(Em todo o mês de julho, desde 2003, rola em Paraty a Flip, que é a Festa Literária Internacional de Paraty. Durante cinco dias, dezenas de escritores, de várias partes do mundo, se encontram, dão palestras, dão autógrafos, dão entrevistas, dão vexame por extrapolarem na quantidade de cachaça, dão a bunda – nem todos – dão uma de antipáticos e dão sono quando a palestra é uma porcaria. Sei que estamos em outubro, sei que o negócio aconteceu há três meses atrás, mas foda-se, eu já tinha escrito essa porra e só agora estou tendo a chance publicá-la.
O diferencial da minha cobertura em comparação às outras coberturas é que, além de minha cobertura não ser de luxo, ela dá vazão a algo absolutamente discriminado por quase todos os veículos voltados ao mundo artístico: a subjetividade! Além do mais, prefiro descrever as coisas à minha volta, observar as pessoas que vão para esse tipo de evento e esquecer os donos da festa, ou seja, os escritores. Se você está esperando análises mirabolantes sobre palestras e livros, como diria Gavião, meu grande amigo e mestre da retórica: “Perde, Ladrã!” – se engana quem pensa que ele é francês, ele é só um pouco equivocado.
Esqueça a Cult, a Piauí, a Cultura, a Paula Picarelli - se quiser, pode lembrar dela no chuveiro -, a Bravo ou qualquer outra publicação subversiva patrocinada pelo Unibanco - ou Salles Family. Este blog - ou qualquer que seja o modo que você, caro leitor, cara leitora, caro leiteiro, queira denominá-lo - publicará textos no intervalo de cinco a sete dias. Portanto, até domingo ou terça. I say goodbye, you say hello. Hello, Hello. Goodbye e amén.)
Não consegui nenhum ingresso à Tenda dos Autores porque antes mesmo do início da venda dos ingressos não havia mais ingressos.
Me inscrevi à oficina de roteiros oferecida pela Flip, ministrada pelo diretor e roteirista cearense Karim Aïnouz e pela diretora e roteirista argentina Lucrecia Martel. O regulamento postado no site do evento deixava implícito que, no momento da seleção, feita por meio dos currículos enviados pelos interessados, eles dariam preferência a aspirantes e recém-formados. O que a senhora Marina Person e o senhor Cadão Volpato estavam fazendo lá? (Entendo que fazer um filme de memórias é tão genial, complexo e emocionante quanto montar um quebra-cabeça de 25 peças da imagem de um céu azul sem sol. Mas ela já teve a sua chance e fracassou.)
Comentário de uma velinha anônima após ouvir o escritor gaúcho João Gilberto Noll ler um trecho do seu mais novo livro: “Ele lê com a vivacidade e a virilidade de uma velha de 90 anos acometida por uma alucinógena diarréia”. Talvez seja um elogio.
Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Rocco, nacional;
Preço: 66 reais.
Livro: Freedomland;
Escritor: Richard Price;
Editora: Bantan Books, importado;
Preço: 19 reais.
Motivo: a publicação nacional utilizou papel couche, e a internacional, papel jornal.
Depois as editoras nacionais se fazem de consternadas pela falta de interesse (ou seriam de meios?) do povo brasileiro em comprar livros.
Na década de 70, Jorge Benjor anunciou que os alquimistas estavam chegando. Hoje, século 21, tempestuosa terça-feira de 2008, 11:02, saturado de pesar e sem samba rock vos digo que a praga “indie” está em todo o lugar. Se não bastasse a invasão nos shows de rap, nos bailes funk, nos bares (porque “indie” agora também deu pra beber – no duplo sentido), a invenção do Belle and Sebastian, do Brian Molko, do Smiths e do Morrisey solo, agora o “indie” botou na cabeça que gosta de ler livros que não têm figuras e que não falam da nova pederastia que fizeram com o folk. Daqui a pouco eles também vão “dar” pra invadir os campos de futebol – só nos restará os bordéis.
As lésbicas não se dão por satisfeitas por serem mulheres que beijam mulheres. É claro que às vezes elas beijam mulheres que têm chumaço sob as axilas. Agora as mulheres lésbicas que beijam mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam a bengala como novo acessório para afirmar de forma mais explícita o seu conceito de feminismo másculo. Aliás, masculinamente feminino. Nas ruas de Paraty havia senhoras perto da casa dos 100 anos e dos 112 maridos que eram amigas de infância de Machado de Assis – homenageado da festa deste ano – e que, além do fardo da idade que causava a cada passo que davam sobre as históricas ruas pedregosas uma curvatura broxante nas costas revestidas de pelanca, usavam a mesma bengala que as jovens mulheres lésbicas que beijam jovens mulheres que se dizem mulheres mesmo tendo chumaço sob as axilas utilizam mesmo estando no período de plena exuberância física. (Exuberância essa similar a uma mulher que subitamente decidi virar a Conga, A Mulher Gorila.) Minha prima é lésbica feminina – não feminista, ela odeia Vange Leonel e gosta de Marisa Monte. Contei a ela que vi mulheres lésbicas nas ruas de Paraty com chumaço nas mãos e bengalas sob as axilas. Ela acha “um charme” sob as axilas de bengala mulheres lésbicas. Minha prima canta muito bem. Nem parece que gosta de mulher. O problema é que as balanças portáteis encontradas nos banheiros de pessoas anoréxicas não são capazes de suportar o seu peso. Ela canta, em bares às moscas, clássicos da mpb. Ela é mais conhecida nas piadas internas da família como Marisa Monte Everest.
A tuberculose, o suicídio, a burrice, a bebida, os penhascos, as armas de fogo, os fornos, as drogas e as surubas mataram muitos intelectuais no passado. Hoje, com os avanços da medicina em busca da perfeição “insondável”, os intelectuais preferem nos matar de tédio em vez de se auto-destruírem em benefício do bem-estar social. Eles são muitos e de muitas formas. A única indistinção é que são todos ridículos. Fazem cara de orgasmo fingido quando querem pescar aquela citação momentaneamente perdida em suas caixolas atulhadas de lembranças de outrem. As borgianas, as kafkianas, as freudianas... A FLIP é cheia desses tipos. Podem ser homens e mulheres. Podem ser homens que gostariam de ser mulheres, mulheres que gostariam de ser homens, velhas que gostariam de ser jovens, homens que sonham em ser outros homens, mulheres que sonham em ser Clarice Lispector e homens que gostariam de ter crianças homens/mulheres pelados em sua cama. Ao olhar bem para eles, principalmente para as velhas pomposas que facilmente se imaginam, porém secretamente (colocando os dedos na boca para não cuspirem as dentaduras), sustentando um garoto em troca de uma coisa dura que ele tem e lhes faz falta, de um mote rígido que lhes provoque prazer e umedeça o áspero pântano grisalho a tanto esquecido, que lamentam internamente de maneira tão profunda a inviabilidade dos seus desejos porque são meras professoras de literatura, dá para perceber com certa tristeza a alegria efêmera que elas desfrutam e exalam nesses cinco dias do começo de julho em que têm a chance de absorver novamente todos os pedaços de suas vidas dedicadas à biografia de seres por elas encarados como santidades plenas de brilhantismo; parecem crianças, inconscientes/conscientes do fim iminente de suas vidas/sonhos/pesadelos, em um ônibus de excursão repleto delas, das mesmas pessoas que elas são e se tornarão, regressando de uma passagem inesquecível pelo primeiro zoológico, quando, no lusco-fusco da primavera, no momento em que o sol começa a se pôr e a fome cresce, estarão mais que dispostas a parar no Mc Donald’s mais próximo e preencher o vazio que reflete no estômago das suas vidas.
A melhor palestra (a única que assisti) foi do escritor/humorista David Sedaris. Sujeito simples, irreverente e sem o fastio meticuloso das múmias escritoras que se levam demais a sério.
“Neil Gaiman é, acima de tudo, conhecido como um excelente desenhista”, declaração, um dia após o término da Flip, do maior (menor) médico e monstro da cultura brasileira contemporânea; do músico politizado (apolítico) mais selvagem (manso) rockeiro anti-(prol) bossanovista; do pai dos independentes e amante (vagabunda) das grandes gravadoras; do apresentador e convidado, do entrevistador entrevistado, do atropelado motorista embriagado, do currador currado, do feio e, dependendo do dia, mais feio ainda; do pierrot colombina, do pedófilo violado, do iconoclasta (tropicalista) que bate com as duas; me refiro ao desbocado moralista (subversivo) Lobão, em mais um arroubo de onisciência estúpida no programa MTV Debate.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
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3 comentários:
o cara, muda a cor do fundo do teu blog, isso é serio, coloca fundo branco e letra preta pelo menos... do jeito que ta a leitura vira uma treta do caralho.
e o lobão me "invergonha"...
simplesmente um luxo...insano!!!
abs,
aeeee... agora sim hehehe
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