segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As gostosas da sétima série são as gordas eternamente grávidas do agora


Eu estudava em um colégio particular com o distinto conforto de um colégio estadual. Na sétima série a classe tinha 63 alunos. 60% composto por mulheres. A maioria dessas meninas era mais danada do que o mais testosteronico dos homens. Metade da ala masculina era composta por micro-criminosos (pichadores, cheiradores de cola, de benzina, adeptos da erva do Bob dos Marley, ladrões de refrigerante, alcoólatras pueris, fãs de Marcelo D2, espancadores de mulher, sonhadores em busca da dádiva da pós-graduação do estupro, afogadores de gordinhos nerds que, no primeiro momento, não passavam cola a eles, mas depois de apanharem bastante, sofrerem bastante, prostravam-se como prostitutas regeneradas pelos braços gordos, suarentos, dourados, de um ex-cliente bem feitor). A outra metade era substancialmente heterogênea – nerds chatos, nerds legais, gargalhadores que até babavam em suas ridículas jardineiras, orelhudos patinadores, desafortunados de língua presa, míopes sem sorte nos esportes, narigudos e orelhudos, obesos gentis, obesos efeminados, ingênuos que se achavam o máximo por irem à escola de mobilete, aspirantes a valentões protometrossexuais, filhos de dono de padaria com halitose, assinantes incógnitos de revista de mulher pelada das mais variadas, orelhudo e narigudo e gordo e com o rosto atulhado de espinhas amareladas, e magrinho cabeçudo inusitadamente bom nos esportes, amigo dos nerds legais, respeitado pelos nerds crápulas, estimado pelos valentões, incompreendido pelos professores, companheiro dos feios, conselheiro dos anormais, mediador das diferenças, por um semestre adorado pelas mulheres, por outro sumariamente odiado pelas vacas; ou seja, falo de mim mesmo.
Em circunstâncias normais, não era para eu estar naquilo que se tornou o maior pandemônio na história da Escola Adélia Camargo Corrêa. Antes, havia reprovado dois anos em outras instituições. No colégio Alfa, exemplo de ensino elitista guarujaense, onde se tinha que levar papel higiênico da própria casa, senão teria que flanar pelo suntuoso pátio com a bunda suja, me fodi na quinta série, em quase todas as matérias, menos em educação física; e no Don Domênico, reduto dos playboys enfurecidos por serem playboys, que cometiam atos ignominiosos tais como a deglutição das próprias unhas ao vivo, a extirpação de espinhas sanguinolentas contra paredes quase translúcidas e a audácia de conceberem respostas invariavelmente ofensivas que visavam professoras corcundas de história que possuíam laços familiares estreitos com Platão, Aristóteles e o machão do Sócrates, me estrepei na sexta série, em matemática e geometria.
Segundo o método criado pelos meus pais, por meio do qual a minha incompetência era julgada sem compaixão e com requintes de crueldade, eu teria que mudar de colégio a cada vez que fosse reprovado – com a atenuante condição de ter que fazer as malas somente a escolas particulares, pois eles tinham medo da triste possibilidade de seu querido rebento tratado a pão de ló ser esfaqueado ou currado por um bando de pré-adolescentes selvagens. Outro quesito desse método era que, embora eu fosse aportar em mais uma instituição particular com o meu rosto angelicalmente corado, obrigatoriamente seria matriculado em uma versão menos bem sucedida que a antecessora. Em outras palavras, não faria mais trabalhos escolares com herdeiros de políticos, mães platinadas peitudonas não escutariam mais o meu tímido mas sensual sibilar as agradecendo pelo rocambolesco lanche da tarde, e a melhor notícia de todas é que não haveria mais necessidade em me apaixonar por garotas impossíveis, intocáveis, musas sem defeitos – à época desconhecia o fato que a falta de idéias é um câncer grave que concebe fracassos e se alimenta da própria criação.
Toda a paz e respeito que adquiri na sétima série talvez tenha sido uma recompensa pelos sucessivos e intermináveis anos em que sofri nas mãos de crianças grandes papudas de unhas sujas que por meio da violência minimizavam o seu diligentemente atualizado acúmulo de desventuras sociais. Recebi o meu primeiro soco na cara muito antes do primeiro beijo. Vi amigos atolados na espécie mais cruel de subordinação. Guarujá é tão pequena que não faltam ocasiões para esbarrar fisicamente no outrora diabo dos seus pesadelos. Eles mastigam de boca aberta enquanto saúdam amantes contratadas num esforço sobre-humano de infundirem discrição na inevitável brusquidão dos seus gestos. Nas bolsas de aposta são favoritos absolutos a terem o próximo ataque fulminante nos intumescidos corações gordurosos. Não falam, cospem. Não abraçam, esmagam. Não lembram, esquecem. Ao contrário delas, suas sempre atuais - estava escrito nas estrelas - esposas chifrudas, aquelas coitadas que inspiram compaixão alheia tamanho o descontrole absoluto das crianças que se agarram histéricas em suas roupas de grife já alargadas pelas mãozinhas geneticamente ignóbeis. Elas, as cornas permanentes que insistem em evocar o passado glorioso repleto de luxúria e intransigência, jamais esquecerão da ensolarada adolescência. Jamais intuirão que os verões noventinos eram mais claustrofóbicos do que os verões atuais. Elas reviram minuciosamente álbuns de fotografia em busca de consolo. Não invejam as amigas porque essas estão em pior situação. Provam freneticamente as roupas que caiam tão bem há alguns anos atrás, nem são tantos anos assim, e que agora as banhas fazem questão de estragar derramando os funestos tecidos adiposos sobre os fechos antes vistos pelos inúmeros ávidos rapazes como a única porta capaz de se comparar à exultante sensação de conquistar a Copa do Mundo.
Paloma me viu e fez questão de rolar o corpanzil redondo em minha direção. Olhou nos meus olhos com olhar explícito de expectativa. Enfim a chance tão sonhada de poder cruzar o limiar em direção à máquina do tempo. Um passo pra trás em busca do progresso. Fisicamente eu não mudei nada. Ela sabe disso mais do que ninguém. O único consolo nutrido pela circunferência ambulante é a possibilidade de não ter havido uma alteração drástica na minha risível personalidade inocente. Ela espera elogios. Não se pergunta como porque está excepcionalmente interrompida a inclemente visão auto-crítica que nutre sobre si mesma à base de muito açúcar, sal, pizza, batata-frita, ausência de orgasmo, perda de fôlego, curso por correspondência de interpretação dramática em prol do fingimento em pleno ato de fornicação, duas horas diárias de desfalecimento acompanhados de sonoras flatulências e estertores modelo porco e ingestão de suor azedo com pitadas de pêlos descoloridos e pentelhos companheiros saudosistas de órgãos genitais invisíveis... Não a vi chegando até mim. Vi gotas de suor sobre sua testa. Vi uma torrente de suor sobre os seus braços. Não vi o seu pescoço. Ilustrei internamente o fato de poder tocar os seus seios com o dedão do meu pé. Conjeturei pleno de certeza a visão patética que deve ter sido o percurso de sua maratona em busca da linha chegada (eu). Conjeturei a triste empertigada corporal no apoteótico, não menos grotesco, intuito de empinar a geleienta comissão de frente repleta de atrativos similares a uma esparramada ilha desmatada, ausente de turistas, famosa pelo seu passado e devastada por antigos homens que usaram, abusaram e sugaram todos os belos atributos naturais a tornando um ambiente digno de pena. Conjeturei os bastidores, a pré-balada, as palavras saindo da boca do marido, o esposo calvo, ele era mais bonito, ele era o mais bonito, o bafo de cebola se intensificando à medida em que se aproximava à boca da mulher, que já foi tão linda, que só com o olhar era capaz de escravizar uma legião de garotos sôfregos, e hoje tem opacas olheiras escondendo os olhos esverdeados, o semblante extenuado de tanta amamentação, de limpar merda fresca, de carregar trinta quilos em cada braço, de ter que fugir desesperadamente de lugares públicos devido à abertura do berreiro dos seus fofos herdeiros que destruíram de vez a sua vida, mas ela os ama tanto, mesmo quando pede a Deus para acordar no dia seguinte com 15 anos de idade, livre de tudo, cheia de esperança, prometendo a si mesma não cometer os mesmos erros, já que ela conheceu o futuro e não gostou de nada do que viu lá, principalmente ao se olhar no espelho e se impressionar por se reconhecer em um corpo de dirigível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cloaca PO(dre ou bre)P

“Se escutar Pitty é sinônimo de bom gosto, então definitivamente nós estamos fudidos!”
Ernest Hemingway, do além-túmulo.

O VMB (Visível Merda Brasileira) é um prêmio-festa-freakshow-TV Fama que estimula o pior que a cultura brasileira tem de pior (muito além da redundância) na mente das pobres almas ignorantes que são nada mais nada menos (“e a vírgula?”, questiona Professor Pasquale) que o desventurado e raquítico (na verdade a maioria deles está até bem acima do peso, mas me refiro aos anoréxicos de intelecto, embora não aprecie 100% esta palavra) tropel adolescente que, infelizmente, se afunda cada dia mais nessa merda movediça desconhecida mundialmente (acorda, Cansei De Ser Sexy, nisso, só nisso, concordo com o Álvaro Pereba Júnior da Sandy de Moicano) como mundinho pop/fashion/alternativo/risível/irritante/cancerígeno tupiniquim.
(Se te irrita as minhas “digressões”... dez segundos para consultar o dicionário. Cinco, quatro, três, dois, um, zero. Se te irrita os meus desvios, minhas divagações, minhas constantes tentativas de desviá-lo do assunto, o meu abandono do dever de guiá-lo pelo caminho mais seguro – então, aprendeu? -, vai ler o diário de confissões cor de rosa-choque da Mari Moon ou a profunda mensagem subliminar demoníaca encontrada nas letras da assopradora de cata-vento e unabomber de bolinhas de sabão, Malu Magalhães.)
A Mtivi ou Mtêve surgiu no Brasil em 1990. Nasceu nos Estados Unidos no começo da década de 80, e, quando aportou aqui (com uma bicuda bem no meio da bola esquerda do meu saco dado pela Marina Lima), já era bastante criticada lá fora pelos “artistas” (nem todos eram, mas criticavam, critique você também) devido ao desserviço que prestava à música – leia-se Snap, que hoje é cult; Milli Vanilli, dupla de não-cantores que se viu livre desde o começo do pior falso elogio perpetrado pelos onanistas ambidestros musicais, ou seja, de banda honesta!; Poison, banda de idéia deveras contrária ao Poison Idea; Extreme, extremamente gay; Right Said Fred, o do “I’m Too Sex’y”, o grupo mais macho entre os skinheads; Madonna, menina que amarfanhou o vestido de noiva um século depois de Madame Bovary amarfanhar o seu vestido de uma forma que podemos classificar de quase ostensiva ao descer da carruagem após entrar para o clube das danadinhas; menina (ainda Madonna) que beijou o Santo Antônio milhares de anos depois de Édipo comer a própria mãe; menina (a mulher do Guy Richie) que gravou um disco gemendo, fingindo orgasmo, embalada por uma batida tão envolvente quanto o melhor sucesso das sensoriais canções de elevador, pelo menos vinte anos depois de Serge Gainsbourg e a deliciosa Jane Birkin gravarem Je Taime; menina (a de Procura-se Susan Desesperadamente, rsrsrsrsr) que fez os nossos hermanos vomitarem ao interpretar Evita Perón, e que depois os quase obrigou a cometerem suicídio coletivo ao cantar a Celinedionesca “Don’t Cry For Me Argentina”, e que com toda a certeza os deve ter enchido de um gigantesco orgulho ao cantá-la na língua mãe dos seus piores inimigos históricos: os ingleses; menina (a Cindy Lauper é a outra) que depois de mostrar a língua para as estáticas santidades religiosas (de modo muito mais suave que Sinead O’ Connor, que rasgou a foto do Papa no programa Saturday Night Live, atitude bastante compreensível vinda de uma pessoa que foi estuprada pela própria mãe na infância), resolveu abarcar a Cabala com todo o amor (lembrem-se, esta frase virará uma camiseta, Tim$$$ Tim$$$, assim espero, que “Toda religião é uma forma de preconceito”); garota (continuo na vaca) materialista que em matéria de recepção de semens de porcos engravatados (Motolla’s, Geffen’s) e cúmplices (Timbaland, Justin Timberlake, Pharrel Williams, Orbit, outros produtores altruístas que compõe tudo mas se abstém de colocar os nomes nos créditos, fãs estúpidos, v j’s estúpidos, jabás espúrios, excelentes dançarinos) que ao longo dos anos moldaram (e ainda moldam) o (dela) talento da mulher considerada arauto da cultura PO(dre ou bre)P que, depois de tanta rôla e falsa subversão, lança livros infantis e adota crianças africanas/asiáticas mais de meio século depois de Gandhi transformar uma nação com inteligência, jejum, paz, sacrifício, falta de roupa, de paparazzis, de dinheiro, de sexo e nem por isso ficar se gabando ($$$$$$$$$$) por ter feito o bem!
O modelo de confronto que vem julgando à exaustão as qualidades de uma manifestação artística para todo o sempre é a tão controversa “guerra das gerações”. E jamais pude intuir que em determinado momento da minha existência eu seria tão parecido com a geração que me precedeu ao que se refere à observação desgostosa que venho dirigindo sem escrúpulos à presente defasagem criativa divulgada 23 horas e 45 segundos por dia pela MTV Brasil.
A própria Music Television Brazillis está bem conformada (confortável?) em seus aposentos de cabelos coloridos e adereços vintage (o vintage é o novo, apesar de ser velho, moderno – alguma similaridade com os novos rock hypers?) a ser um mero reflexo (o principal palanque para falsos pastores) de toda podridão insossa que é a nossa cultura “jovem” brasileira. Evidente que seria irresponsabilidade somente culpar a MTV por todo o mal do mundo, porém, cá entre nós, qualquer cidadão (com o mínimo de vergonha na cara e resistência na dificultosa crença do amor ao próximo que sofre com a incapacidade do próximo) filho desse território verde/amarelo que rebola sem nenhum motivo pertinente se tornaria/tornou colérico ao ouvir/ver a porra de um VJ batizado Rafa – uma figura lânguida, disforme, incoerente, destituída de qualquer propriedade confiável – a me dizer o que devo ou não escutar nos “meus” fones de ouvido! Antes tínhamos Fábio Massari, Lado B todos os domingos, entrevistas e performances de Rocket From The Crypt, Superchunk, Seaweed, Lou Reed, Pavement, Man Or Astro Man, Atari Teenage Riot, Bob Mould, Henry Rollins e Beastie Boys (para não ser injusto, devo ressaltar que o próprio Rafa já entrevistou os Beastie Boys em Nova Iorque em ocasião do lançamento do Cd To The Five Boroughs. O tino musical do cara é tão eficaz que ele presenteou o trio nova iorquino com um vinil do... Legião Urbana! Qual faculdade mental tem esse rapaz para supor que os Beastie Boys iriam apreciar o som da banda capitaneada pelo compositor de Eduardo e Mônica?); MTV Rap, Amp, cobertura maciça dos festivais alternativos nacionais e dos grandes festivais internacionais, Gastão e o Fúria Metal; Cazé e o Teleguiado; e muitos outros fatores que concederam à MTV à época o título de emissora inovadora, não só pelo modo como mostrava o que estava sendo realizado no país e no exterior em matéria de música e comportamento, mas também pela revolução estética que imprimiu à televisão brasileira.
E hoje, o que ela tem a nos oferecer, além do Rafa, que atualmente nos encanta com sua banda e com as suas novas descobertas musicais divulgadas na internet (Pasmen!)?
O compêndio do que a MTV Brasil representa, traduz e estimula nessa terrível geração pode ser visto em sua premiação anual intitulada VMB. Eu estava em casa sem nada para fazer (caso contrário não estaria traumatizado e furioso e nem tamborilando os meus dedos avidamente nas teclas deste computador igualmente temperamental) quando no meio do caminho do zap zap tão elementar na nossa sociedade do espetáculo que não passa nenhum espetáculo digno de nota (alta) me deparei com a abertura (por que não o fim?) do tão propalado evento que, depois de tortuosas três horas em que me segurei à cama superando todas as minhas capacidades físicas e psíquicas mantendo os meus olhos na direção da caixa de fazer ineptos produzida por in(s)eptos com sorte, acabou despertando no cerne do meu ser imberbe (é, ainda imberbe) a lembrança mais traumática que essa vida sem riscos foi capaz engendrar: o período em que as espinhas se transformaram no meu rosto, tendo como único consolo o fato de não necessitar de uma - máscara (porque já desenvolvera naturalmente o infortúnio facial) para arrasar, embora não no baile de máscaras (porque nesse seria peremptoriamente excomungado), mas sim na festa do Halloween. Ver o capeta ao dar uma simples olhadela no espelho não fez de mim (moi) alguém agradecido pelo surgimento do peeling e do Roacutan. Andar com rosto amarelo em lugares públicos, tal como enfermos com hepatite e TarsosdeCastros com avarias irreversíveis no fígado, fez brotar na minha testa a intermitente insígnia “No Future!”, que voltou à tona, inesperadamente, logo depois que o Bonde do Rolê arremessou por todos os dar(LA)dos a sua performance sorvete na testa tão engraçada quanto o infeliz que se acha engraçado por colocar a música do He-Man, executada pelo Trem da Alegria, em alguma festa propícia a receber idiotas dessa estirpe.
A MTV Brasil conclama você, garoto e garota, ou garoto que acha que é garota, ou garota que acha que é garoto que gosta de garota e de garoto com outra garota pra fazer um ménage à trois, de 12, 13, 14, 15 anos de idade e sem restrições ao acesso às constantes (“só de piscar já envelheceu;” “olhou pro lado, manda pru lixo”) novas ondas tecnológicas, a participar do falso bacanal, do falso desbunde (desbunde: termo muito usado nos anos 70 para classificar o homo sapiens que gosta de chocar a situação careta que faz careta ao observar a careta do insurgente que não gosta de “caretas”. Ex: Fernando Gabeira andando pelas praias cariocas com uma sunga sugada pelo rabo e envolvido pela dúbia e geométrica bandeira verde e amarela), do falso resgate da liberdade sexual, da falsa adoração falsamente extravasada por meio do falso derramamento de falsas lágrimas de propriedade de falsos fãs de falsas bandas com falsas mensagens com falsos instrumentos que peidam falsas canções; dos falsos apresentadores que contam falsas piadas que provocam falsas risadas, dos falsos agradecimentos pelo recebimento de falsos troféus entregues por falsas mãos; das falsas atrações internacionais que falsamente tocam ao vivo falsas encenações para uma falsa platéia que vaia falsamente a falsa banda que é um falso hype; dos falsos anões que disseminam falsas danças em falsos quadrados em falsos blogs com falsos Kibes e falsa Loucura em meio a falsas mulheres com falsos seios que desprendem falsos aromas de falsas frutas minuciosamente alteradas por tóxicos cirurgiões pagos pelas falsas chupetinhas das falsas mesmas; dos falsos tapetes vermelhos repletos de falsos entrevistadores com falsos microfones revestidos por falsas espumas com falsas opiniões sobre estrelas mort... falsas; das verdadeiras constatações da falsidade de falsos artistas de uma falsa nação que tem mais falsa popularidade em uma outra falsa terra em um outro falso continente que com uma falsa releitura de uma falsa madame com falsos modos falsamente anárquicos que falsamente parece um Tony Tornado em extrema/verdadeira baranguês ao lado de um falso Jaime Balilo verdadeiramente boiola; dos verdadeiros Adnet’s e verdadeiros Kiabos e verdadeiros Hermes e verdadeiros Renatos e verdadeiros Boças e verdadeiros Massacrations e verdadeiros Gils Brothers verdadeiramente espremidos por falsos Mions, por falsos Mionzinhos, por falsos tios com nome de lobo que usam o ~ no próprio falso nome para dar ao seu falso verdadeiro execrável aspecto mais falsa credibilidade para as falsas gerações que acreditam nos seus falsos gestos de asserção.
Portanto, estejam falsamente convidados a aderir a um falso estilo de vida promovido e concebido por falsas mentes que o deixam falsamente à vontade para com falsa liberdade considerá-los como (falsos) amigos!

QVAALV (Quando você acha que acabou, lá vem!) : Todos elogiam a festa pós VMB, sobretudo as pessoas que nunca foram.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

FLIP - Festa Literária Impenetrável de Paraty

(Em todo o mês de julho, desde 2003, rola em Paraty a Flip, que é a Festa Literária Internacional de Paraty. Durante cinco dias, dezenas de escritores, de várias partes do mundo, se encontram, dão palestras, dão autógrafos, dão entrevistas, dão vexame por extrapolarem na quantidade de cachaça, dão a bunda – nem todos – dão uma de antipáticos e dão sono quando a palestra é uma porcaria. Sei que estamos em outubro, sei que o negócio aconteceu há três meses atrás, mas foda-se, eu já tinha escrito essa porra e só agora estou tendo a chance publicá-la.
O diferencial da minha cobertura em comparação às outras coberturas é que, além de minha cobertura não ser de luxo, ela dá vazão a algo absolutamente discriminado por quase todos os veículos voltados ao mundo artístico: a subjetividade! Além do mais, prefiro descrever as coisas à minha volta, observar as pessoas que vão para esse tipo de evento e esquecer os donos da festa, ou seja, os escritores. Se você está esperando análises mirabolantes sobre palestras e livros, como diria Gavião, meu grande amigo e mestre da retórica: “Perde, Ladrã!” – se engana quem pensa que ele é francês, ele é só um pouco equivocado.
Esqueça a Cult, a Piauí, a Cultura, a Paula Picarelli - se quiser, pode lembrar dela no chuveiro -, a Bravo ou qualquer outra publicação subversiva patrocinada pelo Unibanco - ou Salles Family. Este blog - ou qualquer que seja o modo que você, caro leitor, cara leitora, caro leiteiro, queira denominá-lo - publicará textos no intervalo de cinco a sete dias. Portanto, até domingo ou terça. I say goodbye, you say hello. Hello, Hello. Goodbye e amén.)



Não consegui nenhum ingresso à Tenda dos Autores porque antes mesmo do início da venda dos ingressos não havia mais ingressos.

Me inscrevi à oficina de roteiros oferecida pela Flip, ministrada pelo diretor e roteirista cearense Karim Aïnouz e pela diretora e roteirista argentina Lucrecia Martel. O regulamento postado no site do evento deixava implícito que, no momento da seleção, feita por meio dos currículos enviados pelos interessados, eles dariam preferência a aspirantes e recém-formados. O que a senhora Marina Person e o senhor Cadão Volpato estavam fazendo lá? (Entendo que fazer um filme de memórias é tão genial, complexo e emocionante quanto montar um quebra-cabeça de 25 peças da imagem de um céu azul sem sol. Mas ela já teve a sua chance e fracassou.)

Comentário de uma velinha anônima após ouvir o escritor gaúcho João Gilberto Noll ler um trecho do seu mais novo livro: “Ele lê com a vivacidade e a virilidade de uma velha de 90 anos acometida por uma alucinógena diarréia”. Talvez seja um elogio.

Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Rocco, nacional;
Preço: 66 reais.

Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Bantan Books, importado;
Preço: 19 reais.

Motivo: a publicação nacional utilizou papel couche, e a internacional, papel jornal.
Depois as editoras nacionais se fazem de consternadas pela falta de interesse (ou seriam de meios?) do povo brasileiro em comprar livros.

Na década de 70, Jorge Benjor anunciou que os alquimistas estavam chegando. Hoje, século 21, tempestuosa terça-feira de 2008, 11:02, saturado de pesar e sem samba rock vos digo que a praga “indie” está em todo o lugar. Se não bastasse a invasão nos shows de rap, nos bailes funk, nos bares (porque “indie” agora também deu pra beber – no duplo sentido), a invenção do Belle and Sebastian, do Brian Molko, do Smiths e do Morrisey solo, agora o “indie” botou na cabeça que gosta de ler livros que não têm figuras e que não falam da nova pederastia que fizeram com o folk. Daqui a pouco eles também vão “dar” pra invadir os campos de futebol – só nos restará os bordéis.

As lésbicas não se dão por satisfeitas por serem mulheres que beijam mulheres. É claro que às vezes elas beijam mulheres que têm chumaço sob as axilas. Agora as mulheres lésbicas que beijam mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam a bengala como novo acessório para afirmar de forma mais explícita o seu conceito de feminismo másculo. Aliás, masculinamente feminino. Nas ruas de Paraty havia senhoras perto da casa dos 100 anos e dos 112 maridos que eram amigas de infância de Machado de Assis – homenageado da festa deste ano – e que, além do fardo da idade que causava a cada passo que davam sobre as históricas ruas pedregosas uma curvatura broxante nas costas revestidas de pelanca, usavam a mesma bengala que as jovens mulheres lésbicas que beijam jovens mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam mesmo estando no período de plena exuberância física. (Exuberância essa similar a uma mulher que subitamente decidi virar a Conga, A Mulher Gorila.) Minha prima é lésbica feminina – não feminista, ela odeia Vange Leonel e gosta de Marisa Monte. Contei a ela que vi mulheres lésbicas nas ruas de Paraty com chumaço nas mãos e bengalas sob as axilas. Ela acha “um charme” sob as axilas de bengala mulheres lésbicas. Minha prima canta muito bem. Nem parece que gosta de mulher. O problema é que as balanças portáteis encontradas nos banheiros de pessoas anoréxicas não são capazes de suportar o seu peso. Ela canta, em bares às moscas, clássicos da mpb. Ela é mais conhecida nas piadas internas da família como Marisa Monte Everest.

A tuberculose, o suicídio, a burrice, a bebida, os penhascos, as armas de fogo, os fornos, as drogas e as surubas mataram muitos intelectuais no passado. Hoje, com os avanços da medicina em busca da perfeição “insondável”, os intelectuais preferem nos matar de tédio em vez de se auto-destruírem em benefício do bem-estar social. Eles são muitos e de muitas formas. A única indistinção é que são todos ridículos. Fazem cara de orgasmo fingido quando querem pescar aquela citação momentaneamente perdida em suas caixolas atulhadas de lembranças de outrem. As borgianas, as kafkianas, as freudianas... A FLIP é cheia desses tipos. Podem ser homens e mulheres. Podem ser homens que gostariam de ser mulheres, mulheres que gostariam de ser homens, velhas que gostariam de ser jovens, homens que sonham em ser outros homens, mulheres que sonham em ser Clarice Lispector e homens que gostariam de ter crianças homens/mulheres pelados em sua cama. Ao olhar bem para eles, principalmente para as velhas pomposas que facilmente se imaginam, porém secretamente (colocando os dedos na boca para não cuspirem as dentaduras), sustentando um garoto em troca de uma coisa dura que ele tem e lhes faz falta, de um mote rígido que lhes provoque prazer e umedeça o áspero pântano grisalho a tanto esquecido, que lamentam internamente de maneira tão profunda a inviabilidade dos seus desejos porque são meras professoras de literatura, dá para perceber com certa tristeza a alegria efêmera que elas desfrutam e exalam nesses cinco dias do começo de julho em que têm a chance de absorver novamente todos os pedaços de suas vidas dedicadas à biografia de seres por elas encarados como santidades plenas de brilhantismo; parecem crianças, inconscientes/conscientes do fim iminente de suas vidas/sonhos/pesadelos, em um ônibus de excursão repleto delas, das mesmas pessoas que elas são e se tornarão, regressando de uma passagem inesquecível pelo primeiro zoológico, quando, no lusco-fusco da primavera, no momento em que o sol começa a se pôr e a fome cresce, estarão mais que dispostas a parar no Mc Donald’s mais próximo e preencher o vazio que reflete no estômago das suas vidas.

A melhor palestra (a única que assisti) foi do escritor/humorista David Sedaris. Sujeito simples, irreverente e sem o fastio meticuloso das múmias escritoras que se levam demais a sério.

“Neil Gaiman é, acima de tudo, conhecido como um excelente desenhista”, declaração, um dia após o término da Flip, do maior (menor) médico e monstro da cultura brasileira contemporânea; do músico politizado (apolítico) mais selvagem (manso) rockeiro anti-(prol) bossanovista; do pai dos independentes e amante (vagabunda) das grandes gravadoras; do apresentador e convidado, do entrevistador entrevistado, do atropelado motorista embriagado, do currador currado, do feio e, dependendo do dia, mais feio ainda; do pierrot colombina, do pedófilo violado, do iconoclasta (tropicalista) que bate com as duas; me refiro ao desbocado moralista (subversivo) Lobão, em mais um arroubo de onisciência estúpida no programa MTV Debate.