“Ela é tão gostosa e eu sou tão pobre.” Bem que esta frase poderia ter saído da boca de John Fante. Contudo, ela foi proferida por alguém bem menos célebre e muito menos genial: Guilherme, o meu infame amigo Calafrango, pobre terceiromundista médio que gosta de Merlot e garotas escandinavas. Nem preciso dizer que ele jamais provou um Merlot e muito menos uma garota escandinava. Calafrango é o protótipo do tarado parcamente assalariado com complexo de Hugh Hefner. O cara que acha que merece ter sangue azul mas já se acostumou com insosso sabor do Sangue de Boi.
Creio que muitas pessoas nessa multifacetada república varonil carregam o mesmo fardo no coração. No meu caso, por exemplo, ele se manifesta na temporada de festivais nacionais com atrações internacionais. Quem mandou gostar de Bob Dylan e Kanye West e só ter bala para assistir ao show do Biafra, sem banda de apoio, nas bodas de prata de sua tia Consórcio (péssimo nome e péssimo gosto, Biafra no playback)?
Li o que escreveram. Escreveram que o show do Kanye West foi péssimo. E quem escreveu escutou o CD da Mallu Magalhães e achou bom. Então chego à tenebrosa conclusão que em terra onde Mallu Magalhães é rainha e Kanye West é plebeu, Alex Atala deve ser punk!
Impossível ir ao show. O valor de duzentos e cinqüenta reais está fora da realidade de qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico (e com o mínimo de salário mínimo). Sei que dinheiro é só dinheiro. Mas existem premências que só o dinheiro é capaz de comprar. Gasolina, cerveja, o novo laptop, viajar cinco horas à nova morada da namorada, livros, DVD’s, cerveja...
As mentes geradoras do TIM Festival superestimaram o sucesso das outras edições e subestimaram as carências do público. Há dois anos atrás, no Rio de Janeiro, paguei sessenta reais para assistir às apresentações do Beastie Boy’s, DJ Shadow e Instituto. Saldo: tendas lotadas, pessoas felizes, público mais tolerante quanto à qualidade do som, cervejas consumidas em demasia, meninas mais assanhadas, sexo à vista (para os outros, lógico) e momentos inesquecíveis a contar à província (aqui) e respectivamente aos amigos provincianos.
Entretanto, neste ano, baseado, com extensas ressalvas, nas confissões da crítica neo-indie, o que se viu foi um imenso vácuo. Entre artista e público (pessoas que conversavam durante os shows sem se importar com o esforço do artista que tocava para uma audiência caracterizada em sua maioria pelo trivial defeito adquirido em vida de possuir no lugar do cérebro o mais fétido entulho cognitivo); entre organização e público (o público, em sua maioria, reconheceu que não era o fim do mundo, mas o fim do mês, e decidiu não comparecer); entre organização e organização (há uma terceira organização chamada (des)organização); entre os credenciados apreciadores de electrorocktransformista e os diletantes sem padrinhos (bom gosto é o gosto de que gosta de alguma coisa. Gosto não se discute, qualidade, sim. Se um fã de Tchakabum considerar Tortoise uma merda, ele é burro. Se há alguém que considera Peter Doherty um gênio, ele é o Lúcio Ribeiro).
Quem sabe no próximo ano a coisa muda de figura, mas não de preço. Então teremos que comer a mulher do nosso irmão, roubar o negócio da família, matar o nosso traficante, matar a nossa mãe e fuder com a vida do nosso pai para podermos ter dinheiro para curtir o show-retorno do Dismemberment Plan (imagina, Daniel, imagina, cara, só imagina, porque é o máximo que nós podemos fazer) no Tim Festival.
(Se não entendeu, assista Antes Que O Diabo Saiba Que Você Está Morto.)
QVAALV (Quando você acha que acabou, lá vem!) : O que vocês acham da organização do Tim Festival convidar o Bolinho, agora vegetariano - haja árvore para manter esse corpinho brilhantemente esculpido pela mesma dieta que assassinou John Candy - para dar um basta nessa bagunça desnorteada e organizar a próxima edição do festival?
Creio que muitas pessoas nessa multifacetada república varonil carregam o mesmo fardo no coração. No meu caso, por exemplo, ele se manifesta na temporada de festivais nacionais com atrações internacionais. Quem mandou gostar de Bob Dylan e Kanye West e só ter bala para assistir ao show do Biafra, sem banda de apoio, nas bodas de prata de sua tia Consórcio (péssimo nome e péssimo gosto, Biafra no playback)?
Li o que escreveram. Escreveram que o show do Kanye West foi péssimo. E quem escreveu escutou o CD da Mallu Magalhães e achou bom. Então chego à tenebrosa conclusão que em terra onde Mallu Magalhães é rainha e Kanye West é plebeu, Alex Atala deve ser punk!
Impossível ir ao show. O valor de duzentos e cinqüenta reais está fora da realidade de qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico (e com o mínimo de salário mínimo). Sei que dinheiro é só dinheiro. Mas existem premências que só o dinheiro é capaz de comprar. Gasolina, cerveja, o novo laptop, viajar cinco horas à nova morada da namorada, livros, DVD’s, cerveja...
As mentes geradoras do TIM Festival superestimaram o sucesso das outras edições e subestimaram as carências do público. Há dois anos atrás, no Rio de Janeiro, paguei sessenta reais para assistir às apresentações do Beastie Boy’s, DJ Shadow e Instituto. Saldo: tendas lotadas, pessoas felizes, público mais tolerante quanto à qualidade do som, cervejas consumidas em demasia, meninas mais assanhadas, sexo à vista (para os outros, lógico) e momentos inesquecíveis a contar à província (aqui) e respectivamente aos amigos provincianos.
Entretanto, neste ano, baseado, com extensas ressalvas, nas confissões da crítica neo-indie, o que se viu foi um imenso vácuo. Entre artista e público (pessoas que conversavam durante os shows sem se importar com o esforço do artista que tocava para uma audiência caracterizada em sua maioria pelo trivial defeito adquirido em vida de possuir no lugar do cérebro o mais fétido entulho cognitivo); entre organização e público (o público, em sua maioria, reconheceu que não era o fim do mundo, mas o fim do mês, e decidiu não comparecer); entre organização e organização (há uma terceira organização chamada (des)organização); entre os credenciados apreciadores de electrorocktransformista e os diletantes sem padrinhos (bom gosto é o gosto de que gosta de alguma coisa. Gosto não se discute, qualidade, sim. Se um fã de Tchakabum considerar Tortoise uma merda, ele é burro. Se há alguém que considera Peter Doherty um gênio, ele é o Lúcio Ribeiro).
Quem sabe no próximo ano a coisa muda de figura, mas não de preço. Então teremos que comer a mulher do nosso irmão, roubar o negócio da família, matar o nosso traficante, matar a nossa mãe e fuder com a vida do nosso pai para podermos ter dinheiro para curtir o show-retorno do Dismemberment Plan (imagina, Daniel, imagina, cara, só imagina, porque é o máximo que nós podemos fazer) no Tim Festival.
(Se não entendeu, assista Antes Que O Diabo Saiba Que Você Está Morto.)
QVAALV (Quando você acha que acabou, lá vem!) : O que vocês acham da organização do Tim Festival convidar o Bolinho, agora vegetariano - haja árvore para manter esse corpinho brilhantemente esculpido pela mesma dieta que assassinou John Candy - para dar um basta nessa bagunça desnorteada e organizar a próxima edição do festival?
Um comentário:
e pensar que no mesmo tim festival eu paguei 30 pila pra ver The Mars Volta (e o lixo hype do Libertines)...
é, se pah o Bolinho dava jeito... mas... vegetariano? nao confio mais no bolinho!
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