O ser humano (médio de rosto) só aprende o quão maravilhosa e inebriante pode ser a vida quando se apaixona perdidamente por alguém. Pode ser do sexo oposto ou do mesmo sexo. Sem validade a animais irracionais.
O ser humano (médio de rosto e sem barriga e que já leu no máximo uns dez gibis da Marvel Comics e foi coagido pelos pais a se fantasiar de baiana em sua primeira festa à fantasia no Ilha Porchat Clube) só aprende o quão filha da puta e desprezível e dolorosa e injusta e pútrida e sufocante e tenebrosa e lúgubre (mesmo não sabendo o significado da maioria dessas palavras) pode ser a vida quando se apaixona perdidamente por alguém e esse mesmo alguém o fode com o fim daquilo que ele (o ser humano médio de rosto com uma ligeira barriguinha provocada pela fusão aprazível de cevada com álcool e que já escutou, durante um ano, pelo menos três vezes por dia, toda a discografia do Beastie Boys, mais especificamente de Licenced To Ill a Ill Comunication - 1986 a 1994 -, e que chorou na pré-adolescência ao assistir, no cinema, acompanhado pelos pais, o clássico do mela cueca e da umidade involuntária de camisetas brancas da Jinglers adquiridas na CeA, tamanho M, ou seja, O Meu Primeiro Amor, muito antes do chapado Macauly Culkin ser chapado, muito antes da protagonista sumir do epicentro ilusório hollywoodiano, e um pouco antes de Jamie Lee Curtis se entregar à condescendente máxima que a idade transforma boazudas em figuras análogas a cinzentos postes de concreto e pedras de jardins ocultas pelo antes cremoso agora duro excremento de labrador de 9 meses de existência) acreditava piamente que seria o seu eterno porto-seguro protegido pelas generalizadas (“toda mulher é vagabunda, menos a minha”) desgraças que acontecem a todo instante com todas as pessoas que, por intervalos (males?) necessários, tentam porém não conseguem dissecar a sua (minha, nossa, de todos nós) vida, principalmente na altura em que a indagação: “Como vai a “porra” da sua vida amorosa?” é levantada e instantaneamente deixada à lei da gravidade tal como o baque estrondoso da queda de uma bola de boliche preta sobre a calçada atulhada de restos de bexigas coloridas devido ao pós-bem aventurado aniversário de 15 anos da igualmente média e divertida menina que, em um passe mágica, escureceu o céu de verão.
Rocambole é o cara. Gordo e peludo. Reza a lenda que, nos primeiros cinco tenros anos de vida, já ostentava cavanhaque à la Rasputin e um carbonizado matagal de pêlos psicodelicamente emaranhados na região da bunda. Primeiro colocado no IV Campeonato Interno de Flatulência Matutina do Colégio Coração de Maria, hoje relega a segundo plano os prazeres libertinos do fim de semana para assistir à maratona de um milhão de episódios puxados da internet do desenho nipônico Dragon Ball. Veste cuecas box por prazer. Ouve Napalm Death e Shai Hulud para relaxar, embora tenha feito parte, tacitamente, porém com desmesurada paixão, do fã-clube do cantor de pagode Salgadinho. Foi vegetariano durante dois longos dias, depois sucumbiu à salsicha e até hoje participa, sorridente, munido de um sanduíche de carne moída com muito molho sempre à mão, de rinhas de galo, embate entre cães e festejos em churrascarias (9,90 o rodízio completo) abalando no vídeoke ao cantar, sempre de boca cheia e ébrio, a canção Magic, do Pilot.
Luana: deusa da volúpia, principal motivo da insurgência hormonal púbere que culmina em um esquadrão de espinhas e a probabilidade nada improvável de dar um tiro na cabeça aos 15 anos de idade. Nunca existiu mais bela e gostosa moçoila. (Ou potranca, na linguagem intelectual.) Lia de tudo, sobretudo o que não prestava: figuras, Fatos e Fotos e O Livro de Letras do Boy’s II Men. Injustamente, era chamada de cachorra pelas rivais. Meses depois, reconheci, era uma tremenda vaca.
Renata: O meu primeiro amor. Dois anos de paixão, um ano de sexo e nada de sexo oral. Quando acabou, colei uma foto dela atrás da porta do meu quarto. Comecei arremessando dardos coloridos. Passei para uma flecha de madeira do tamanho do membro sexual do Kid Bengala. Terminei jogando pedras no mar, chutando poças d’ água, tomando banho de chuva pelado e adotando um filhote de labrador.
Cat Power ou Chan Marshall: um amor impossível de ser concretizado. Além do mais agora que ela parou de beber.
Pietra: a mulher da minha vida, o amor em proporções interplanetárias. Sem ela, a minha sensação de alegria seria a mesma que ganhar de presente no natal um par de meias finas e um DVD do acústico do Maná.
Mãe: perdão por todos os infortúnios que lhe fiz passar. Perdão por repetir a quinta série. Perdão por repetir a sexta série. Perdão por repetir a sétima série. Perdão por repetir o mesmo modelito em vários festejos familiares. Perdão por usar a camiseta do “Fun People” no enterro de sua amiga Cíntia Nunez. Perdão por ir de chinelo, bêbado, seminu, com um lacre de alumínio de cerveja fazendo as vezes de um piercing mamilal, nas bodas de ouro da vovó Leonor. Perdão por quase obrigá-la a assistir ao meu lado ao filme Irreversível (o filme é bom, mas com a mãe não dá). Eu lhe perdôo por me vestir de travequinho mirim no meu primeiro baile de carnaval. Eu lhe perdôo por me obrigar a usar aquela vergonhosa boininha da Bad Boy durante considerável período da minha pré-adolescência. Eu lhe perdôo por não ter nem uma mísera foto da época em que eu era um porcalhão bebê (mãe, seja sincera, eu sou adotado?). Contudo, com nada, ou só com alguma coisa, agradeço a você e ao papai por não terem cogitado a possibilidade de me batizarem com o nome de Telmo.