segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pesadelo em Limeira - o dia em que a esperança morreu logo na chegada - Parte 2

“O amor é Lindo
O amor é Foda
Todos amores lindos acabam em foda
A metade do amor fodendo a outra metade.”

Trecho do livro Cartinhas Perfumadas: bosta, esperma, pus, urina esverdeada e muito gloss, de autoria de Arno Palumbo, editora Gostosa mas sacal.

Eu faço parte desta história. Mas não sou o protagonista. Sou um mero coadjuvante divertido. O homem que descontrai as situações embaraçosas embaraçadas no nó da garganta dos envolvidos. Não sou afeito a descrições. Elas fazem com que a imaginação morra. Contudo, neste caso, a imaginação terá que morrer em sacrifício aos fatos irrevogáveis das péssimas notícias.
Estamos em 2004 e nós não estamos em 2004. Quem é 2004? Onde fica 2004? O que nos dará 2004? Mulheres? Mulheres? Mulheres? Dinheiro... e mulheres? Dinheiro atrai mulheres? Porque em 2004 eu necessito de mulheres. Eu estou desesperado em 2004. Eu leio em 2004 e os livros que leio estão repletos de sexo. Onde está o sexo em quem me lê em 2004? 2004 vem com sexo embutido? “Senhor, perdoe-me, mas por falta de utilidade, teremos que transformar o seu pau em pingente.” “Senhor, perdoe-me, mas por falta de iniciativa própria, precisamos do seu pau para salvar o unicórnio.” “Senhor, perdoe-me, necessito do seu empoeirado pau para implantá-lo sob a minha axila esquerda para transformá-lo na minha nova obra de arte.” Eu aprendi palavras novas em 2004: curro, felação, intercurso, sodomia e onanismo. Eu quero amor em 2004. Eu sempre quis o amor em 2004. Eu quero o meu amor de quatro em 2004. Eu sempre quis o amor em 2005. Em 2015. Em 94. Em 98. Em 1967. Em 1830. Em 2000, ele surgiu e desapareceu como uma prostituta amadora assassinada com vida. Onírico, idílico, matrimônio, passional e Provence. Em 2004, eu batia punheta desde 2004 anos antes de 2004. Eu colecionava punhetas. Punhetas holandesas. Punhetas suecas. Punhetas africanas. Punhetas orientais. Punhetas abastadas. Punhetas pobres. Punhetas submissas. Punhetas temperamentais. Punhetas poetisas. Punhetas analfabetas. Punhetas cheirosas. Punhetas famosas. Punhetas imaginárias. Punhetas criativas. Punhetas vespertinas. Punhetas notívagas. Punhetas matutinas. Punhetas onipresentes. Se houvesse uma Copa do Mundo de punheta em 2004, eu não seria convidado, seria considerado Hour Concour. Se houvesse uma Copa do Mundo de punheta, ela teria que ser disputada todos os dias. Se os superatletas têm o Iron Man, os punheteiros teriam Gold “Hand” Man. Ou Big Mustache On the Man’s Hand. Ou Fuck You, Gillete, My Hand Is Ok. Ou Jungle Hand. Ou ZZ Top Hand. Ou Rick Rubin Hand. Eu compunha um trio em 2004. Um ménage à trois composto só por homens. Um ménage à trois sem sexo. Um ménage à trois de papos futebolísticos. Um ménage à trois corintiano. Um ménage à trois de filosofia de bar. Um ménage à trois sem vontade de tomar banho. Sem vontade de pentear o cabelo. À vontade em deitar na rua tal qual um mendigo de classe média. À vontade de dizer com vontade a vontade de satisfazer a vontade e ofender quem satisfaz a própria vontade. Eu, Telmo e Nestor. Esta história é sobre Nestor.

C O~~~O R

(Esta é uma obrinha de ficção. Bem pequenininha. Em importância e em magnitude artística. Desde já atesto que pouquíssimas pessoas, muito poucas pessoas meeeessssmo, lerão o que está escrito aqui. Se alguém se sentir retratado nesta história, retratado de modo injusto, está se levando demais a sério. Obrigado.)

Percebo agora, enquanto me distraio escrevendo esta merda, que 2004 talvez tenha sido o ano mais intenso da minha vida. No entanto, a minha intensidade nada tem a ver com a intensidade de uma jovem socialite siliconada solta e sem calcinha pelas ruas de Los Angeles. Na minha intensidade, não acontece quase nada. Mas só esse “quase” já significa muito pra mim.
Esta história que irei contar agora não tem relação direta com a história principal, a triste história do Nestor. Esta história que irei contar agora, no entanto, também ocorreu em 2004. E, para minha surpresa, só agora me dei conta que ela aconteceu no mesmo dia em que começou a derrocada Nestoriana. Foi num domingo de junho. Enquanto a derrocada Nestoriana deve ter começado às 19:30, a história que irei contar agora começou um pouco depois das cinco horas da manhã e acabou lá pelas sete da manhã. Ela começou no sábado, em Santos, se estendeu numa balada, o sábado virou domingo, o domingo amanheceu, deu uma parada no Fran’s Café, voltou para o Guarujá e não conseguiu dormir. Eu tinha a história comigo. Eu tenho a história comigo. EU comecei no sábado. EU comecei no sábado em Santos. EU me estendi na balada. EU percebi que o sábado estava se transformando em domingo. EU vi o domingo amanhecer. EU dei uma parada no Fran’s Café. EU inclusive desabei estranhamente da cadeira do Fran’s Café. EU voltei ao Guarujá. EU não consegui dormir. Eu tinha que ser o primeiro a contar a história. Eu vi tudo. Qualquer um poderia ter visto, mas eu fui o escolhido. EU. A imagem não saía da minha cabeça. O dia foi longo. Cansativo. Mas eu não estava cansando. Eu precisava de um megafone e de um palanque. Eu vi tudo. Tudo. Em câmera lenta. Olha só, agora a imagem está passando pela minha cabeça, ela é minha, só minha. Eu fiquei deitado de olhos bem abertos. Com a cabeça apoiada sobre os meus braços cruzados e um sorriso canalha rasgando o meu rosto. Um sorriso maquiavélico e um esfregar de mãos. Eu vi. Eu vi tudo. Eu tinha que contar a história primeiro. Eu vi tudo. Eu fui o escolhido num ângulo privilegiado. No lugar certo, na hora certa, a pessoa certa fez tudo errado bem na frente da pessoa errada. Bem na minha frente. Eu esperei dar 10:00 para pular da cama. Para pular o café-da-manhã. Para atravessar o portão da frente. Para correr até a casa de quem? Hein? De quem? Adivinha? Do Nestor. O Nestor foi o primeiro cara a ouvir a história. Esta história. A minha história. Viu? O primeiro cara a ouvir a minha história que aconteceu no mesmo dia em que começou a sua triste história.
Eu: Tu não sabe.
Nestor: O quê?
Eu: Cara, é muito foda.
Nestor: O que foi, caralho?
Eu: O Rick...
Nestor: O que aconteceu com ele?
Eu: Cara, o Rick...
Nestor: Fala logo, porra!
Eu: O Rick ficou... nossa, é demais até pra mim.
Nestor: Ficou o quê, cacete?
Eu: Cara... acho que não vou conseguir contar.
Nestor: Não, não, agora conta, agora tu vai contar, fala logo, porra, tu que começou com essa merda, agora conta.
Eu: A imagem não sai da minha cabeça, tá ligado? Ela fica, cara, martelando, saca? Eu não consigo acreditar... Falow, vou pra casa tomar um banho, to sujão...
Nestor: Vai se fudê, porra, tu não vai sair daqui nem fudendo enquanto não me contar o que aconteceu...
Eu: Tá bom, tá bom.
Nestor: Que tá olhando pra mim? Conta, caralho!
Eu: Vamos lá. Um, dois, três. O Rick... o Rick ficou... o Rick ficou... o Rick ficou... levão.
Nestor: O Rick? É mentira, é mentira dele, ele é mó mentiroso com essas parada...
Eu: Eu vi.
Nestor: Tu viu? Sério?
Eu: Foi foda.
Nestor: Não acredito...
Eu: Foi selvagem...
Nestor: Sério? Meu Deusss...
Eu: Língua pra tudo que é lado...
Nestor: Até ele...
Eu: No meio da pista...
Nestor: Puta merda...
Eu: Com uma coroa...
Nestor: Tá brincando?
Eu: Loira...
Nestor: Caralho...
Eu: Olho azul...
Nestor: Tamo fudido...
Eu: CRISTINA!
Nestor: Minha Nossa Senhora... Peraí, o quê?
Eu: CRISTINA!
Nestor: A Cris... Tá louco?
Eu: CRISTINA!
Nestor: Não, não, não...
Eu: CRISTINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Nestor: NÃAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOOOOOOOO!
Eu:CRISTINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA...
Nestor:NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...
Eu:CRISTINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
Nestor:NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...
Eu:CRISTINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA...
Nestor:NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...
Lembrem-se: esta história que estou contando não aconteceu. É tudo mentira. São delírios que invadem o meu cérebro de vez em quando. As pessoas não existem. O Nestor existe. O Telmo existe. O Rocambole existe. O Saulo existe. O Falcãozinho existe. O cagueta do irmão dele existe. O Cabeça Grávida de Trigêmeos existe. Mas quem é Rick? Quem é Cristina? Ou melhor, quem é Cris? Ou muito melhor, quem é Ce? Eu os inventei. Eles são fruto da minha falta do que fazer. Dito isso, tá tudo certo? Posso continuar? Vamo embora.
Algumas coisas que você precisa saber sobre Rick:
- Rick é um cara de porte físico... menor.
- Ele é baixinho.
- Ele é fofinho.
- Dá para pegá-lo sob as axilas e colocá-lo sentadinho em qualquer muretinha ordinária.
- Rick diz que bebe muito, mas todo mundo está cansado de saber que dar um copo cheio de cerveja a Rick é ceder novas fronteiras ao mosquito da dengue.
- Não queira ver Rick mergulhando o corpo em qualquer superfície aquática e depois emergindo com aquela careta linda.
- Sempre desconfie quando Rick disser: “eu preciso ir para o centro de Santos para pagar umas contas para o meu pai”.
- Não chame Rick para fazer parte do seu time de futebol.
- A última vez que ele jogou futebol ele conseguiu marcar dois gols contra num intervalo de dois minutos entre um gol e outro em uma partida de dois gols ou dez minutos.
- Se Rick lhe oferecer uma carona, não aceite, ele não sabe o que faz dirigindo aquela porra da Wolksvagen sem amortecedor.
Rick e os seus múltiplos sotaques:
- Quando Rick nos concede a honra de estar aqui, no Guarujá, ele mescla o caiçara com o paraibano, praticamente (praticamente? Não me inclua nesta categoria) a língua oficial do Guarujá: o Caiçaribano.
- Quando está em Santos, ele é carioca, e ele não é Rick, lá ele tem outro nome, outros apelidos, outros gostos (exemplo: Marroon 5), ele tem outra história, outros amigos, nem tente cumprimentá-lo em Santos porque lá ele não se permite te cumprimentar.
- Quando está em São Paulo, Rick é caipira, mas tem lapsos de carioca. A porrrrrrta pode ser “porrrrta, porrra!”, “porrrrta, vagabuuuunda”, “porrrrrta, méeeeerrrrrda”.
- Quando tem mulher por perto, ele não é só carioca, também é marrento. Ele fala como se tivesse lombrado no Posto 9 em Ipanema enquanto tira a camiseta e alisa o corpo como se tivesse um corpo digno de ser alisado no Posto 9 em Ipanema.
- Se Rick tirar a camiseta na sua frente, você verá que ele tem uma pançinha.
- Se Hollywood tem Rick Moranis, Cabeça Grávida de Trigêmeos: “Nós temos o Rick Pançanis”.
- Rick já foi de blazer quadriculado da Adidas ao Pastel do Trevo.
- Rick já tomou um soco no gogó do Telmo.
- Rick sofria bullying da molecadinha da terceira série do Almeida Júnior.
- Rick estava na sétima série.
- Rick quase morreu quando xingou de filho da puta um colega nosso cearense de 42 anos com 1,90 de altura e 180 quilos de largura por causa de um jogo de poker que valia uma coca-cola de dois litros.
- Presumo que ele quase tenha morrido por conta da tardia descoberta do ofício desse misterioso colega.
- Ele era matador de aluguel. Fora isso, era um cara legal, pagava tudo.
Rick e as baladas:
- O comportamento de Rick nas baladas é um caso que merece ser analisado pelo Dr. Cal Lightman, da série Lie To Me.
- Acompanhar Rick na balada é quase a mesma coisa que ir sozinho.
- O diferencial é que no final da balada ele não aparece como Rick, mas como a mais diabólica de suas múltiplas personalidades: Pinóquinho.
-Ele some no começo da balada para reaparecer no final e dizer: “Caralho, bróder, peguei uma loirinha...”
- Ele some no começo da balada para reaparecer no final e dizer: “Compadre, o dia já raiou e o meu galo cantou numa morena puro-sangue...”
- Ele some no começo da balada para reaparecer no final e dizer: “Vixi Maria, neguinho, aquela baianinha num queria me deixar ir embora”.
- A baianinha ficou conhecida como a Baianinha Virtual.
- A moreninha ficou conhecida como Se Engana que A Gente Finge que Acredita.
- A loirinha ficou conhecida como a Ilustríssima Mentira.
- Quando o Pinóquinho entra em cena ele sempre está acompanhado por outra de suas ardilosas múltiplas personalidades: Pequenino David Blaine.
- Tudo o que o Pinóquinho faz ninguém vê.
- Quando o Pinóquinho faz alguma coisa e alguém vê, O Pequenino David Blaine não deu as caras. Quando o Pinóquinho faz alguma coisa e alguém vê, ele não é mais o Pinóquinho, mas a realidade nua e crua e nada glamorosa de Rick.
- A Síndrome de Pinóquio é uma praga difundidíssima na sociedade masculina da Baixada Santista dos 15 aos 37 anos de idade.
- Quando um amigo seu chega pra você... Vos apresento Negão!
- Negão era um cara que sempre criticou a minha pregressa conduta de jovem infeliz romântico.
- Negão dizia “vamos sair, cara, para de ficar se lamentando pelos cantos, o amor não existe, as mulheres são ‘todas’ vadias, eu vou ficar noivo, mas eu tenho cinco amantes, fora as perdidas que eu pego nas baladas, eu tenho uísque guardado na Lucky Scope, eu sei falar o que elas querem ouvir...”
- Negão disse uma vez para uma crente do cu quente sem o dente da frente: “Eu, você e a Lua”.
- Negão é formado em psicologia.
- Quando fraturei o meu tornozelo seriamente, Negão dizia “não vai andar mais, cara, tá fudido, vai ficar manco pelo resto da vida”.
- A irmã de Negão se jogou do terceiro andar do prédio e quebrou os dois tornozelos.
- A irmã do Negão hoje é mãe e dança pagode todo sábado.
- Quando, em um passado não muito distante, eu fiquei gordinho, Negão dizia “caralho, tu tá gordo pra caralho, parece um porco”.
- Quando voltei a ficar magro, Negão dizia “parece um aidético, parece um viciado, parece que tá morrendo”.
- Quando comecei a escrever, e mostrei um texto a ele, Negão disse “falta um ponto e vírgula aqui”.
- Negão enviava a seguinte saudação ao seu clubinho do Orkut: “Um abraço, do Négo”.
- Negão enviava a seguinte saudação à sua patota do Orkut: “Manus e minas um abraço, do Negó”.
- Negão é negão e possui umas tetinhas de punheteiro super sexy.
- Negão usava o corte de cabelo super sexy do Spike Lee no filme Faça a Coisa Certa.

- Negão só andava de Nike e era fã das músicas do Will Smith.
- Negão sumiu com o meu cd importado do The Roots.
- Negão sumiu com o meu cd importado do Mos Def and Talib Kweli.
- Negão sumiu com o meu cd importado The Colour and The Shape, do Foo Figthers.
- Depois disso, quando o Negão me pedia um cd emprestado, eu dizia “não é meu, o Telmo me emprestou, é de um amigo dele de São Bernardo do Campo”.
- Negão foi PM e ele disse pra mim que “quando tem um tiroteio, eu me escondo, tu acha que vou trocar tiro com bandido ganhando um conte e meio?”.
- Negão compunha músicas Low Low Low Low Low-Fi, muuuuuito Low Low Low Low Low-Fi, uma mistura de Sid Vicious Afro com letras à la Amado Batista em sua fase mais escrota.
- Ainda me lembro do refrão de uma delas.
- “Você se foi e não voltou... pra mim.”
- O refrão dessa música foi motivado por uma mina que o obrigou a amarrar uma corda em volta do cano do chuveiro.
- A corda arrebentou e ele acabou não morrendo.
- Quando me recuperei da minha depressão romântica, eu chamei várias vezes o Negão para ir à balada comigo para nós arrocharmos as gatas.
- Negão nunca me convidou.
- Certa vez, eu o encontrei no Avelinos.
- Ele me cumprimentou rápido e disse que ia atrás de uma mina que estava esperando por ele ao lado do balcão em frente ao banheiro na esquina do hall de entrada dentro de uma caverna muito escura atrás de uma passagem secreta de uma biblioteca vastíssima de terror psicológico no subsolo além das tubulações de esgoto sob o firmamento um pouquinho pra lá da Oceania à esquerda de Bancock...
- Toda vez que me deparava com o Negão na balada, ele vinha com uma desculpa para fugir de mim (e reconheço que esta frase ficou bem gay).
- Em todos os momentos em que vi o Negão na balada em nenhum deles ele estava com uma mina.
- Prazer, Síndrome de Pinóquio.
- “Prazer, o meu nome é Negão e sou mais uma vítima da Síndrome de Pinóquio.”
- Prazer, o meu nome é Negão e eu não sou mais uma ferramenta de ficção explorada pelo Leonardo.”
- “Eu existo!”
- Cabeça Grávida de Trigêmeos, Nestor, Telmo e Dorinha (outro personagem que realmente existe. Ele não é mulher, é homem, chame-o de mulher que ele arranca a sua cabeça com uma Magnum imaginária que ele guarda no porta-luvas do carro) viram a realidade nua e crua e azeda de Rick na balada.
Algum dia do segundo semestre de 2005:
- Eu, Rick, Dorinha, Cabeça Grávida de Trigêmeos, Nestor e Telmo fomos para a balada.
- Ao entrar na balada, Rick sumiu.
- Ao entrar na balada, eu vomitei.
- No pé de uma mina.
- Ela disse que nunca mais falaria comigo.
- Eu nunca tinha visto ela na minha vida.
- Nem mais gorda nem mais magra.
- Só daquele jeito: gorda, com uma maquiagem de boneca russa e com uma gosma parecida a suco de beterraba no peito do pé.
- Dorinha, Cabeça Grávida de Trigêmeos, Nestor e Telmo foram caçar.
- Borboletas, certamente.
- De preferência, no limiar entre o exibicionismo irresponsável e o coma alcoólico.
- Eu fiquei encolhido até o fim da balada no banquinho a céu aberto.
- Eles viram Pinóquinho em ação.
- Se eles viram, não era Pinóquinho.
- Pinóquinho sem a contribuição do Pequenino David Blaine é um reles cidadão capaz de cagar no mictório da balada na frente de todo mundo e contar pra todo mundo que quem fez isso é muito louco.
- Telmo: “Ele estava com dificuldades”.
- Dorinha: “A mina não queria ficar com ele de jeito nenhum”.
- Cabeça Grávida de Trigêmeos: “Ela só ficou com ele porque eu enchi bastante o saco dela”.
- Nestor: “Ela era... COMPACTA”.
- Telmo, Dorinha e Cabeça Grávida de Trigêmeos em uníssono: “Hahahahaha, pode crer, ela era bemmmmm COMPACTA”.

(COMPACTA)

(COMPACTA)

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(COMPACTA)

(COMPACTA)

(COMPACTA)
(Se um dia você estiver andando com o Rick pelo centro do Guarujá na temporada de verão, ou em alguma balada poser, tipo Phoenix, tipo Target, Tipo Yellow, tipo Café Del Mare, nada tipo Colômbia (Pá Pum), nada tipo Porto da Vila, nada tipo La Piazzeta no sábado, nada tipo Festa de Aniversário do DJ Cabral, nada tipo Boliche do centro (até porque faliu), nada tipo Pão de Açúcar do centro depois das duas da manhã, nada tipo Praça dos Vodus após a meia-noite, nada tipo Baile do Havaí da Sociedade Esportiva Itapema, e ele apontar para uma mina, uma mina de uns 24 anos, talvez mais nova, talvez aparentando ser mais nova, de altura mediana, ou seja, um gigante perto do Rick, com cabelos castanhos claros que chegam quase até o cofrinho, cofrinho muito bonitinho, por sinal, rosto bonito, cheio de sardinhas, olhos castanhos, às vezes quase verdes, porte de menina rica, bem cuidada, Universitas, Barra Funda, um apartamento por andar a meia quadra da praia, atualmente em Moema, quem sabe Alameda Santos, Frei Caneca, Campinas, viajada, Nova Iorque, Barcelona, um mês no Canadá aos 17 anos, Disney quando era criança, cidadania espanhola, ou cidadania italiana, ou cidadania portuguesa, fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, veterinária, jeans da Guaraná Brasil, bronzeado sutil, moletom da Epcot Center, um golden retriever chamado Romeu, corpinho bacana, saudável, todas as partes em seus devidos lugares, nada sobrando, nada escapando, tudo durinho, sorriso branco, cativante, atrativo, tratado por dentistas jovens com técnicas inovadoras, ex-namorados que jogam futebol americano na praia, que jogam rugby na faculdade, que jogam frescobol à beira mar, que usam Lacoste com a gola levantada, que usam Diesel com os bolsos traseiros fashionnamente rasgados, que calçam New Balance 1500, que escutam Tiesto no carro, que fumam Malboro vermelho, que jogam truco com charuto cubano e uísque Jameson numa casa de praia em Maresias, que cantam todas as músicas no Coração Sertanejo, que tomam bala, cheiram cocaína, tomam bomba e estupram travestis, e o Rick disser a você, meio na entoca e meio ansioso, que já pegou, “já peguei duas vezes”, uma delas dentro do banheiro da casa do Saulo, é verdade, é a mais pura verdade, e ele parará por aí, deixará essa afirmação suspensa no ar à espera do elogio, do seu elogio, e você irá elogiar, irá se admirar, “parabéns, pegou bem, caramba!”, e ele ficará em silêncio, saboreando o triunfo, omitindo que naquela época ela não era desse jeito, linda, perfumada, tamanho 35, que ela parecia na verdade uma munição de canhão, a tríade repugnante de gordinha-espinhas-aparelho fixo com borrachinha colorida, que ela não era chamada de Carlinha, mas de Carlão, tinha 12, 13 anos, ele tinha 13, 14 anos, e ele a pegou pela primeira vez na quadra do Adélia no baile pós-Festa das Nações, e dizem que ela até o carregou no colo, segurando-o sob as nádegas, e a segunda vez ele a pegou no banheiro da casa do Saulo, escondido de todo mundo, porque a molecada tirava sarro dele, então ele tinha que se esconder para pegá-la, para a molecada não ficar zuando, porque a molecada zuava, “tá pegando a gordinha, hein?”, “meu Deus, vai memo maluco”, “mó dragão!”, e o Carlão era completamente apaixonada por ele, sujeitando-se a ficar agarrando um menino espremida num lavabo exíguo recendendo a merda em conserva só porque ele tinha vergonha dela, vergonha de gostar dela, de abraçar ela, de beijar ela, de ser levantado por ela, e depois de tanta zuera, de tanta pegação no pé, de tanto chupão no pescoço, um dia ele a esnobou, disse que não queria mais, que estava em outra, “não viaja, mina, sai fora!”, e ela saiu chorando, se trancou no quarto para escutar o Blink 182 que ele gostava, para escutar o Pennywise que ele curtia, para se afundar em Cailin, do Unwritten Law (#And hey little girl Look what you do… Oh, I love you… Hey little girl, I love you #), a única música que ela gostava de verdade, e ficar lembrando de todos os momentos nada singelos com ele enquanto se engasgava com lágrimas, catarro, Coca-Cola sem gás e quindim tamanho família, e os anos se passaram como peidos discretos soltados no ar como serpentinas renegadas e úmidas com o prazo de validade expirado, e o Carlão cresceu e emagreceu, e o aparelho fixo com borrachinhas coloridas sumiu, e os peitinhos cansaram de ficar esparramados e se ergueram questionadores, pedindo mais atenção, desde que fosse velada, no limite do suspiro interno, do decoro, do bom gosto, como um saúde discreto após um estrondoso espirro na seção de frutas e verduras do supermercado, que naturalmente veio de todos os lados pálidos de carisma agraciados pela sua presença rosada, pelo seu desfile cheio de vitalidade e confiança, de auge da espécie, Conde de Monte Cristo, Carrie, A Estranha, Uma Thurman em Kill Bill, Carlinha de Salto Alto Agulha Sobre Os Peitos de Pombo de Rick, por ironia, nós estávamos juntos quando vimos a versão século XXI de Carlinha, por ironia, também era numa Festa das Nações (nós não tínhamos outra coisa pra fazer? outro lugar para ir?), e eu falei, “Olha lá, Rick, a mina que tu pegava, a mina que tu esnobou”, e ele disse, alisando o queixo, ou a pançanis, “Huuuumm, ficou gatinha, né? Oxiiii, que pedaçinho bom, sô”, o Conde de Monte Cristo apareceu todo estiloso na festa do seu traidor, Carrie explodiu a cabeça de todos os filhos da puta que fuderam com ela, Uma Thurman atravessou literalmente todas as pessoas que tentaram matá-la, a vingança de Carlinha foi trifásica, embora as três fases tenham sido exatamente iguais, “Ai, eu não mereço isso, um isopor cheio de cerveja, um coqueiro, o mar do pacífico e uma garota de programa arrasa quarteirão como companhia”, “O meu gatinho tem carro importado e vem me buscar em casa”, “Campos de Jordão, friozinho, gente bonita, fondue, vinhozinho e Cláudio Zoli fazendo um som, o que posso querer mais de um inverno?”, “Vingança é da hora!”, Vingança não é um pratinho de alumínio que se come frio, é um prato de plástico com talheres de plástico cheio de carvão quente, que se come sozinho, no escuro, num ambiente pós-apocalíptico, na companhia do Cláudio Zoli tocando sem parar aquela música “tocando um B.B. King sem parar”, e Carlinha foi brutal, sem precisar de um duelo de espadas e nem tirar sangue de ninguém, sem precisar de impropérios com excesso de saliva e nem de verborragia gratuita, é claro que o Rick foi atrás dela, ele achou que tava na mão, e é claro que o Pequenino David Blaine não daria o ar de sua graça, eu estava lá, o Mediano Nelson Rubens, o Nêmesis do Rick, o Caco Barcellos do Rick, O Gay Talese do Rick, o Truman Capote heterossexual do Rick, o Donnie Brasco do Rick, o Ray Liotta do Robert de Niro em Os Bons Companheiros, a testemunha protegida pelo Programa de Proteção a Testemunhas, o paparazzi que matou a Lady Di: “E aí, Carlinha, tudo bom?”, “Tudo (ainda pergunta? Olha pra mim!) e você? (Olha pra você!)”, “eu to legal”, “Legal... (Tem certeza que tá legal? De novo, olha pra mim! Agora olha pra você! Eu to adorando isso)”, “Você mudou bastante desde a última vez que te vi (caralho, tá com uns peitinho da hora, mina, tá magrinha, vo te pega de jeito, é hoje que vo fica levão e deixá o Leonardo visitando barraca sozinho e comendo comida salvadorenha e assistindo a dança típica da Bósnia)”, “Pois é... (Olha pra mim! Olha pra você! Olha pra mim! Olha pra você! Agora olha pra mim... Já! Agora... Olha pra você... Já)”, “Então, Carlinha, vamo saí dessa muvuca, vamo toma uma cervejinha ali... na barraca da Alemanha?”, “Nem to a fim”, “Pô, Carlinha...”, levantando a camiseta e alisando a pançanis, “Vamo ali no cantinho, vai, quero conversar contigo, dizer umas paradas pra você...”, “NÃO!”, Fim da Primeira Fase, 20 minutos depois... “E aí, Carlinha, no futebol dizem que a bola sempre procura o craque, e no amor dizem que a metade da alma gêmea sempre procura a outra metade”, “E? (De quem é essa frase? Do Chorão?)”, “Não entendeu? Tipo, no futebol...”, “Entendi, mas o que você quer dizer com isso? (Patético...)”, “Pô, Carlinha, fica comigo, vai?”, “NÃO!”, Fim da Segunda Fase, uma hora e meia depois, nove esfihas frias e borrachudas depois, dez Kaiser depois, cinco cervejas de trigo depois, doze arrotos depois, nove peidos depois, sete mijadas depois, três tequilas depois, quatro pedaços de pizza borrachuda, fria e brotinho depois, cinco Glacial depois, um tango depois, um Cancan depois, um Hula Hula depois, uma dança do ventre dos Vigilantes do Peso depois, um sapateado irlandês depois, uma dança de rua depois, uma tarantela depois, uma dança aborígene depois, um aperto de mão do Rodolfo depois, um aperto de mão do Daivilin Orelhudo depois, um aperto de mão do Roger depois, um aperto de mão do Nego Alan depois, um aperto de mão do Nego Alan depois, um aperto de mão do Nego Alan depois, um aperto de mão do Nego Alan depois, um aperto de mão do Nego Alan depois, um aperto de mão com a minha mão toda mijada para o Fábio Mancha depois, um aperto de mão do Nego Alan depois... “Pô, Carlinha, fica comigo, porra, foi mal, eu zuei contigo, eu sei, eu sou um idiota, eu sei, mas eu to ligado que você me amava, isso não pode ter acabado por inteiro, vamo ficá junto, vai, só hoje, só um beijinho, ali ó, atrás da barraca da... Palestina, não tem ninguém lá, vamo, vai, relembrar tudo que aconteceu, a quadra do Adélia com aquele parede de pedrinha aconchegante, o banheirinho do Saulo, todo mundo te chamando de gorda, de canhão, de cara de brotoeja, eu dizendo pra você sair fora, hein, vai, vamo?”, “NÃO!”, Fim da Terceira Fase.)]

Agora, enfim, vamos ao caso Cristina.

(Continua na próxima segunda-feira.)











































segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pesadelo em Limeira - o dia em que a esperança morreu logo na chegada - Parte 1

“As mulheres não amam o que você é como pessoa,
As mulheres amam o que você é para as pessoas.”

Trecho do ensaio Adultérios, divórcios, estupros e milk shake, de Arno Palumbo, publicado originalmente no braço dele

(Dedico este texto aos amigos Victor e Daniel – só vocês sabem pelo que nós passamos, ou melhor, só vocês sabem pelo que nós não passamos)

Antes dos acontecimentos lamentáveis que serão retratados daqui a pouco, eu tinha uma namorada. Eu a amava do modo mais juvenil, mais babaca, mais idealizado e mais almejado possível. A minha barriga doía só de pensar nela. Ela sempre chegava atrasada aos nossos encontros. Quanto maior a espera, maior a dor de barriga. Quanto maior a dor de barriga, maior a vontade de cagar. Imagine o semblante de um garoto de 17 anos à espera do seu primeiro amor na entrada do shopping com uma avalanche de fezes no corpo pronta para desmoronar: Oi.
Eu era burro, espinhento, macilento, fora de moda, ansioso, abstêmio e inocente. Hoje sou burro, fora de moda (compro roupas no supermercado), tranqüilo (só não sou calmo quando perco as minhas chaves: “cadê as minhas chaves? Perdi, já era, perdi, já era, fudeu”), hipocondríaco (matei!, matei!, era o mosquito da dengue, se este bostinha me picar de novo, eu morro, já peguei essa porra duas vezes, tem repelente aqui?!), alcoólatra (“eu não sou alcoólatra!”) atleta (“mesmo de ressaca e vomitando, consegui correr quinze quilômetros”), sensível (“sangue bom aquela gooorda!”), desconfiado (“deu-lhe sete? sem tirar? naquela mina? no carro dela? lá? na boca? ela gritou teu nome? ela gozou 11 vezes? filmou?”) e mais velho. Entre esses dois pólos, eu me tornei a pior versão de mim mesmo criada por mim mesmo.
O eufemismo: nós terminamos. Que significa: ela me traiu. Se eu disser com todo mundo, é um exagero, mas se disser com dois quartos da cidade, estou sendo generoso. A limitação acarretada pelo trágico fim desse relacionamento foi que ele me estancou. Eu parei voluntariamente de existir para as outras pessoas: eu parei voluntariamente de existir para as outras mulheres.
Outro eufemismo: celibatário. Que significa: pesadão. Eu não pegava ninguém. Ou eu parei de pegá-las, ou elas pararam de me pegar. O que tenho certeza é que tudo que me envolvia parou: menos a minha mão direita.

Os meus amigos devem estar sentindo vergonha alheia por este relato. Eles não devem estar encarando este relato como um ato de coragem, mas como burrice. Eu sou burro. Mas o que eles não esqueceram é que não esqueci que eles estavam ao meu lado. Eles não esqueceram que não esqueci que eles estavam ao meu lado fazendo a mesma coisa que eu: acúmulo de porra.

Se pudéssemos fazer parte de um time, nós seriamos o Íbis: sempre goleado. Como o Íbis, antes de entrar em campo, nós já sabíamos que seríamos barbaramente trucidados. Como o Íbis, nós encontramos um modo bizarro para conseguirmos nos divertir no centro desta perspectiva árida. Todos os homens que conhecíamos, mas que não faziam parte do nosso círculo, iam para a balada para pegar mulheres. Como sabíamos com antecedência que não arrumaríamos nada, paramos de esquentar a cabeça com essa carência. Para que não morrêssemos afundados no arquipélago de merda projetado por nós mesmos, adicionamos doses cavalares de álcool, nudez em público, patéticas brigas, duelos de dança, divulgação de nossas belíssimas aquarelas de vômito e, sobretudo, a subestimada verdade. Admitíamos tudo para quem perguntasse.
“E aí, cara, pegou alguém?”, “Não!” “Bebeu muito, né?”, “Até bebi, mas não foi por causa disso”, “Por quê, então?”, “A minha cota de decepção já se esgotou”.
“Foi você que saiu correndo pelado atrás do busão?”, “Foi”, “O que você tem na cabeça, cara?”, “Não sei, o que você tem na cabeça?”, “O que não tem na sua cabeça”, “Então você é desonesto consigo mesmo e com as outras pessoas!”

Por pior que fôssemos, nós éramos sinceros. E, entre os piores, nós éramos os melhores. E entre os melhores? Hoje, nós somos os melhores.
Desde a época de Santo Agostinho que as mulheres reclamam que a maioria dos homens não presta. A velha novidade, contudo, é que elas sempre preferiram os caras que não prestam. O que faz delas cúmplices. E, o pior de tudo, hipócritas.
Conheci meninas que ficavam com dois caras na mesma época e, quando souberam que um deles havia ficado com outra menina, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci meninas que namoravam e chifravam o mesmo cara por anos e, após o fim do relacionamento, ao trombarem com seus ex-cornos na companhia de novas mulheres e totalmente refeitos de qualquer dano perpetrado por elas, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci caras que traíam as suas namoradas há vários anos e, quando souberam que elas faziam algo bem semelhante com o instrutor da academia, surtaram, espumaram baba raivosa pela boca, as amaldiçoaram e as espancaram na frente de todos os amigos, entretanto, nada mais natural, elas voltavam correndo como hamsters adestrados cujos corpos estavam assolados por algum vírus pestilento.

O mundo só é dos homens quando as mulheres não estão nele. Por que vocês, mulheres, acham que nós curtimos nos reunir para assistir futebol? Por que vocês, moçoilas, acham que nós gostamos de nos reunir para tomar uma cerveja, falar merda e vermos qual de vocês é a mais danada? Eu não ignoro a possibilidade de vocês, leitoras de Elizabeth Gilbert, estarem se perguntando, histéricas, por que nós, homens impolutos, não nos fodemos entre si? Porque nós, meninas superpoderosas, não viveríamos sem as raríssimas exceções que podem ser encontradas, a muito custo e com muitas baixas, em um grupo que é dominado por vadias falsas!


(Continua na próxima segunda-feira.)







segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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Reclamaram que fantasio as histórias. Viajo muito. O elenco existe, mas não está satisfeito. Não se sentem retratados com fidelidade. Muito exagero. Muitas coisas ditas que jamais foram ditas. Se eu não fosse o patrão da minha própria empreitada, definitivamente já teria sido excomungado do meu próprio cérebro. Quem sou eu que não estava ali? Que mundo é este que vivo mas que nunca vi? O muito que se faz para muitos é pouco para muitos.

Os meus parágrafos são longos, quando não são únicos. As vistas doem. As vistas não doem quando algo se move. Quando dois corpos se movem. Quando duas mulheres nuas se movem ao ritmo do oceano. Ler não é agradável quando se lê o desagradável? Ler não é agradável quando se lê?

Oito decisões em oito doses: este... William Faulkner disse “que até mesmo o pior tipo de ficção é muito mais real que qualquer tipo de jornalismo”. O que faço?

Oito decisões em oito doses: este texto será dividido em oito partes. A outra decisão das oito em oito doses é que será completamente verdadeiro.

Cada momento. Cada esperança. Cada promessa. Cada nome. Cada cheiro. Cada dado anatômico. Cada tom de pele. Cada tom de voz. Cada sorriso. Cada ponto de vista. Cada espaço físico. Cada defeito. Cada proposta. Cada temperatura. Cada alucinógeno. Cada toque. Cada beijo. Cada distância. Cada ritmo. Cada conexão. Cada ritual. Cada desilusão. Cada lágrima. Cada começo. O fim.

Esta não é uma introdução. Muito menos a história propriamente dita. O título da história é Pesadelo em Limeira – O Dia em que a esperança morreu logo na chegada.

Mas o título não vem agora. Não sou perfeccionista, mas mudarei o jeito de serei. E também a concordância das leis. Vamos apagar este título:

Pesadelo em Limeira – O Dia em que a es

Pesadelo em Limeira – O Di

Pesadelo em Limei
Pesadelo e
Pesade
Pés
P

Introdução

Vou começar contando uma mentira. Alguém conhece o Ivan? Muitos conhecem o Ivan, mas ninguém nunca o viu. Me refiro a ninguém a todos que conheço. Eu passei por mentiroso na faculdade por contar as mentiras dele. Quem contou as mentiras dele não passou por mentiroso ao contá-las para gente. Ele transformou Ivan em lenda. Ele transformou-se em um comediante de stand-up antes da moda. Quem transformou-se em um comediante de stand-up antes da moda? Também não sei. Talvez Ivan não exista. O que sei é que nada que Ivan disse que existe existe.

Primeira: Ivan estava andando na praia dos Astúrias. De manhã, à tarde, à noite ou de madrugada? Sinceramente, não sei. Sinceramente, ninguém sabe. Então ele continuou andando pela praia dos Astúrias quando, de repente, seus pés sentiram algo duro sob a areia. Curioso que só, curioso que só Ivan, ele resolveu cavar. Cavou... Cavou... Cavou... Cavou... Cavou até os seus olhos férteis depararem com um material parecido com metal. Há a versão que era aço. Há a versão que era titânio. Há a versão que era latão. Porém, a versão mais propalada é que era... um material jamais visto no Planeta Terra. Ou seja, a parada não era nossa. Cavou Cavou Cavou... Cavou Cavou Cavou... até que encontrou... até que encontrou.... uma NAVE ESPACIAL. Ou disco voador, se preferir. O símbolo apocalíptico da ficção científica em plena praia dos Astúrias. Não satisfeito por encontrar algo que mudaria todos os rumos da história da humanidade, ele resolveu... dar um rolê na nave. E deu. Um objeto não-identificado no céu pilotado por um sujeito nunca identificado por ninguém. E disse que foi fácil. Tranqüilo. A... 9.000 Km por hora. No entanto, como todo gênio que se preze, Ivan era egoísta, não queria dividir nada com ninguém, então ele enterrou a nave no mesmo lugar em que estava enterrada. Como ele fez isso? Bem, ele é o Ivan.

Segunda: era inverno no Guarujá. Como todo mundo sabe, ou não, inverno no Guarujá significa menos calor, não frio. Ivan estava deitado na sua cama. Uma típica manhã fria sem frio do inverno guarujaense. Sem muita coisa a fazer, e sem querer fazer coisa alguma, Ivan olhou languidamente em direção à janela. Uma simples olhada na janela de Ivan não é uma simples olhada na janela de Ivan. Ele encontrou um gato. Bem... e daí? Ele encontrou um gato parado em frente à janela. Tá... e? Ele encontrou um gato parado em frente à janela que estava parado em frente à janela porque estava literalmente congelado pelo frio que não faz frio do Guarujá. Nãaaaaao? Ele encontrou um gato parado em frente à janela que estava parado em frente à janela porque estava literalmente congelado pelo frio que não faz frio do Guarujá com a perna direita erguida para trás, a perna esquerda como pé de apoio, o braço direito esticado para trás, e o braço direito levantado como se estivesse apontando para a lua cheia. Ele encontrou um gato congelado em uma posição de ballet. Ele encontrou um gato bailarino congelado em uma cidade litorânea de um país tropical fazendo um arabesque. (Eu manjo dessas paradas de ballet.)

Terceira: Ivan estava decorando o quarto. Praticamente tudo já estava organizado. Todos os objetos em seus devidos lugares. Mas havia um espaço na parede que deixou Ivan intrigado. Ele tinha que preencher aquele espaço. Para nenhuma surpresa de ninguém, ele fez algo surpreendente. Pegou a metralhadora do pai e, naquele exíguo espaço em branco, com extrema habilidade, escreveu a tiros: IVAN.

Quarta: A irmã de Ivan, da qual não sabemos o nome e que também ninguém nunca viu, estava presa na sala de aula. Ela gritou pedindo socorro. Quem poderia salvá-la? Lógico, Ivan. Dizem as más línguas anônimas que Ivan era muito forte. Ao chutar a porta para arrombá-la, Ivan não conseguiu derrubá-la. Em compensação, com o mesmo chute, ele derrubou todas as paredes, o teto e assim resgatou a irmã do pesadelo gerado pela claustrofobia. A porta ficou em pé. Dizem as mesmas más línguas anônimas que, se Ivan tivesse dado outro chute, ele teria derrubado a escola e resgatado, mesmo assim, todo mundo. A porta continuaria em pé.

Quinta: Ivan foi fazer uma trilha em algum lugar da mata atlântica. Sozinho ou acompanhado? Esqueci de perguntar. Ao se tratar de Ivan, supõe-se que ele estava acompanhado por uma gangue de fadas lésbicas. O dia esvaia-se agradabilíssimo. O céu estava azul, o sol era reconfortante e os pássaros estavam afinados. Mas nada no mundo de Ivan pode ser monótono. Portanto, um tigre fez questão de aparecer. E estava bravo e faminto. E foi para cima de Ivan. Pobre tigre. Ivan deu um balão no tigre e o matou estrangulado com um mata-leão.

Sexta: Ivan e o seu primo, do qual desconhecemos o nome e que também ninguém nunca viu, estavam a fim de fazer uma travessura. A travessura: Por que não atirar de espingarda na direção do morro? Travessura bem imbecil, reconheço. O primo iniciou as atividades: fez um buraco ridículo numa pedra ridícula. Chegou a vez de Ivan e, quando a vez dele chega, ela está peremptoriamente proibida de ser ridícula. O meu pai sempre diz que “a genética é foda!”. Se ele estiver certo, isso explica a atitude tomada pelo primo de Ivan após o tiro de Ivan na direção do morro. Ivan pediu, ou melhor, Ivan ordenou que o primo fosse para o outro lado do morro. Ivan atirou e a bala atravessou o morro. O primo de Ivan viu a bala saindo do outro lado do morro. Se eu investigasse, ele diria que ela até deu tchau.

Sétima: Ivan pegou escondido a Ferrari do pai. (A lenda que corre é que Ivan era favelado, mas... ) Ele estava na estrada pilotando a Ferrari a uns 575 Km por hora quando, infelizmente, perdeu o controle do carro. Perder o controle do carro a 575 Km por hora é morte na certa. Mas não esqueçamos que Ivan é indestrutível. E esperto. Ao perceber a iminência da colisão, ele fez um malabarismo incrivelmente simples: esticou o braço direito na direção do pára-brisa e colocou o braço esquerdo no painel. Portanto, quando o carro bateu em uma placa de sinalização, Ivan ficou colado. O pára-brisa explodiu, o airbag foi automaticamente acionado, a frente do carro encolheu, mas Ivan bloqueou-se da morte com uma manobra digna de um mentiroso filho da puta!
Embora grande parte desta introdução seja composta por mentiras, é tudo verdade.

(Continua na próxima segunda-feira.)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Esquetes que têm a bosta como mote

“Meu, eu não sei dirigir, mas aquele cara que tá tentando manobrar o carro naquela vaga é mó braço!”, a síntese sem retoques do que é a crítica de artes e esportes no Brasil

Virar correu moda. Desculpe. Correr virou moda. Gordos afluem às pistas urbanas e afrouxam os pulsos. Enxutos apertam os cintos. Escusos malandros correm com a cabeça nas nuvens do pinto. Surdos e mudos xingam quem não consegue falar com as mãos suadas. Amigas gordas que perdem tudo que perderam ao ganhar um sorvete de brinde pelo esforço exemplar de continuar a ganhar mais do que ganham perdendo. Amigas lindas e voluptuosas que não são suas amigas de verdade, não te conhecem, nem percebem a sua presença quando você ainda insiste que em um algum dia não tão remoto o seu olhar vidrado-tarado irá cruzar com os dois fleumáticos azuis característicos das garotas que perguntam “Quem?” na ocasião em que o seu nome é levantado numa roda situada numa esquina de uma cidade que tem apenas cinco mil habitantes sem contar o fato que ela fez parte da sua classe durante três anos e que contava com sete alunos sendo quatro mulheres e uma birolha chamada carinhosamente de Bônus de Pinball. Amigas médias sozinhas ou acompanhadas de mais amigas médias ou em recuperação final sem chance de êxito ou de caras suados despidos da cintura pra cima que vão à manicure pelo menos uma vez a cada duas semanas inclusive em feriados católicos. Senhoras castigadas pelo inevitável relaxo pós-45 e despertas pela desconfiança criada por elas mesmas ou absolutamente premonitórias quanto ao brinco de cruz à la Romário Copa de 94 style do seu marido a passinhos rápidos toldadas pelos seus chapeuzinhos lívidos de noviças reacionárias pós-modernas. Donos e cachorros donos dos donos que cagam em intervalos irregulares, em cenários distintos, em volta de postes, em jardins mal cuidados, sobre a areia fina da praia que empana o croquete de cheiro estragado, em frente às portas de ferro, alumínio ou madeira das casas que recebem a primeira remessa de brisa marítima por isso descascam, sulcam, racham, queimam o lado externo que vale o dinheiro para quem não olha para dentro (clientes regulares de puteiro, gigolôs convictos e sindicalizados, caça-talentos, assinantes da Marie-Claire, pais de família divorciados da polpa e lambuzados pela casca que não consegue mas sonha em ser polpa, quem acredita que a Giovanna Antonelli e a Carolina Dieckmann usam roupa da Marisa portanto as compram no crediário). Homens de negócios no ócio da corrida com ambos ouvidos com negócios onde saem vozes que gritam “negóóóóóóóciooooossssss” a passos curtíssimos que dão a sensação que nunca sairão do lugar, que nunca passarão do quiosque, que nunca passarão daquela bike presa no coqueiro, que nunca passarão por aquele mendigo bêbado que jaz morto já há uns dez dias, que nunca voltarão para casa, que nunca voltarão para casa de praia, que nunca voltarão para os negócios, que nunca voltarão a usar os negócios comprados graças aos negócios, que nunca voltarão à outra casa da outra família cheia de outros negócios graças ao mesmo negócio, que nunca voltarão ao quinto exame do toque retal, que nunca voltarão à faculdade para buscar a namorada de 18 com corpo de 28 que é amiga de sua terceira filha do segundo casamento que mora na outra casa que não é a primeira na qual mora a primeira mulher mãe dos seus dois filhos homens amante de um dos amigos do filho que faz nela o toque retal porém não só com o dedo mas também com o pênis e não para prevenir alguma enfermidade que provavelmente pode fazer uma pessoa gritar de dor mas para dar-lhe prazer que ocasionalmente vira dor e a faz gritar de prazer dolorido, que nunca voltarão ao trilhogésimo copo de uísque, à nonavanogésima carreira de cocaína comprada graças à renomada carreira no mundo dos negócios, ao quadrpriquilhanosézimo peitinho cabeludo de viadinho que ele gosta de chupar com o auxílio do gelo egresso do seu trilhogésimo copo de uísque que ele, ao que sempre parece, nunca voltará a beber.
Sou um traidor cafajeste da tradição milenar dos corredores estetas entusiastas da virulência sem colesterol de Henry David Thoreau e da intrépida inocência perecível de Chris McCandless. Depois de me gabar para próximos e principalmente para mim mesmo por obter o simbólico, porém não menos importante, título de único brasileiro que não coloca molho shoyo no segmento cru da culinária japonesa (o shoyo em demasia viola o paladar natural da comida nipônica), caí de cara e com (sem) vergonha na bosta que tem o esquete como mote (ou é o contrário?) ao correr ouvindo MÚSICA! OHHHHHHHHHHHH! JOGUEM TOMATES! CEBOLAS GRAÚDAS! EXEMPLARES DO MONGE E O EXECUTIVO! EXEMPLARES DO ROMANCE DO JERÔNIMO TEIXEIRA! EXEMPLARES DO LIVRO DA CARLA DUALIB! EXEMPLARES DA HISTÓRIA DO ROCK DE BRASÍLIA NOS ANOS 80! CÓPIAS DO CD SOLO DO RENATO RUSSO. CÓPIAS DO NOVO DO VELHO DO NEM TÃO NOVO NEM TÃO VELHO CD DA LILY ALLEN! CÓPIAS DO NOVO DO VELHO DO NEM TÃO NEM TÃO VELHO CD DA PITTY! CÓPIAS DE FILMES IRANIANOS QUE TÊM UM SACO PLÁSTICO SUJO DE CHORUME OU UMA LONA DE SUPERFÍCIE ÁSPERA DEVIDO AO INCLEMENTE PODER DO SOL OU UM GRÃO DE AREIA OU UM CAROÇO DE FEIJÃO BRANCO OU UMA ENCHARPE ESCURA COM DETALHES EM VERMELHO OU UM CAMELO MANCO QUE INSPIRA COMPAIXÃO OU A ESTRATOSFÉRICA BOSTA DO CAMELO MANCO QUE INSPIRA COMPAIXÃO COMO MOTE! TAQUE LUCUBRAÇÕES DE MAITÊ PROENÇA. (TAQUE MAITÊ PROENÇA SEM LUCUBRAÇÕES E SEM ROUPA.) LANCE AS FILOSOFIAS DE MARCIA TIBURI. (LANCE A MARCIA TIBURI DE UM PENHASCO ATINANDO PARA QUE ELA EXPLODA SOBRE A BOSTA DO CAMELO CAOLHO QUE TEM O MOTE COMO ESQUETE.) TRANSMITA A SAPICIÊNCIA PRETENSIOSA DE EXCELÊNCIA GRAMATICAL À LA PASQUALE DA ACABADA/ PICHADA PENÉLOPE REQUENGUELA FILHA DO VELHO NOVA. ENTUPA OS CORREDORES SOLITÁRIOS DA MINHA CASA COM AS GARGALHADAS NICOTINADAS DO TIO BARBARA GANCIA E DA TIA JOSÉ SIMÃO. FAÇA-ME ACREDITAR QUE A IMPRENSA “INDEPENDENTE” EXISTE E QUE “NADA” NEM “NINGUÉM” PAGA PARA ELA EXISTIR.
A aparição da música dos outros na minha corrida foi um experimento causado por uma ocasional preguiça de não querer correr em um determinado dia que acabou por se tornar um vício. Uns experimentam cigarros e viram fumantes. Outros experimentam Miolo e sabe-se lá por que diabos viram esnobes – e eu conheço gente assim. Outros experimentam ouvir Cansei de Ser Sexy ou Garotas Suecas ou Fernanda Takai ou MixHell ou Moptop ou Vivendo do Ócio e viram fãs. De todos os males, o meu é o menor.
No momento não consigo correr sem um sonzinho. Tênis gastos e boa música fazem a diferença na performance. A música funciona como um aditivo que estimula as partes do corpo que teimam em congestionar a fruição das engrenagens. Não necessariamente a música precisa ser agitada. Exemplo: Eu corro ouvindo Nick Drake. Eu corro ouvindo Owen. Eu corro ouvindo Toe. No entanto, correr ouvindo Bom Iver, não dá. Nem Sade. Nem pense em colocar Sigur Rós. Muito menos Enya. Ou o mestre Yanni. (Erasure é muito selvagem.) É preciso de certos estados de espírito para obter resultados que realmente valham a pena. Não dá para misturar esportes e garotas. Não dá para colocar o Álvaro Pereira Júnior e o Marcelo Tas em uma mesma sala sem que um deixe de chupar o pau do outro. Do mesmo modo que é incompreensível Deus ter deixado Ray Charles e Stevie Wonder cegos (“ah, cara, mas justamente por eles serem cegos é que a música deles alcança um nível tão sublime de beleza”; “beleza, cara, então vou furar os seus três olhos para ver se a mesma coisa acontece, posso?”; “ah, não, cara, tenho medo”) e não ter deixado José Luiz Datena e Lobão mudos. Pequenas regras da existência que valorizam as partes iguais, mas ignoram a ambição que não pensa duas vezes na hora de tentar tomar o que não lhe pertence.



Errar é humano.
O erro é humano.
O humano é um erro.

Eu começo com Purple Blaze, de Ris Paul Ric, ex-guitarrista, vocalista e tocador de maracas do finado e eternamente fantástico Q and Not U. Letra perfeita, melodia que deixa uma sensação de saudade a cada segundo que a música se esvai – como a despedida de um amor impermanente. Em seguida vem Palindramatics, dos nova-iorquinos do Able Baker Fox, rock na medida certa, sem abusar no colarinho. Quando menos se espera vem o equívoco, experimentos passíveis de erro. Péssimos primeiros encontros, sorrisos insinuantes poluídos pela couve, sonos conturbados calcados por lapsos de visões de parentes já falecidos cercados por palhaços malévolos, bailarinas assassinas, ambos com os rostos maquiados com sangue; dores agudas no tornozelo direito, estalos assustadores nos joelhos, mau jeito nas costas e o baço grita “Pare!”. Li sobre uma banda chamada The Gaslight Anthem. O jornalista dizia ou dizia o que outro jornalista (inglês ou americano) já havia dito que o som era uma mistura de punk rock com Bruce Springsteen. O hardcore melódico foi sempre ignorado e considerado a pior vertente do hardcore pela crítica que vê até na estática de uma televisão uma visão reveladora engendrada pela mente calva de um artista que já preparou – 290 páginas – a longa ‘moral da história’ chamada eufemisticamente de “Contexto” ou visceralmente de “Qualé desta merda?”. O visual e a biografia, verossímil ou fictícia, fazem o ladrão ficar bonito, cultuado e até mesmo, veja só, talentoso. Os críticos de tendência “Antes Tudo Do Que Música” podem dizer da forma mais blasé e esganiçada possível: Ninguém mandou o Fat Mike nascer Fat e realmente desgrenhado! (e não meticulosamatematicaminuciosaoobsessivamente desgrenhado.) A embalagem do começo de carreira do Kings of Leon vendeu o som que não era do Kings of Leon em uma embalagem biográfica que não era o Kings of Leon, enfim, o Kings of Leon era uma banda que não era, era uma banda que não era o Kings of Leon. Atualmente, o Kings of Leon é o que não era. O quê, por exemplo? Sei lá, alguma coisa, alguma coisa é. Já sei, o Kings of Leon é tudo que um ex-gay é!
Voltando ao assunto, The Gaslight Anthem é correto. O que é apenas correto, pelo menos para mim, não é especial. Não faz diferença. É o Morais no Corinthans. Sou corintiano e espero que o Morais, no fundo meu coração combalido, me faça calar a boca. Sou um entusiasta da boa música e desejo que o próximo disco do The Gaslight Anthem seja o melhor disco da história do rock. Por enquanto nada passa de uma expectativa que não condiz com a realidade. É o famoso “eles fazem Rock’n Roll honesto” que os pseudos críticos dos anos noventa usavam para classificar as novidades de bandas decadentes do calibre de Inocentes, Ultrage A Rigor, Plebe Rude e afins. “Como é o seu novo vizinho?” “Ele só serve para dar oi, tchau e, quem sabe, carregar por cinco metros, mais por educação do que por qualquer outra coisa, a parte pesada das compras no final de tarde.” A crítica de arte é compreendida pelos críticos como faculdade essencial. Para quem? Para os chatos. Crítica de arte é, não devia ser, mas é, puro gosto. Não sou didático, mas... travestido de discurso cujo responsável se considera um “especialista”. E é aí que a merda cremosa voa para todo lado acertando em cheio a goela do coitado que pensa que é bem informado mas não passa de uma vítima da ditadura do espaço que preenche o vácuo dos corretos. Eu gosto de NOFX, mas não gosto de The Gaslight Anthem, o ponto é esse? Para eles, sim, embora não acreditem. Para mim, mais ou menos ou não. “Mais ou menos ou não, que porra é essa, gato?” Ser mais velho que um fã adolescente do Arctic Monkeys ajuda. Ser mais velho que um fã adolescente do Arctic Monkeys mas agir como tal é como usar a baby look roxa de qualquer peido cibernético que é a nova fofoca da web e ficar com a barriga inchada de fora de tanta cerveja à base de trigo. Mais sucintamente: é ridículo. Confesso que me desdobrei para criar alguma simpatia pela Nação Zumbi. Mas não consigo. Não consigo gostar de jeito nenhum. Já ouvi todos os discos, já fui a diversos shows e o meu semblante permanece igual ao do escritor sul-africano J.M.Coetzee na contra-capa de seus livros.

(Cara J.M.Coetzee)

Entretanto, devo reconhecer que os caras são ótimos artistas. Eu só não consigo gostar, e, afinal, quem sou eu? Sou apenas um rapaz latino-americano com um pau de 29 cm. Em contrapartida, o NOFX é melhor musicalmente que o The Gaslight Anthem. “Eu ainda compro vinil, eu ainda compro fita-cassete, eu ainda compro CD, eu ainda freqüento a London Calling, eu ainda digo para todo mundo que sou órfão do Lado B sob a tutela do Kid Vinil, eu ainda tenho o pôster do Jarvis Cocker fazendo pose de dândi e não concordo com você!” Foda-se e seja feliz! “Foda-se e seja feliz? Nossa, que dicotômico... isola, não acredito, olha quem tá ali, é a Erika Palomino!” Foda-se e seja feliz! “O que é isso, o Smiths vai voltar?” Foda-se e seja feliz! “Li pela metade, não entendi, mas gostei o bastante para dizer a todo mundo que mudou a minha vida e recomendei até mesmo para o ‘bode’ do meu psicanalista.”

Foda-se e morra de desgosto pelo mundo que criei pra mim.
Pelo menos ele é meu.