segunda-feira, 2 de março de 2009

Cut (Love) Up

Homenagem aos homens de verdade. Aos homens que não são retratados pelas revistas “ditas” masculinas. Aos homens que muitas vezes esquecem de passar o “bendito” desodorante e são repelidos pelas garotas sem nem ao menos presumir que a sorte abomina descuidos. Aos homens sem vaidade, que atravessam uma boa fase sexual com a mesma freqüência que o cometa Halley atravessa o Planeta Terra. Aos homens que se perguntam no Dia Internacional da Mulher:“Por que não tem Dia Internacional do Homem?”. Aos homens que assistiram ao filme Procura-se Amy e concordaram com a constatação que Deus, no oitavo dia, criou a cerveja.


O ser humano (médio de rosto) só aprende o quão maravilhosa e inebriante pode ser a vida quando se apaixona perdidamente por alguém. Pode ser do sexo oposto ou do mesmo sexo. Sem validade a animais irracionais.
O ser humano (médio de rosto e sem barriga e que já leu no máximo uns dez gibis da Marvel Comics e foi coagido pelos pais a se fantasiar de baiana em sua primeira festa à fantasia no Ilha Porchat Clube) só aprende o quão filha da puta e desprezível e dolorosa e injusta e pútrida e sufocante e tenebrosa e lúgubre (mesmo não sabendo o significado da maioria dessas palavras) pode ser a vida quando se apaixona perdidamente por alguém e esse mesmo alguém o fode com o fim daquilo que ele (o ser humano médio de rosto com uma ligeira barriguinha provocada pela fusão aprazível de cevada com álcool e que já escutou, durante um ano, pelo menos três vezes por dia, toda a discografia do Beastie Boys, mais especificamente de Licenced To Ill a Ill Comunication - 1986 a 1994 -, e que chorou na pré-adolescência ao assistir, no cinema, acompanhado pelos pais, o clássico do mela cueca e da umidade involuntária de camisetas brancas da Jinglers adquiridas na CeA, tamanho M, ou seja, O Meu Primeiro Amor, muito antes do chapado Macauly Culkin ser chapado, muito antes da protagonista sumir do epicentro ilusório hollywoodiano, e um pouco antes de Jamie Lee Curtis se entregar à condescendente máxima que a idade transforma boazudas em figuras análogas a cinzentos postes de concreto e pedras de jardins ocultas pelo antes cremoso agora duro excremento de labrador de 9 meses de existência) acreditava piamente que seria o seu eterno porto-seguro protegido pelas generalizadas (“toda mulher é vagabunda, menos a minha”) desgraças que acontecem a todo instante com todas as pessoas que, por intervalos (males?) necessários, tentam porém não conseguem dissecar a sua (minha, nossa, de todos nós) vida, principalmente na altura em que a indagação: “Como vai a “porra” da sua vida amorosa?” é levantada e instantaneamente deixada à lei da gravidade tal como o baque estrondoso da queda de uma bola de boliche preta sobre a calçada atulhada de restos de bexigas coloridas devido ao pós-bem aventurado aniversário de 15 anos da igualmente média e divertida menina que, em um passe mágica, escureceu o céu de verão.


Milton. Homem de 25 anos. Barba por fazer e camisetas sem estampas. Não lhe agrada o tamanho do próprio pênis. Não vê demérito algum pagar para comer alguém. Nunca chupou uma buceta porque até então nunca teve uma namorada. Quando lhe perguntam se quer transar: “Só com camisinha.” Se arrepende por desperdiçar sábados, que poderiam ter desfechos mais significativos que uma simples ejaculada na própria mão, por assistir loiras norte-americanas chantilizadas refestelando-se em rôlas caribenhas em compilações pornográficas destinadas a esquecidos jovens insatisfeitos com o ritmo da própria respiração. Não anda de montanha-russa porque já sonhou que estava morrendo na mesma. Sim, pensou em se matar. Enforcar-se nu. Mas teme se tornar motivo de chacota mesmo depois de morto.


Rocambole é o cara. Gordo e peludo. Reza a lenda que, nos primeiros cinco tenros anos de vida, já ostentava cavanhaque à la Rasputin e um carbonizado matagal de pêlos psicodelicamente emaranhados na região da bunda. Primeiro colocado no IV Campeonato Interno de Flatulência Matutina do Colégio Coração de Maria, hoje relega a segundo plano os prazeres libertinos do fim de semana para assistir à maratona de um milhão de episódios puxados da internet do desenho nipônico Dragon Ball. Veste cuecas box por prazer. Ouve Napalm Death e Shai Hulud para relaxar, embora tenha feito parte, tacitamente, porém com desmesurada paixão, do fã-clube do cantor de pagode Salgadinho. Foi vegetariano durante dois longos dias, depois sucumbiu à salsicha e até hoje participa, sorridente, munido de um sanduíche de carne moída com muito molho sempre à mão, de rinhas de galo, embate entre cães e festejos em churrascarias (9,90 o rodízio completo) abalando no vídeoke ao cantar, sempre de boca cheia e ébrio, a canção Magic, do Pilot.

Rick. Insignificância em altura. Hercúleo em estima. Ou alienado a respeito do surgimento da autocrítica. Nasceu no nordeste mas acha que é carioca. Tentou xavecar Débora Falabela. A atriz. Não pegou. Lógico. “Tente outra vez” é um lema que ele persegue, “não basta só vestir a camisa”, munido de profunda obsessão. “Tente não tentar outra vez” é o lema que os seus amigos insistem para ele adotar de uma vez por todas. Ele sempre entende tudo como “pegar todas”. Todas as velhas com mais de 67 anos de idade.

Maneco não é filho de português. Não sabe nem de quem é filho. O pai sumiu e a mãe não o convence. “Ela me ama, eu sei. Mas eu sou moreno bombom e ele é ruiva, porra, ela não tem como ser a minha verdadeira mãe.” Talvez pela ausência de carinho materno (ou pela inexistência de carinho filial) deixa o seu melhor amigo, Espiga, depilar o seu cu. “Mãe, não é isso que a senhora está pensando.” As fontes pesquisadas afirmam que sua cama de dormir é sustentada por dezenas de fitas de vídeo de hardcore. De sexo hardcore. “Não vai pegar todas, senão a cama vai ficar torta, eu odeio quando acontece isso.” (Entre elas está o blockbuster “É Grande!”.) Outras fontes pesquisadas juram que ele costuma encher bexigas até a metade, de preferência da cor vermelha (“verde parece E.T”), deixando proeminente o bico que se forma na parte superior da bexiga a ponto de se assemelhar com um peitinho para depois chupá-lo e, ao mesmo tempo, socar uma imaginando sorver a teta esquerda da Márcia Emperatori. “É, aquela que urra.”


Cut (Love) Up #2


Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, ofereço com todo o amor do mundo, às garotas que passaram pelas minhas mãos, as minhas impressões melífluas e imparciais.



Angélica: tinha 20 anos de idade, tinha buço, só ficávamos no selinho, em vez de ela sentar no meu colo eu sentava no colo dela. Os motivos cruciais dessa inversão de posição se devia ao fato de na época eu ter somente nove anos de idade e ela ser gorda pra cacete. O fim do relacionamento partiu dela (antes de partir o relacionamento ela partiu duas mesas de mogno, cinco pias de mármore e um tablado de madeira sobre o qual me entretia com danças eróticas), isso porque me traiu com o meu tio “ainda mais gordo” chamado Júlio, depois casou-se com um micro traficante que acabou morrendo de aids anos depois. Ela não foi infectada.


Flávia: peitudinha, a menina mais assediada do bairro, a menina mais assanhada do bairro, a menina mais rodada do bairro - um verdadeiro rodízio de um só sabor. Namoramos por três meses até o momento que ela esqueceu que era minha namorada e começou a namorar mais três caras ao mesmo tempo. Eu tinha 13 anos na época. Hoje, Flávia é mãe de dois filhos feios e mais parece a Daniele Hypólito do que qualquer outra coisa. (Qualquer outra coisa seria bem melhor para ela.)

Luana: deusa da volúpia, principal motivo da insurgência hormonal púbere que culmina em um esquadrão de espinhas e a probabilidade nada improvável de dar um tiro na cabeça aos 15 anos de idade. Nunca existiu mais bela e gostosa moçoila. (Ou potranca, na linguagem intelectual.) Lia de tudo, sobretudo o que não prestava: figuras, Fatos e Fotos e O Livro de Letras do Boy’s II Men. Injustamente, era chamada de cachorra pelas rivais. Meses depois, reconheci, era uma tremenda vaca.


Renata: O meu primeiro amor. Dois anos de paixão, um ano de sexo e nada de sexo oral. Quando acabou, colei uma foto dela atrás da porta do meu quarto. Comecei arremessando dardos coloridos. Passei para uma flecha de madeira do tamanho do membro sexual do Kid Bengala. Terminei jogando pedras no mar, chutando poças d’ água, tomando banho de chuva pelado e adotando um filhote de labrador.



Denise: professora de inglês com a voz mais sexy do mundo. Nunca faltei enquanto ela me deu aula. Pena que a única coisa que ela me deu foi aula - e de inglês. (Ah, claro, e um biscoito de maisena estragado.)


Cat Power ou Chan Marshall: um amor impossível de ser concretizado. Além do mais agora que ela parou de beber.

Pietra: a mulher da minha vida, o amor em proporções interplanetárias. Sem ela, a minha sensação de alegria seria a mesma que ganhar de presente no natal um par de meias finas e um DVD do acústico do Maná.



Mãe: perdão por todos os infortúnios que lhe fiz passar. Perdão por repetir a quinta série. Perdão por repetir a sexta série. Perdão por repetir a sétima série. Perdão por repetir o mesmo modelito em vários festejos familiares. Perdão por usar a camiseta do “Fun People” no enterro de sua amiga Cíntia Nunez. Perdão por ir de chinelo, bêbado, seminu, com um lacre de alumínio de cerveja fazendo as vezes de um piercing mamilal, nas bodas de ouro da vovó Leonor. Perdão por quase obrigá-la a assistir ao meu lado ao filme Irreversível (o filme é bom, mas com a mãe não dá). Eu lhe perdôo por me vestir de travequinho mirim no meu primeiro baile de carnaval. Eu lhe perdôo por me obrigar a usar aquela vergonhosa boininha da Bad Boy durante considerável período da minha pré-adolescência. Eu lhe perdôo por não ter nem uma mísera foto da época em que eu era um porcalhão bebê (mãe, seja sincera, eu sou adotado?). Contudo, com nada, ou só com alguma coisa, agradeço a você e ao papai por não terem cogitado a possibilidade de me batizarem com o nome de Telmo.



Maria Fernanda Lossavora Marques da Roz (1915 – 2009): minha segunda mãe, minha eterna avó. Adeus.