhares de anos depois de Édipo comer a própria mãe; menina (a mulher do Guy Richie) que gravou um disco gemendo, fingindo orgasmo, embalada por uma batida tão envolvente quanto o melhor sucesso das sensoriais canções de elevador, pelo menos vinte anos depois de Serge Gainsbourg e a deliciosa Jane Birkin gravarem Je Taime; menina (a de Procura-se Susan Desesperadamente, rsrsrsrsr) que fez os nossos hermanos vomitarem ao interpretar Evita Perón, e que depois os quase obrigou a cometerem suicídio coletivo ao cantar a Celinedionesca “Don’t Cry For Me Argentina”, e que com toda a certeza os deve ter enchido de um gigantesco orgulho ao cantá-la na língua mãe dos seus piores inimigos históricos: os ingleses; menina (a Cindy Lauper é a outra) que depois de mostrar a língua para as estáticas santidades religiosas (de modo muito mais suave que Sinead O’ Connor, que rasgou a foto do Papa no programa Saturday Night Live, atitude bastante compreensível vinda de uma pessoa que foi estuprada pela própria mãe na infância), resolveu abarcar a Cabala com todo o amor (lembrem-se, esta frase virará uma camiseta, Tim$$$ Tim$$$, assim espero, que “Toda religião é uma forma de preconceito”); garota (continuo na vaca) materialista que em matéria de recepção de semens de porcos engravatados (Motolla’s, Geffen’s) e cúmplices (Timbaland, Justin Timberlake, Pharrel Williams, Orbit, outros produtores altruístas que compõe tudo mas se abstém de colocar os nomes nos créditos, fãs estúpidos, v j’s estúpidos, jabás espúrios, excelentes dançarinos) que ao longo dos anos moldaram (e ainda moldam) o (dela) talento da mulher considerada arauto da cultura PO(dre ou bre)P que, depois de tanta rôla e falsa subversão, lança livros infantis e adota crianças africanas/asiáticas mais de meio século depois de Gandhi transformar uma nação com inteligência, jejum, paz, sacrifício, falta de roupa, de paparazzis, de dinheiro, de sexo e nem por isso ficar se gabando ($$$$$$$$$$) por ter feito o bem!
O modelo de confronto que vem julgando à exaustão as qualidades de uma manifestação artística para todo o sempre é a tão controversa “guerra das gerações”. E jamais pude intuir que em determinado momento da minha existência eu seria tão parecido com a geração que me precedeu ao que se refere à observação desgostosa que venho dirigindo sem escrúpulos à presente defasagem criativa divulgada 23 horas e 45 segundos por dia pela MTV Brasil.
A própria Music Television Brazillis está bem conformada (confortável?) em seus aposentos de cabelos coloridos e adereços vintage (o vintage é o novo, apesar de ser velho, moderno – alguma similaridade com os novos rock hypers?) a ser um mero reflexo (o principal palanque para falsos pastores) de toda podridão insossa que é a nossa cultura “jovem” brasileira. Evidente que seria irresponsabilidade somente culpar a MTV por todo o mal do mundo, porém, cá entre nós, qualquer cidadão (com o mínimo de vergonha na cara e resistência na dificultosa crença do amor ao próximo que sofre com a incapacidade do próximo) filho desse território verde/amarelo que rebola sem nenhum motivo pertinente se tornaria/tornou colérico ao ouvir/ver a porra de um VJ batizado Rafa – uma figura lânguida, disforme, incoerente, destituída de qualquer propriedade confiável – a me dizer o que devo ou não escutar nos “meus” fones de ouvido! Antes tínhamos Fábio Massari, Lado B todos os domingos, entrevistas e performances de Rocket From The Crypt, Superchunk, Seaweed, Lou Reed, Pavement, Man Or Astro Man, Atari Teenage Riot, Bob Mould, Henry Rollins e Beastie Boys (para não ser injusto, devo ressaltar que o próprio Rafa já entrevistou os Beastie Boys em Nova Iorque em ocasião do lançamento do Cd To The Five Boroughs. O tino musical do cara é tão eficaz que ele presenteou o trio nova iorquino com um vinil do... Legião Urbana! Qual faculdade mental tem esse rapaz para supor que os Beastie Boys iriam apreciar o som da banda capitaneada pelo compositor de Eduardo e Mônica?); MTV Rap, Amp, cobertura maciça dos festivais alternativos nacionais e dos grandes festivais internacionais, Gastão e o Fúria Metal; Cazé e o Teleguiado; e muitos outros fatores que concederam à MTV à época o título de emissora inovadora, não só pelo modo como mostrava o que estava sendo realizado no país e no exterior em matéria de música e comportamento, mas também pela revolução estética que imprimiu à televisão brasileira.
E hoje, o que ela tem a nos oferecer, além do Rafa, que atualmente nos encanta com sua banda e com as suas novas descobertas musicais divulgadas na internet (Pasmen!)?
O compêndio do que a MTV Brasil representa, traduz e estimula nessa terrível geração pode ser visto em sua premiação anual intitulada VMB. Eu estava em casa sem nada para fazer (caso contrário não estaria traumatizado e furioso e nem tamborilando os meus dedos avidamente nas teclas deste computador igualmente temperamental) quando no meio do caminho do zap zap tão elementar na nossa sociedade do espetáculo que não passa nenhum espetáculo digno de nota (alta) me deparei com a abertura (por que não o fim?) do tão propalado evento que, depois de tortuosas três horas em que me segurei à cama superando todas as minhas capacidades físicas e psíquicas mantendo os meus olhos na direção da caixa de fazer ineptos produzida por in(s)eptos com sorte, acabou despertando no cerne do meu ser imberbe (é, ainda imberbe) a lembrança mais traumática que essa vida sem riscos foi capaz engendrar: o período em que as espinhas se transformaram no meu rosto, tendo como único consolo o fato de não necessitar de uma - máscara (porque já desenvolvera naturalmente o infortúnio facial) para arrasar, embora não no baile de máscaras (porque nesse seria peremptoriamente excomungado), mas sim na festa do Halloween. Ver o capeta ao dar uma simples olhadela no espelho não fez de mim (moi) alguém agradecido pelo surgimento do peeling e do Roacutan. Andar com rosto amarelo em lugares públicos, tal como enfermos com hepatite e TarsosdeCastros com avarias irreversíveis no fígado, fez brotar na minha testa a intermitente insígnia “No Future!”, que voltou à tona, inesperadamente, logo depois que o Bonde do Rolê arremessou por todos os dar(LA)dos a sua performance sorvete na testa tão engraçada quanto o infeliz que se acha engraçado por colocar a música do He-Man, executada pelo Trem da Alegria, em alguma festa propícia a receber idiotas dessa estirpe.
A MTV Brasil conclama você, garoto e garota, ou garoto que acha que é garota, ou garota que acha que é garoto que gosta de garota e de garoto com outra garota pra fazer um ménage à trois, de 12, 13, 14, 15 anos de idade e sem restrições ao acesso às constantes (“só de piscar já envelheceu;” “olhou pro lado, manda pru lixo”) novas ondas tecnológicas, a participar do falso bacanal, do falso desbunde (desbunde: termo muito usado nos anos 70 para classificar o homo sapiens que gosta de chocar a situação careta que faz careta ao observar a careta do insurgente que não gosta de “caretas”. Ex: Fernando Gabeira andando pelas praias cariocas com uma sunga sugada pelo rabo e envolvido pela dúbia e geométrica bandeira verde e amarela), do falso resgate da liberdade sexual, da falsa adoração falsamente extravasada por meio do falso derramamento de falsas lágrimas de propriedade de falsos fãs de falsas bandas com falsas mensagens com falsos instrumentos que peidam falsas canções; dos falsos apresentadores que contam falsas piadas que provocam falsas risadas, dos falsos agradecimentos pelo recebimento de falsos troféus entregues por falsas mãos; das falsas atrações internacionais que falsamente tocam ao vivo falsas encenações para uma falsa platéia que vaia falsamente a falsa banda que é um falso hype; dos falsos anões que disseminam falsas danças em falsos quadrados em falsos blogs com falsos Kibes e falsa Loucura em meio a falsas mulheres com falsos seios que desprendem falsos aromas de falsas frutas minuciosamente alteradas por tóxicos cirurgiões pagos pelas falsas chupetinhas das falsas mesmas; dos falsos tapetes vermelhos repletos de falsos entrevistadores com falsos microfones revestidos por falsas espumas com falsas opiniões sobre estrelas mort... falsas; das verdadeiras constatações da falsidade de falsos artistas de uma falsa nação que tem mais falsa popularidade em uma outra falsa terra em um outro falso continente que com uma falsa releitura de uma falsa madame com falsos modos falsamente anárquicos que falsamente parece um Tony Tornado em extrema/verdadeira baranguês ao lado de um falso Jaime Balilo verdadeiramente boiola; dos verdadeiros Adnet’s e verdadeiros Kiabos e verdadeiros Hermes e verdadeiros Renatos e verdadeiros Boças e verdadeiros Massacrations e verdadeiros Gils Brothers verdadeiramente espremidos por falsos Mions, por falsos Mionzinhos, por falsos tios com nome de lobo que usam o ~ no próprio falso nome para dar ao seu falso verdadeiro execrável aspecto mais falsa credibilidade para as falsas gerações que acreditam nos seus falsos gestos de asserção.
Portanto, estejam falsamente convidados a aderir a um falso estilo de vida promovido e concebido por falsas mentes que o deixam falsamente à vontade para com falsa liberdade considerá-los como (falsos) amigos!

QVAALV (Quando você acha que acabou, lá vem!) : Todos elogiam a festa pós VMB, sobretudo as pessoas que nunca foram.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

FLIP - Festa Literária Impenetrável de Paraty

(Em todo o mês de julho, desde 2003, rola em Paraty a Flip, que é a Festa Literária Internacional de Paraty. Durante cinco dias, dezenas de escritores, de várias partes do mundo, se encontram, dão palestras, dão autógrafos, dão entrevistas, dão vexame por extrapolarem na quantidade de cachaça, dão a bunda – nem todos – dão uma de antipáticos e dão sono quando a palestra é uma porcaria. Sei que estamos em outubro, sei que o negócio aconteceu há três meses atrás, mas foda-se, eu já tinha escrito essa porra e só agora estou tendo a chance publicá-la.
O diferencial da minha cobertura em comparação às outras coberturas é que, além de minha cobertura não ser de luxo, ela dá vazão a algo absolutamente discriminado por quase todos os veículos voltados ao mundo artístico: a subjetividade! Além do mais, prefiro descrever as coisas à minha volta, observar as pessoas que vão para esse tipo de evento e esquecer os donos da festa, ou seja, os escritores. Se você está esperando análises mirabolantes sobre palestras e livros, como diria Gavião, meu grande amigo e mestre da retórica: “Perde, Ladrã!” – se engana quem pensa que ele é francês, ele é só um pouco equivocado.
Esqueça a Cult, a Piauí, a Cultura, a Paula Picarelli - se quiser, pode lembrar dela no chuveiro -, a Bravo ou qualquer outra publicação subversiva patrocinada pelo Unibanco - ou Salles Family. Este blog - ou qualquer que seja o modo que você, caro leitor, cara leitora, caro leiteiro, queira denominá-lo - publicará textos no intervalo de cinco a sete dias. Portanto, até domingo ou terça. I say goodbye, you say hello. Hello, Hello. Goodbye e amén.)



Não consegui nenhum ingresso à Tenda dos Autores porque antes mesmo do início da venda dos ingressos não havia mais ingressos.

Me inscrevi à oficina de roteiros oferecida pela Flip, ministrada pelo diretor e roteirista cearense Karim Aïnouz e pela diretora e roteirista argentina Lucrecia Martel. O regulamento postado no site do evento deixava implícito que, no momento da seleção, feita por meio dos currículos enviados pelos interessados, eles dariam preferência a aspirantes e recém-formados. O que a senhora Marina Person e o senhor Cadão Volpato estavam fazendo lá? (Entendo que fazer um filme de memórias é tão genial, complexo e emocionante quanto montar um quebra-cabeça de 25 peças da imagem de um céu azul sem sol. Mas ela já teve a sua chance e fracassou.)

Comentário de uma velinha anônima após ouvir o escritor gaúcho João Gilberto Noll ler um trecho do seu mais novo livro: “Ele lê com a vivacidade e a virilidade de uma velha de 90 anos acometida por uma alucinógena diarréia”. Talvez seja um elogio.

Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Rocco, nacional;
Preço: 66 reais.

Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Bantan Books, importado;
Preço: 19 reais.

Motivo: a publicação nacional utilizou papel couche, e a internacional, papel jornal.
Depois as editoras nacionais se fazem de consternadas pela falta de interesse (ou seriam de meios?) do povo brasileiro em comprar livros.

Na década de 70, Jorge Benjor anunciou que os alquimistas estavam chegando. Hoje, século 21, tempestuosa terça-feira de 2008, 11:02, saturado de pesar e sem samba rock vos digo que a praga “indie” está em todo o lugar. Se não bastasse a invasão nos shows de rap, nos bailes funk, nos bares (porque “indie” agora também deu pra beber – no duplo sentido), a invenção do Belle and Sebastian, do Brian Molko, do Smiths e do Morrisey solo, agora o “indie” botou na cabeça que gosta de ler livros que não têm figuras e que não falam da nova pederastia que fizeram com o folk. Daqui a pouco eles também vão “dar” pra invadir os campos de futebol – só nos restará os bordéis.

As lésbicas não se dão por satisfeitas por serem mulheres que beijam mulheres. É claro que às vezes elas beijam mulheres que têm chumaço sob as axilas. Agora as mulheres lésbicas que beijam mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam a bengala como novo acessório para afirmar de forma mais explícita o seu conceito de feminismo másculo. Aliás, masculinamente feminino. Nas ruas de Paraty havia senhoras perto da casa dos 100 anos e dos 112 maridos que eram amigas de infância de Machado de Assis – homenageado da festa deste ano – e que, além do fardo da idade que causava a cada passo que davam sobre as históricas ruas pedregosas uma curvatura broxante nas costas revestidas de pelanca, usavam a mesma bengala que as jovens mulheres lésbicas que beijam jovens mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam mesmo estando no período de plena exuberância física. (Exuberância essa similar a uma mulher que subitamente decidi virar a Conga, A Mulher Gorila.) Minha prima é lésbica feminina – não feminista, ela odeia Vange Leonel e gosta de Marisa Monte. Contei a ela que vi mulheres lésbicas nas ruas de Paraty com chumaço nas mãos e bengalas sob as axilas. Ela acha “um charme” sob as axilas de bengala mulheres lésbicas. Minha prima canta muito bem. Nem parece que gosta de mulher. O problema é que as balanças portáteis encontradas nos banheiros de pessoas anoréxicas não são capazes de suportar o seu peso. Ela canta, em bares às moscas, clássicos da mpb. Ela é mais conhecida nas piadas internas da família como Marisa Monte Everest.

A tuberculose, o suicídio, a burrice, a bebida, os penhascos, as armas de fogo, os fornos, as drogas e as surubas mataram muitos intelectuais no passado. Hoje, com os avanços da medicina em busca da perfeição “insondável”, os intelectuais preferem nos matar de tédio em vez de se auto-destruírem em benefício do bem-estar social. Eles são muitos e de muitas formas. A única indistinção é que são todos ridículos. Fazem cara de orgasmo fingido quando querem pescar aquela citação momentaneamente perdida em suas caixolas atulhadas de lembranças de outrem. As borgianas, as kafkianas, as freudianas... A FLIP é cheia desses tipos. Podem ser homens e mulheres. Podem ser homens que gostariam de ser mulheres, mulheres que gostariam de ser homens, velhas que gostariam de ser jovens, homens que sonham em ser outros homens, mulheres que sonham em ser Clarice Lispector e homens que gostariam de ter crianças homens/mulheres pelados em sua cama. Ao olhar bem para eles, principalmente para as velhas pomposas que facilmente se imaginam, porém secretamente (colocando os dedos na boca para não cuspirem as dentaduras), sustentando um garoto em troca de uma coisa dura que ele tem e lhes faz falta, de um mote rígido que lhes provoque prazer e umedeça o áspero pântano grisalho a tanto esquecido, que lamentam internamente de maneira tão profunda a inviabilidade dos seus desejos porque são meras professoras de literatura, dá para perceber com certa tristeza a alegria efêmera que elas desfrutam e exalam nesses cinco dias do começo de julho em que têm a chance de absorver novamente todos os pedaços de suas vidas dedicadas à biografia de seres por elas encarados como santidades plenas de brilhantismo; parecem crianças, inconscientes/conscientes do fim iminente de suas vidas/sonhos/pesadelos, em um ônibus de excursão repleto delas, das mesmas pessoas que elas são e se tornarão, regressando de uma passagem inesquecível pelo primeiro zoológico, quando, no lusco-fusco da primavera, no momento em que o sol começa a se pôr e a fome cresce, estarão mais que dispostas a parar no Mc Donald’s mais próximo e preencher o vazio que reflete no estômago das suas vidas.

A melhor palestra (a única que assisti) foi do escritor/humorista David Sedaris. Sujeito simples, irreverente e sem o fastio meticuloso das múmias escritoras que se levam demais a sério.

“Neil Gaiman é, acima de tudo, conhecido como um excelente desenhista”, declaração, um dia após o término da Flip, do maior (menor) médico e monstro da cultura brasileira contemporânea; do músico politizado (apolítico) mais selvagem (manso) rockeiro anti-(prol) bossanovista; do pai dos independentes e amante (vagabunda) das grandes gravadoras; do apresentador e convidado, do entrevistador entrevistado, do atropelado motorista embriagado, do currador currado, do feio e, dependendo do dia, mais feio ainda; do pierrot colombina, do pedófilo violado, do iconoclasta (tropicalista) que bate com as duas; me refiro ao desbocado moralista (subversivo) Lobão, em mais um arroubo de onisciência estúpida no programa MTV Debate.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Tudo É Albino Menos Rebeca

Não tenho Ferrari. Não tenho casa em Maresias. Comida japonesa só uma vez por mês (e olhe lá). Não tenho discos do Natiruts. Não tenho discos do Men At Work. Não tenho discos do Zeca Baleiro. Não tenho discos do Cordel do Fogo Encantado. Não tenho frases do calibre de “Marginal Alado”, “Só Deus Salva”, “Vida Loka”, “Livin La Vida Loka”, “Para sempre Renata”, “Amor de Mãe” e “Suelen É Uma Vagabunda” tatuadas no meu braço. Não uso sunga. Não tenho piercing no umbigo. Não consigo assistir a filmes pornográficos por mais de dois minutos. Não tenho roupas da Osklen. Nunca trombei com as pessoas que aparecem invariavelmente estampadas nas páginas da revista Trip sempre sorrindo e bebendo de graça em alguma festa bacana. Também não entendo por que a Família Lima se permite a existir no cenário musical. Não entendo por que ainda não deserdaram a cantora (44) Ana Carolina à Ilha de Lost na companhia de um Tiranossauro Rex. Não tenho vergonha em admitir que já gostei de Vanilla Ice. Se eu fosse o meu amigo Marcelo teria vergonha de dizer que “fui ao show da Corona e fiquei suado de tanto agitar”. Se eu fosse o meu amigo Guilherme, vulgo Calafrango, não teria orgulho de ter tido a minha primeira experiência sexual com uma mendiga (sem camisinha) e ainda ter sido obrigado a pagar cinco reais por ter gozado na boca dela. Se eu fosse o meu tio Constanzo teria vergonha de agradecer à minha tia Eleonor por ter me dado no Dia dos Pais o livro de crônicas do José Sarney. Se eu fosse a minha tia Eleonor teria vergonha de dar ao meu marido e pai dos meus filhos de presente de Dia dos Pais o livro de crônicas do José Sarney. Se eu fosse o meu amigo Paulo teria vergonha de ter sido flagrado requebrando fervorosamente no quarto ao som da Banda Carrapicho. Se eu fosse o meu amigo Gavião teria vergonha em afirmar que Paris é a capital da Itália. Se eu fosse a minha prima Priscila teria vergonha de espernear para a minha tia Bianca (mãe dela) para contratar o DJ Zé Pedro para tocar na minha (dela) festa de 15 anos. Se eu fosse o meu primo Márcio teria vergonha de sair por aí com uma camisa na qual se sobressai a frase: “Sou Indie.” Se eu fosse o meu amigo (até quando?) Alessandro teria vergonha de ficar falando na mesa do bar sobre o fabuloso cinema iraniano enquanto todo mundo quer falar de futebol e de qualquer merda muito mais edificante que a porra do cinema pé no saco iraniano. Se eu fosse o meu inimigo Maurício teria vergonha em me autodenominar “um hippie Beat Generation” enquanto peço dinheiro emprestado ao meu pai promotor para ir ao Sirena. Se eu fosse o Tiago Gey ou o Lúcio Ribeiro teria me matado há vinte anos atrás. Se eu fosse o Álvaro Pereira Júnior teria me matado há 60 anos atrás. Se eu fosse o Elliott Smith não teria me esfaqueado pois continuaria a compor belas músicas que com toda a certeza deixariam a nossa existência menos sofrível. Se eu fosse o Mark Chapman teria matado o Kurt Cobain. Se eu fosse Deus (se é que ele se importa mesmo conosco) elegeria Ian Mackaye para presidente do Brasil. Se eu fosse Deus (será que Deus é mulher?, será que Deus é gangsta?) elegeria Hunter Thompson para presidente dos Estados Unidos. Se eu fosse o Tico Santa Cruz pararia de me levar tão a sério. Se eu fizesse parte do séqüito que leva o Tico Santa Cruz a sério reveria seriamente os meus conceitos. Se eu fosse Deus (se é que ele existe mesmo) deceparia a língua, não o dedo, do presidente Lula. Se eu fosse o Supla eu não seria o Supla. Se eu fosse o pai de Marvin Gaye teria matado a Madonna. Se eu fosse a Madonna teria vergonha de ser uma puta sem talento. Alguns idiotas dizem que, se a Madonna falou que é bom, então é ótimo. Madonna gosta da literatura do Paulo Coelho. Eu tenho idade para ser o seu irmão. Eu tenho idade para ser o seu namorado. Amante. Noivo. Marido. Tio. Confidente. Amigo. Inimigo. Não tenho idade para ser o seu avô. Tudo É Albino Menos Rebeca. O meu nome não é Rebeca porque eu sou homem. Muito menos Rebeco porque os meus pais têm o mínimo de bom gosto. Não sou albino. Não conheço nenhuma Rebeca. Não conheço nenhum albino. Talvez alguma Rebeca me conheça de vista. Quem sabe eu já tenho conversado com alguma Rebeca. Talvez eu tenha abordado, bêbado, alguma Rebeca e ela tenha me mandado pra casa do caralho. A vida é assim. Mesmo sem conhecer Rebecas e tudo que é albino a gente se aproveita de tudo que a gente desconhece para criar algo que talvez no futuro seja reconhecido. Peace.