segunda-feira, 13 de abril de 2009

... Há dois anos atrás. Longe de casa. Perto de quem ama.

Já andou sobre as nuvens? Não? Nem eu. E nem posso dizer que esse sentimento atual é parecido. Me sinto feliz. Feliz pra caralho!
- Se você tiver que falar com algum escritor importante, um escritor do qual gosta bastante, como você se apresentaria? – questiona a minha namorada, ambos estamos sentados na mesa de um bar, tomando um chope, vendo três crianças se matarem de porrada, mas só de brincadeirinha, o nariz de uma tá sangrando, mas nada disso importa, as três podem até morrer, não vou perder o meu sorriso de jeito nenhum.
- Ah, sei lá, talvez como jornalista e escritor frustrado, ou aspirante a jornalista frustrado por saber que serei um jornalista frustrado por ser um escritor frustrado, ou quase formado em jornalismo e pronto para montar um bar que vende cerveja barata de garrafa, porção de amendoim, que passa jogo do Corinthians que não é transmitido para a T.V aberta e que a cada gol do Corinthians todas as mulheres que estiverem no meu recinto, ou seja, no meu bar, terão que tirar uma peça de roupa...
Minha namorada foi dormir, ela está com dor de cabeça e cólica. TPM. Eu resolvi dar um rolê pela cidade até o início da palestra do Jim Dodge. Entrei em um sebo e comprei um livro do Millôr Fernandes. Entrei em uma sorveteria e pedi um sorvete de chocolate e o sorvete derreteu um pouco e fodeu com a minha camiseta. São 16:15 e daqui a pouco serão cinco horas. Eu acabei de me perder e me encontrei no espelho. Engordei uns dois quilos, é visível, a barriga já está saliente. Não tenho convite para a Tenda dos Autores e nem a bilheteria tem convite para quem quer ir à Tenda dos Autores. O ingresso custa vinte reais.
Decido ficar na Praça da Matriz e assistir à palestra no telão. Tradução simultânea. Muitas pessoas agem da mesma forma, o que esperar de um bando de neo-hippies? Opulência? Jamais. À minha volta dezenas e dezenas de casais se abraçam e se refestelam com a cabeça apoiada sobre as coxas dos seus parceiros. Eles me olham como um solitário, um trovador em busca de inspiração, um coitado. O sol está forte e à noite é hora do frio. As crianças correm em busca do nada. Você perde energia e já era a infância. Algumas pessoas se conhecem e mutuamente se atraem. Outras pessoas se conheceram há alguns minutos e mutuamente se atracam.
Jim Dodge é apresentado no telão. Jim Dodge diz “Hi”. O tradutor diz “Oi”. O público responde “Oi”, alguns idiotas dizem “Hi”. As pessoas acham que estão no cinema. Os casais apaixonados. Por que ela não vem? Por que ela não está aqui? Você faz de tudo para ser diferente dos outros mas no fim tudo o que você quer é ser igual a todo mundo. Não se sentir sozinho. O escritor inglês Will Self diz “Hello”. “Olá.” “Hello.”
Este momento, aqui e agora, agora e aqui, tinha tudo para ser inesquecível. É a mesma coisa quando você encontra o cenário perfeito para tirar uma foto, mas a droga do passarinho acabou voando. A mulher de blusa vermelha piscou. O gordo atrapalhou. Não tem memória.
- Nossa, eu vim correndo, pensei que fosse perder.
- E aí, melhorou?
- Ainda tá doendo um pouquinho. Vem, coloca a cabeça aqui no meu colo.
- Não vai machucar você?
- Não.
- Estava com saudades.
- Eu sabia, por isso que eu vim.

2 comentários:

Karen disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Karen disse...

Uma pessoa sensível, sem dúvida. Malévola, porém sensível. Uma coisa não anula a outra.