segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os Melhores de 2008 (por quem conhece do assunto)

Tudo É Albino Menos Rebeca tem o prazer de veicular a vocês, na íntegra, a lista de “melhores do ano de 2008” do magnânimo mestre incorruptível do comportamento mundano brasileiro (o notável malabarista da foto acima). O especialista estupefato de tanta boiolagem e falta de talento revolucionário no mundo das artes, da moda e do ativismo social. Falo da sagacidade incutida em um espécime que usa pochete camuflada, camiseta regata de salva-vidas e a tatuagem, “marcada a ferro e fogo por um negão viril e virulento”, que ilustra a imagem de um camaleão (ou escargot) tentando sair com vida de um suculento caldo verde aquecido em demasia por uma velha leprosa assassinada em um dos episódios do “pré L World” (paralelo traçado de forma genial pelo nosso mestre) Xena, A Guerreira Chumacenta, que nada mais é que uma metáfora que sintetiza a agonia resoluta do “ser” guerreiro tentando desgarrar-se dos obstáculos impostos pela mediocridade da fauna que pega ônibus e pronuncia frases do tipo: “e aí, mano, qué fazê um dread?”, nas ruas nubladas e caóticas do centro de São Paulo, em frente à Galeria do Rock. Pois bem, o nome da divindade que espirra farpas apocalípticas contra os seus inimigos e elogios cândidos e ternos àqueles que merecem, é, nem seria necessário apresentá-lo, citado constantemente como influência perene por nomes do calibre de Nelson Motta, do saudoso devasso Nelson Rodrigues, Nelson Piquet, Nelsinho Piquet, Willie Nelson, Nelson Mandela, Nelson Ned, a banda farofa Nelson, o falecido Athayde Patrese, Clodovil, Leda Nagle, Ronaldo Esper, Sílvio Lancellotti, a “fofa” Ofélia, Cheech and Chong, Chicholina, Madame Bovary (que mesmo depois de morta fez questão presenteá-lo com um bolo encimado por uma calcinha suja de feno no seu trigésimo aniversário), Paulo Coelho, o Coelho da Páscoa, Emerson and Lake (o Palmer não vai muito com a cara dele), Emerson Leão, Leão Lobo, o Rei Leão, o Leãozinho, Miguel Falabella, Cissa Guimarães, o excelente filho de Cissa Guimarães que interpretava um péssimo ator no guia jovem do “faz de conta que é assim” Malhação, Carlos Eduardo Miranda, o ex-jogador de futebol Mirandinha, Sula Miranda, Miranda July, Orson Wells, Homero, Homer Simpson etc.
Inclusive, vem à lembrança o jornalista Fábio Massari, que, em 1998, realizou uma histórica entrevista com o nosso Deus da onisciência, na qual a perspicácia emanada por cada questionamento levantado pelo nosso guru me fez largar o emprego de tosador na clínica veterinária da minha tia Marluce (Gene Simmons com dois seios moles parecidos com dois sacos de cimento duros para os mais chegados) e adentrar com tudo no mundo do “está tudo bem viver como vagabundo”. Veja o trecho da entrevista que iluminou a minha antes lúgubre existência.
Fábio Massari: qual é a importância de Bob Dylan na história da música pop?
Nosso Deus: quem é Bob Dylan?
Fábio Massari: foi o grande responsável pela popularização da música folk.
Nosso Deus: quem é folk?
Adolf Gandhi Mascarenhas, nome artístico que burla o verdadeiro, Zé Tó, nasceu em Barra do Una, litoral sul de São Paulo, no dia 11 de setembro de 1941. O primeiro disco que fez a sua cabeça foi um frisbee lançado equivocadamente por um índio conhecido nas redondezas como Pão de Queijo. “Depois do incidente, Zezinho mudou, ficou louco, dizia que era um xamã em forma de guri”, disse a mãe de Adolf ou Gandhi ou Mascarenhas ou Zé ou Tó, dona Puritana, em uma rara entrevista que deu para um jornal qualquer que até hoje ninguém nunca leu, que de puritana não tem nada, pois anda pelada desde os 13 anos de idade, período em que deu à luz ao nosso pequeno iluminado e começou a se prostituir de graça em troca apenas de dois minutinhos para poder jogar com o seu parceiro de ocasião, segundo ela, “uma partidinha da maior invenção do homem: o ludo”.
O Messias dos relés diletantes das artes fugiu de casa aos 4 anos de idade e voltou dois minutos depois porque esqueceu que ainda não sabia andar. (Só de costas, antecipando o moonwalker.)
O interesse pelo universo artístico veio até ele graças à indescritível personalidade fora de forma de seu anjo da guarda e babá sexual, Pão de Queijo. “Pão de Queijo foi meu parceiro na vida, o meu parceiro no crime, o meu Compadre Washington, o meu Rio Negro, ou meu Solimões, não sei quem canta naquela merda mesmo... o meu Sullivan, o meu Maçadas, o meu centroavante impetuoso, o meu Milli, o meu Vanilli, o aplicador de vaselina, o perpetrador de vasilhame, o meu irmão, o meu cachorro, a minha cadela, o meu patrão, o meu parceiro na felação...”, desabafa com a característica eloqüência o nosso enfant terrible tupiniquim.
Aos 11 anos, já barbado e pai de dois filhos, foi apresentado à literatura, mas, como disse em seu quadragésimo segundo livro, o polêmico “Roda a baiana, Mascarenhas”, deu um tremendo azar. “Irmãos Karamazov foi muito pra mim. Desde então, não quero ler mais porra nenhuma. Só a coluna do Macaco Simão. E, para ser sincero, não passei nem do expediente do Irmãos Karamazov. O que já é muita coisa, pelo menos para uma pessoa como eu, assim, loucão.”
Em 1960, Pão de Queijo morreu em decorrência do vírus mais traiçoeiro e indestrutível da história das civilizações: vítima da moda... hippie. “Morreu de frio, o coitado, pelado, eu abanando o seu rabo, mimado, Pão de Queijo, bizarro belo de chinelo de folha de bananeira, quisera ele aprender a falar à modernidade, sinceridade, malandro desonesto com bom coração, pidão, cão de guarda dos sensibilizados, te traço, pão estragado à espera dos urubus cintilantes enviados pelo diabo de mamilo grosso, com cheiro de bosta, carnificina, gatinha, me dá um cigarro, mentolado, melado, sua saliva na minha, bonga, bongô, sarapatel, cansei!”, disse Zé Tó, em tom poético, em sua histórica aparição no programa Roda Viva, em 1987, a única edição do programa que apontou zero pontos no ibope, zero entrevistadores, zero apresentadores, zero câmeras, pra falar a verdade, ele nem foi ao Roda Viva, é tudo mentira, ou melhor, “intervenção artística”.
Após a morte de Pão de Queijo, Adolf foi embora, quis se aventurar na cidade grande, e foi parar em São Luis do Paraitinga. De onde jamais saiu. Passa seus dias ao léu, pois mora na rua, a pintar os seus quadros incompreensíveis e afamados, como “Espirro de Jó” e “Pollock uma ova!”. Escreve dez livros por mês – poesias, ensaios, romances, contos, quadrinhos, impropérios –, todos em um dialeto particularíssimo: “O Analfabetismo Intelectual”. Hoje, aos 67 anos, está enterrado na própria genialidade. Quer ver o mar, mas não sabe nadar.
Agora, imaginem a minha surpresa quando, no dia 11 de novembro deste ano, bem no horário do Programa da Yone Borges, Pra Você, lá pela uma da tarde, recebi pelas mãos de minha funcionária, Consuelo Leandro, um envelope tingido por letras garrafais negras no qual se sobressaia o seguinte título: “Me aduda”. Abri, me espantei pela densidade de informação, 174 páginas, não entendi merda alguma do que estava escrito, só a saudação final, “Miu Beijos, de Adolf Gandhi Mascarenhas, mi deisa esclevê a lixta de miori du ani no Tuidi Hein Albínu Minu Rebiqui, puin fuvou, vayii”.
Claro, mestre, claro, é uma honra pra mim.

Os Melhores Do Ano por Adolf Gandhi Mascarenhas

Melhor livro de 2008: Soldados Não Choram – A Vida de Um Casal Homossexual no Exército do Brasil – de Roldão Arruda e Fernando Alcantara Figueiredo.
Melhor disco internacional: Live in Churrascaria Rei de Pelotas, Double You.
Melhor disco nacional: O que Se leva da Vida É a Vida que Se Leva, Túlio Dek.
Melhor filme nacional: O Guerreiro Didi e a Ninja Lili, de Marcus Figueiredo.
Melhor filme internacional: My Blueberry Nights (ou Beijo Roubado), de Wong Kar Wai.
Melhor cantor nacional: Egypcio, do Tihuana.
Melhor cantora nacional: Karine Carvalho, na música Tatuí, do 3 Na Massa
Melhor cantor internacional: Khaled
Melhor cantora internacional: Scarlett Johansson
Melhor show nacional: Cláudio Zoli, no Festival de Inverno de Campos de Jordão.
Melhor show internacional: Double You e Holiday On Ice.
Gênio musical de 2008: Vinny, Biafra, Cláudio Zoli e Gilliard.
Melhor retorno de 2008: banda Yahoo
Melhor ator nacional: Jacaré, Turma do Didi.
Melhor atriz nacional: Livian Aragão.
Melhor ator internacional: Rodrigo Santoro.
Melhor atriz internacional: Norah Jones.
Melhor minissérie nacional: Haru e Natsu – As Cartas Que Não Chegaram, de Sugako Hashida.
Melhor novela do ano: os Mutantes – Caminhos do Coração.
Mulher mais sensual de 2008: Leci Brandão.
Homem mais sensual de 2008: Vange Leonel.
Silhueta do ano: Ed Motta.
Musa teen de 2008: Suzana Vieira.
Muso teen de 2008: Ferrugem.
Revolucionário do ano: Tico Santa Cruz.
Casal do Ano: Conrado e Andrea Sorvetão.
Jornalista do ano: Brito Júnior e Sônia Abrão.
Comentarista político do ano: PA, ex-Big Brother.
Melhor programa humorístico: Linha de Passe, da ESPN Brasil.
Figura impoluta do ano: Lobão.
Melhor apresentador do ano: Lobão.
Político do ano: Lobão.
Atleta do ano: Perdigão, volante do Corinthians.
Frase do ano: “Eu gostaria muito de produzir o Foo Fighters. Acho que eles rendem pouco em estúdio e, com a minha presença, eu daria mais consistência ao som deles”, discurso do produtor Rick Bonadio, em entrevista à MTV.
Artistas que deveriam retornar em 2009: a banda Lagoa e o grupo Loucomia.







segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

[1999]

Digo à minha namorada: “Encare os espíritos chineses, ignore as bestas espanholas, desdenhe dos psicopatas americanos, é só um filme, cacete, pare de usar as minhas belas mãos para vedar os seus olhos!”.
Mas reconheço que não dormi direito na primeira vez em que assisti A Bruxa de Blair. Eu tinha 17 anos. Mentira, 18 anos. E estava cheio de espinhas purulentas espalhadas por todo o meu rosto. E a menina que eu namorava na época tinha acabado de me dar um fora. E eu chorei na frente dela após o fatídico episódio. O que me fez conquistar o Nobel de melhor exemplo de eufemismo para patético: “Fofo”. E duas semanas depois dessa desventura tentei pegar uma amiga dela chamada Débora, que era meio banguela, em um baile de carnaval promovido por um hotel chique de Guarujá. Evidente que tomei outro fora. Depois tomei todas. Todas as bebidas e todos os foras possíveis e impossíveis de serem tomados em um espaço de quarenta e cinco minutos. Depois surtei. Me joguei na piscina. Perdi a comanda. Tive que ligar para o meu pai vir me buscar para não ter que pagar trezentos reais. Ele veio. Eu paguei trezentos reais. Os meus amigos da escola riram de mim. O meu colega David, quatro dias depois do “inferno”, disse em sala de aula “que o sol veio a ‘encalhar’”. Eu ri na cara dele e disse “a calhar”. Ele gritou que o pai dele nunca havia tido a necessidade de buscá-lo na balada para socorrer o bundão do filho. A sociedade escolar riu de mim. Sobretudo as meninas. Inclusive os funcionários. Até o zelador mudinho. Ana Flávia, do terceiro colegial, foi a única que não riu de mim. Porque me amava. Só que eu não a amava. Então ela gargalhou por vingança. E mostrou os peitos pro Gilson, que era da minha classe. E ele chupou. E não gostou. “Muito pequeno, bem mole.” Ele só sabia falar assim. “Juliana, bom sexo”; “Garganta, dói”; “Água parada, dengue!”; “Leonardo, filhinho de papai”; Eu respondia: “Gilson, mãe vaca”; “Gilson, pai cadeirante”; “Gilson, irmã chupou meu pau”. O que era verdade. Até mesmo o pai cadeirante. Que era a favor do retorno da ditadura militar e acreditava que o fim da violência só seria possível quando resolvessem explodir a favela. Apesar das desgraças, continuei empurrando o meu barquinho sem bateria sobre a maré impiedosa. Continuei perguntando à minha mãe se ela realmente me amava incondicionalmente. Continuei perguntando ao meu pai se eu era verdadeiramente o seu filho mais que campeão. Prossegui perguntando à minha avó, pós Valium e pós “só três dedinhos de uísque”, se existia alguma probabilidade de eu ser adotado. “Claro que não, boneco.” “Vó, eu sou seu neto, não sua puta.” “Hahahaha, você é muito engraçado, meu Choquitinho.” Continuei perguntando a Deus se havia vida após a morte. Ele me respondeu com uma fratura no meu tornozelo esquerdo, um rompimento no meu ligamento, uma cirurgia para colocar sete pinos de platina e uma placa, um gesso para me fazer companhia durante dois meses, um laxante para extirpar a rigidez que se transforma a merda quando se anda pouco, o recorde mundial de punheta, a oportunidade de assistir à última temporada completa de Six Feet Under e reconhecer mais do que nunca que a vida é realmente a morte da vida, mais uma cirurgia para remover o pino que servia somente para bloquear a minha articulação, um mês e meio de fisioterapia, um bolo da Dora, “a Dora dar o cu” para os mais chegados, para ver se ela dava uma mãozinha, as omoplatas, o traseiro, a vagina, sem beijo, a chupadinha miraculosa que levantava até eunuco, mas ela resolveu ser mais uma cidadã a adensar o agourento coro: “Tomara que você cague nas calças no dia do seu casamento, Leonardo!”. “Tomara que você nem case, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay e seja engolido por um leão quando você levá-lo ao zoológico, Leonardo!”. “Tomara que você batize o seu filho de Telmo e se arrependa depois por ter sido o principal responsável de desgraçar a vida do seu filho gay que irá ser engolido por um leão, Leonardo!”. “Tomara que você seja estéril, Leonardo!”.
Portanto continuei deambulando dando ritmo ao pendor intermitente da minha esquálida porém imberbe bunda salpicada por irritantes espinhas arrivistas que provocavam coceiras enquanto o ônus existencial de ter que carregar uma velha catraia esburacadamente úmida sobre os extenuados ombros prosseguia de modo a oferecer um único péssimo caminho escuro envolto por um túnel instalado sobre as águas chernobilescas da travessia Vicente de Carvalho-Santos para continuar a desenvolver a contragosto os imutáveis bom-dia/com licença/boa-tarde/por favor, use desodorante/caralho, tá demorando/boa-noite/boa-noite, tira a roupa, pega o dinheiro, estamos perdendo tempo/ em suma, modos desonestamente honestos de se relacionar com a sociedade - e formas embusteiramente sinceras de se visualizar no espelho e dizer, “sim, realmente, eu tenho uma vida, é, vida, sim!”.
Mas antes disso, mas no início disso, eu estava parado bem em frente ao finado Cine Ipiranga, na Avenida Ana Costa, na cidade de Santos, na companhia do meu amigo Lúcio, que havia, na ocasião, em um ato de insurreição contra a instituição familiar, pintado o seu cabelo de azul, logo ele que havia sempre se gabado por usar os melhores shampoos, os franceses, os espumantes, que embelezavam as suas longas madeixas cor Rio Tietê, que afagavam, às vezes com fúria, sobretudo quando ele empunhava a sua Fender Caralhocaster branca, as ombreiras de suas camisetas invariavelmente negras com as estampas do Megadeth, do Metalica, do Black Sabbath... Lúcio era aquilo que os bem-sucedidos proprietários de lojas de cd no início dos anos 90 chamavam de “cliente fiel”. Lúcio era o tipo de cidadão revoltado que enfiava o dedo indicador na boca escancarada e mostrava a língua no intuito de ostentar um sinal de reprovação para o seu interlocutor ou para si mesmo ao ver uma imagem que lhe desagradava. Exemplo, quando se deparava com algum dos inúmeros pôsteres do Ugly Kid Joe. Exemplo, quando diziam que o Yes era uma banda de exibicionistas. Exemplo, quando viu, incrédulo, o que o Caio fez com a parte detrás do seu cabelo ao raspá-lo a seco com gilete Bic de barbear caminhoneiro. Lúcio era o cara que na adolescência reunia os amigos para tomar uma gin pura enquanto discutia a dúbia vida sexual de Phil Anselmo. Lúcio era o raro espécime que não se importava quando chamavam a mãe dele de vagabunda, mas que se alimentava de um ódio vertiginoso, que só era extravasado por meio da violência ou do sacrifício humano, quando diziam que Mr.Big era rock; ou por meio da sodomia artificial que leva à morte - estupro com cabos de vassoura, com cabos de aço, com picolés congelados por dois meses em forma de cone, com cone de estrada com cobertura de pixe de estrada -, quando injustamente diziam que Lars Ulrich, baterista do Metalica, coçava as amídalas com rôla de negão suada e nada asseada de 42 cm de comprimento e doze cm de diâmetro.
Lúcio era assim, mas ficou assim. Era uma espécie de Mike Tyson do rock, mas decidiu dar uma mudada e se transformar em um Lafon do indie. Deu uma desmunhecada. Desacelerou o pé do metal e de toda a podridão máscula que o envolvia e começou a usar cachecol roxo no verão, a freqüentar as feiras anuais do Mercado Mundo Mix, a encomendar objetos “in” do Mercado Mundo Mix, a marcar encontros para um “coffee” no Mercado Mundo Mix, a achar Pixies melhor que AC/DC, a gravar por cima de Ruas de Fogo e Warriors o “insbibado” Velvet Goldmine, a escutar músicas do New Order e usar adjetivos como “Lindo”, “Sublime”, “Delícia”, “Demais”, “Caramba, que louco”; a esnobar mulheres detentoras de apelidos como “Demo”, “Piolha”, “Bigode”, “Bigode de Pancho Villa”, “Peruana Falsificada”, “Pior que o Sloth”, “Pé de Lama”, “Vítima de Radiação”, “Corpinho de Fóssil”, “Nem Deus Salva”, “Troço de Rato”, “Só 1,99”, “HIV, certeza”, “Grand Canyon” e se relacionar com moçoilas batizadas como “Elisa”, “Abelhinha”, “Sarah Lisboa”, “Abigail”, “Miranda Boaventura” e “Carol”; a remover e destruir os seus antes intocáveis pôsteres do Cannibal Corpse, do Dave Mustaine, do Kirk Hamlet, do Deep Purple, do Gwar, do Motorhead e substituí-los por imagens do Morrisey mordendo o caule de uma margarida, de Peter Murphy, líder do Bauhaus, sentado sobre a tumba de Jim Morrison, no Pere Lachaise, trajando uma tanga preta minúscula de couro enquanto dava uma baforada em um Gitane. A única imagem remanescente do seu passado metaleiro era um pôster de Rob Halford, líder do Judas Priest e eterno Judas dos metaleiros homofóbicos, acelerando a sua Harley Davison e olhando em nossa direção como quem quer dizer, “Porra, gente, tá na cara, né?”.
A cara de cachorro abandonado desgostoso pelo gosto tóxico do rancor inerente reservado aos abandonados com grande coração tomou de assalto o meu saudoso semblante de deslumbramento oferecido pelo inocente amor concebido pela falta de desconfiança que é a mente de um imbecil de 17 anos, mentira, 18 anos, naquela tarde quase nublada de extremo verão em que estava na presença do meu amigo Lúcio, “bom, muito bom, curte Erasure?”, que infelizmente deixaria a cena ao ser procurado por uma menina chamada “Renata”- outros dois amigos, anos depois, deixaram a cena por culpa dos chamados da Renata -, e me deixaria sozinho, estático, perdido, sorumbático, impelido a rastejar pela rampa negra do desafortunado cinema que seria implodido um ano depois, coagido a dilatar as narinas e a receber o odor mágico das pululantes pipocas bicolores, a reservar um cantinho especial no meu bolso para os extintos drops Ducora que ludibriaram até mesmo o mestre Tim, a ouvir o córrego de Coca-Cola de máquina transbordando o obsoleto copo de papelão, a caminhar até minha poltrona na sala de projeção repleta de ácaros, a sentar na poltrona vermelha, a dirigir o olhar para o relógio, a lembrar que nunca tive relógio, a fechar os olhos e ser invadido pela certeza de que não haveria ninguém na sala de projeção para ver o filme comigo, a chegar à tenebrosa conclusão que nem zumbis canibalescos, colegiais orientais possuídas por espíritos ensandecidos, exorcistas norte-americanas peitudas cobertas de chantily que cospem gosma inflamável, sádicos yuppies da década de 80, e bruxas invisíveis que aniquilam visitantes indesejáveis, seriam mais assustadores que a expressão do próprio rosto ao ouvir o seu amor de ocasião lhe dizendo “que não o ama mais”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Massive Attack and Drunk Memories

Prefácio: Papo de zagueiras

(Diálogo baseado em fatos reais)

Menina número 1: “meu, só tem gente feia nesse lugar.” Detalhe: a mina é birolha.
Menina número 2: “nossa, é verdade, só tem baiano nessa merda”, a mina número 2 é gorda pra caralho.
Menina número 1: “olha a roupa dessa menina, que coisa horrível, nada combina, parece uma... como é o nome daquele bicho que levanta umas pena colorida nas costa dele?” Além de birolha, é burra.
Menina número 2: “é uma garça, né?” Além de gorda pra caralho, não sabe que garça não é pavão.
Menina número1: “é esse bicho memo. Meu, mudando completamente de assunto, você soube que a Juliana Pompeu tá grávida?” Além de birolha e burra, é fofoqueira.
Menina número 2: “não, não acredito, pelo amor de Deus, que vaca, também ela já deu pra todo mundo, transa com todo mundo, beijou todo mundo do Universitas, bem feito praquela piranhuda gorda”, além de ser gorda e não saber que garça não é pavão, também é fofoqueira, virgem, sem espelho em casa e invejosa.

Eu adorava ir a lugares nos quais a dádiva da locomoção torna-se algo doloroso e vagaroso. Eu amava lugares onde sovacos masculinos e suor de pessoas gordas e porcas se fundiam com a nossa asseada pele. O problema é que eu estava sempre completamente doidão, portanto eu queria que tudo e todas as pessoas do mundo e de marte se fodessem explodindo.
O bom de ficar bêbado é que tudo parece possível de ser realizado. O ruim de ficar bêbado é que cu de bêbado não tem dono, mas nunca fiquei tão bêbado a ponto de esquecer que era dono do meu próprio cu. Por onde passava alguma coisa ia ao chão. Tentava mijar na rua, mas acabava mijando no meu pé e esquecendo de balançar a minhoca menor de idade (não só de idade) e os respingos amarelados sobre a calça eram inevitáveis.
Há mais de dez anos atrás, no período em que eu ainda era um inocente pré-adolescente que jogava Fifa Soccer, eu tinha uma terrível mania de fazer xixxizão com as calças completamente arriadas, o que era bastante reprovável e excêntrico quando eu, uma quase criança que socava uma e ainda reconhecia isso como um ato pecaminoso (mesmo sem saber o significado de pecaminoso), fazia a minha necessidade – e não “as”, porque extirpação das fezes eu não tinha coragem de fazer em público, embora já tenha feito na água do mar, o mesmo aconteceu com o meu amigo Ciro, o que não vem ao caso neste momento – no meio da rua, bem em frente aos incrédulos ou entretidos ou divertidos transeuntes de todas as raças, credos e gerações.
A minha devoção pelos destilados foi tão intensa que, aos 18 anos de idade, criei um pequeno guia de oito mandamentos por meio do qual instruía os incautos que atacavam as pingas com irresponsável sofreguidão a alcançarem o nível de embriaguez que os levaria, com alguma sombra de dúvida, ao tão almejado sucesso nas baladas de fim de semana. (Sucesso = Pegar mulher gata = Pegar duas ou mais mulheres gatas = Transar com mulher gata = Transar com duas ou mais mulheres gatas = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada, e com as mães gostosas que iam pegar as respectivas filhas igualmente gostosas - que já foram espetadas por você horas, minutos, segundos antes -, e com a cobradora do busão - só se ela fosse gata, o que de fato não acontecia; um camarada meu pegou uma cobradora que tinha o corte de cabelo no formato asa delta, atitude que expõe à luz o deslize de ele não ter feito usufruto dos bens do meu guia. O mesmo camarada transou com uma ex-detenta que usava a coleção primavera-verão 2002 da Onbongo e, segundo o meu brother Fagundes, que estava na Prainha Branca, local da hediondez, “tinha uma copa aloirada, tal como o Cascão, no topo da cabeça, e parecia o Márcio Santos”, zagueiro do tetra na Copa de 94. Se bem que o próprio Fagundes tentou comer a ex-detenta vestida de Onbongo com a copa Aloirada parecida com o Márcio Santos, mas não conseguiu. O que denuncia que nem o meu guia é capaz de domar tais pedreirinhos.)

Agora leiam o guia que fez da Carlos Nehring (rua na qual eu e todos os meus amigos fomos criados) o maior antro de conquistadores que a Pérola do Atlântico jamais verá. (Ou verá? Ainda estamos esperando o dia em que isso irá acontecer.) / fator George Clooney de futuro promissor/

Guia alcoólico para garotos medianos (amaldiçoados?) que não agüentam mais ficar pesados

- Coma bastante antes de sair de casa.
- Peça uma garrafa de cerveja e tome com parcimônia. (Caso não saiba o que é parcimônia, tome-a devagar. Digo a cerveja, parcimônia não se bebe.)
- Peça outra, mas dessa vez seja menos cauteloso.
- Peça mais uma e vire com tudo e cuspa no chão para impor respeito. (Sem mostrar o peito, por favor, esse gesto é bem gay e só viado irá colar em você durante a balada.)
- Peça mais uma, só que dessa vez grite e bata com a palma da mão no balcão e dê uma risada de cigano e beba no gargalo da garrafa e cuidado para não derrubar a merda da garrafa e fazer um estrago e queimar o seu filme no bar e ser expulso pelo dono do bar e aí você vai ficar bravo porque já está bêbado e o dono do bar vai chamar os pescadores alcoólatras que já passaram da hora de marcarem uma consulta no dermatologista para descobrirem que já estão em um estágio avançado de câncer de pele e então eles vão te bater muito e vai sair sangue e quando sai sangue é uma merda.(Eu, ao ver sangue, já começo a chorar e gritar.)
- Peça mais uma e vire muito rápido, muito rápido, rápido, rápido...
- Peça mais outra e beba mais rápido ainda, mais rápido, ágil...
- Agora peça uma pinga pura e peça outra cerveja e alterne a bebedeira entre a pinga e a cerveja e torça para não fazer nenhuma besteira, tipo vomitar no pé de uma garota, principalmente de uma gostosa, quando isso acontece é terrível, sobretudo quando se está sozinho na balada e a gostosa está na companhia de algum amigão que está louco para comê-la, mas ainda não conseguiu, de modo que ele enxerga essa situação como uma perfeita oportunidade para conquistar o coração da garota, ou só o clitóris, e enche você - um saco de ossos e músculos totalmente fora de si e fora de equilíbrio e que só fala um dialeto, o dialeto do bêbado, que consiste só em falar merda – de porrada para comer a garota de quatro dentro do carro no final da balada, enquanto quem come o seu rabo no dia seguinte é a sua mãe e o seu pai por estar todo melecado de sangue seco e estar fedendo a álcool e por ter fodido o farol do carro e o pára-choque e amassado a porta e por não se lembrar de merda alguma.

Desde criançinha carrego um talento absurdo para bailar e fazer imitações de cantores e artistas dos mais variados. Por esse motivo que me entregava de corpo e alma a essas manifestações vazias e sem propósito algum, que têm como principal foco nos fazer acreditar que ler Camus é uma merda e que a melhor coisa a se fazer no mundo é encher a cara, ouvir e dançar música ruim, e agir como um completo babaca acéfalo.
Portanto, devo esclarecer algumas coisas acerca do meu nem tão distante passado. (Porque todo mundo tem um passado do qual não se orgulha.) Antes de ter sido influenciado pelas poesias de Charles Bukowski, pela prosa do John Fante, pelos vícios do Dostoieviski, pelas obsessões do Woody Allen, pelas músicas do Bob Dylan, pelas bizarrices do J. D. Salinger, pela insignificância musical do The The, pelas lamúrias do Jeff Buclkey, e pelos peitos da Érika Mader na série Mandrake, eu fui uma das inúmeras vítimas a fazer parte, mesmo que por pouco tempo, dos prazeres desprezíveis do gosto popular – eu era mais um no meio da massa.

Agora, com detalhes, farei um rápido apanhado da meteórica época em que eu estava incluído na categoria “Maria vai com as outras”, do teoricamente democrático “gosto popular”.

Leonardo 1986-1994

1- Aos 4 anos de idade, eu era obrigado a fazer uma versátil RaulGildesca performance para as visitas que aportavam em minha casa, na qual se destacavam as dublagens e os trejeitos mancos de Roberto Carlos, e o swing ainda negro de Michael Jackson, que redundaram em um prematuro problema nas minhas partes baixas devido ao excessivo número de golpes acompanhados pelos gritinhos afetados dados pelo Michael que eu imitava. (As seqüelas dessas violentíssimas pegadas no santo e nada asseado órgão genital vieram à tona na época em que eu batia 48 punhetas em um único mês. “É pra evitar o câncer de próstata”, eu dizia.)
2- Aos 4 anos e meio coloquei na cabeça que queria ter o rosto do Fofão do Balão Mágico. Perdi várias aulas no coléginho por causa das inúmeras visitas que tive que fazer à clínica de dermatologia.
3- Aos 5 anos descobri que gostava de futebol e que queria ser um jogador.
4- Aos 5 anos e meio virei Corintiano.
5- Aos 6 comprei a fantasia do Grifon, do Esquadrão nipônico Changeman.
6- Aos 6 e meio quebrei o nariz achando que poderia atravessar uma pilastra de concreto.
7-Aos 7 ganhei a minha primeira pipa e logo a coloquei no alto. Infelizmente, um minuto e meio depois de colocar aquele pedaço de papel com o rosto da Hello Kitty no céu (presente da minha madrinha), vi a minha adorável pipa ser cortada e esquartejada. Chorei demais, fiquei inconsolável, peguei as duas mãos e as coloquei nos dois extremos da boca no intuito de estourar com tudo e fazer cessar a portentosa dor. Aprendi essa manobra com o fanfarrão Didi Mocó. (Devo fazer uma pequena observação. Ao saber que eu era um bebê do sexo masculino, os meus familiares ficaram completamente decepcionados, isso porque eles contavam com o nascimento de uma menina. Depois, eles fizeram de tudo, até mesmo com o consentimento do meu avô nazista e gigolô, para tentar me transformar em uma bichinha, ou até mesmo em um travequinho mirim. Por isso que a minha madrinha me presenteou com a adorável pipa da Hello Kitty.)
8- Aos 8 chorei com o gol do Viola na final do Campeonato Paulista de 1988. E, na mesma data, descobri que a história da cegonha era uma falcatrua. (Pai e mãe, mãe e pai, pai e tia, mãe e filho do zelador, opa, fechem a porta.)
9- Aos 9 virei fã do Vanilla Ice e tive uma séria infecção no couro cabeludo de tanto besuntar no meu cabelo gel das mais variadas marcas. O propósito que buscava para essa repentina excentricidade era o de edificar um topete ainda maior que o do meu ídolo.
10- Aos 9 anos e meio andava na rua com catapora, com 3 relógios em cada pulso (todos eles quebrados), camisa com a estampa do Sérgio Malandro fazendo glu-glu, e só uma parte da cabeça habitada por exíguos fios capilares.
11- Aos 10 virei fã do New Kid’s On The Block e a minha família finalmente achou que eu viraria gay.
12- Aos 11 me transformei em rebelde (muito antes dos rebeldes mexicanos), deixei o cabelo crescer, depilei uma sobrancelha (?), usava shortinhos de lycra pretos acima do joelho e bem próximos à virilha, bebia água no vasilhame de cerveja Malt 90 à guisa de me assemelhar ao meu mais novo ídolo, Axl Rose. Minha avó teve um infarto quando me viu trajando esses modelitos. “Um infarto de imensa alegria”, disse a minha avó – irmã do meu avô nazi-gigolô e tia-avó do meu primo paparazzi - estendendo a mão na minha direção para presentear-me com uma necessaire de esmaltes com as cores do arco-íris.
13- Aos 12 anos de idade, inesperadamente, comecei a gostar de Pagode, Patrícia Marx e Luis Caldas – essa última escolha muito comemorada pela minha família por motivos óbvios.
14- Aos 13 anos bati punheta pela primeira vez e gozei na mão.
15- Aos 14 anos de idade conheci o AC/DC, Sex Pistols, parei de tomar banho, parei de escovar os dentes, comecei a cuspir no próprio rosto em lugares públicos, deixei de limpar a bunda e, surpreendentemente, comecei a pegar mulher.
16- Aos 15 anos de idade comprei uma bateria, montei uma banda, continuei pegando muita mulher (a maioria eram monstros horrendos) e achei que seria o novo Neil Peart.
17- Aos 17 me apaixonei perdidamente pela primeira vez e tomei no cu

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cloaca PO(bre ou dre)P # 3

Perguntas que Gostaria de Fazer para Pessoas que Teriam Respostas para Me Satisfazer:

Pergunta:
Já que você odeia o cinema brasileiro contemporâneo, duramente criticado pelo senhor...
Resposta: Senhor? Eu só tenho 29 anos!
Pergunta: Desculpe, intui erroneamente a sua idade baseado na armação do seu óculos.
Resposta: Tudo bem, monsieur, deixa pra lá.
Pergunta: Voltamos à questão. Já que você odeia o cinema nacional contemporâneo, duramente criticado por você “pela excessiva dissecação do paradigma da miséria e pela glamourização do crime organizado”, qual o período do cinema brasileiro que você reconhece como o mais relevante da nossa história?
Resposta: A Pornochanchada!

Pergunta: Poxa, cara, o que você tem contra o rap?
Resposta: É uma música sem criatividade.
Pergunta: Mas você não foi o membro fundador do fã clube do Thee Butcher’s Orchestra?
Resposta: Fui.

Em 2004...
Resposta: O show do Mars Volta foi ridículo, puro teatro!
Pergunta: Qual foi melhor show da noite?
Resposta: Grenade, nossa, disparado, meu!
Pergunta: Você não é a assessora de imprensa deles?
Resposta: É, sou.

Resposta: As Panicats não são gostosas nem bonitas!
Pergunta: Tá falando sério?
Resposta: Nem a Flávia Alessandra!
Pergunta: Tá maluco?
Resposta: Nem a Dani Bananinha.
Pergunta: Virou bicha?
Resposta: Nem a Jennifer Connelly
Pergunta: Então quem é gostosa e bonita?
Resposta: Kim Deal, sempre Kim Deal, para sempre Kim Deal.

Resposta: Tira esse som, tira essa bosta, essa mina chata gritando!
Pergunta: Eu li uma entrevista do Strokes falando muito bem dela, sabia?
Resposta: Me empresta depois para eu ouvir melhor.

Pergunta: A senhora escreveu um livro acadêmico sobre os brasileiros que vivem em Portugal?
Resposta: Sim. O livro parte da problemática da premissa redutora que o ser pernóstico...
Pergunta: Tá bom, cala a boca! O que é um livro acadêmico?
Resposta: Ah, eu só tive que colocar o meu nome na capa. O resto é só citação.
Pergunta: Cópia?
Resposta: Magina...
Pergunta: Cópia acadêmica?
Resposta: Exato.

Resposta: Cara, cê só fica aí deitado, bebendo cerveja, fumando maconha, lendo livro, falando merda com esses teus amigo fracassado, discutindo futebol, assistindo filme do Kevin Smith, do Simon Pegg, do Scorcese... Sai desse mundo sem significado, seu idiota, vamo curtir a vida, conhecer pessoas diferentes...
Pergunta: Me deixa, caralho, cuida da tua vida... Por falar nisso, que dia é hoje?
Resposta: Sexta.
Pergunta: Vai pra onde?
Resposta: Pro Glória!

Pergunta: A Trama é boa pra música?
Resposta: Claro, rapaz. Criamos o site Trama Virtual, o programa da Trama, na rede Multishow, apoiamos o programa Radiola, na T.V Cultura, estimulamos o cenário independente por todo o Brasil...
Pergunta: A Trama é boa pra música?
Resposta: Claro, meu rapaz. Lançamos Wilson Simoninha, Max de Castro, Pedro Mariano, Jairzinho, Luciana Mello...

Resposta: Ler Chuck Palahniuk não faz de você um intelectual respeitável.
Pergunta: O que devo ler para ser considerado um intelectual respeitável?
Resposta: Ulysses, de James Joyce.
Pergunta: Já leu?
Resposta: Claro, meu querido.
Pergunta: Entendeu?
Resposta: Não.

Resposta: Ele me falou que eu sou ridícula, que não tenho o mínimo de carisma, que não possuo apelo comercial...
Pergunta: Sério? Ele falou isso mesmo pra você?
Resposta: Que eu sou feia, que a minha voz é horrível, que não consigo segurar uma nota...
Pergunta: O que mais?
Resposta: Que eu não tenho talento, não tenho criatividade, que pra sempre serei uma empacada...
Pergunta: Afinal, quem falou isso tudo pra você?
Resposta: Kiko Zambianchi.

Pergunta: Olá, seja bem-vinda, como vai você?
Resposta: Vou bem.
Pergunta: Cadê o seu namorado?
Resposta: Não pôde vir, surgiu um compromisso inadiável de última hora.
Pergunta: Você tá bem mesmo?
Resposta: Mais ou menos.
Pergunta: O que tá pegando?
Resposta: É o meu namorado, o Carlos...
Pergunta: O que foi que ele fez?
Resposta: Eu não gosto quando ele desmarca os compromissos em cima da hora. Agora vou ficar de vela de você e da Pietra.
Pergunta: Que nada, relaxa. Qual o compromisso inadiável que não permitiu que ele viesse?
Resposta: Foi jogar Magic com os amigos.

Pergunta: E essa?
Resposta: Já peguei.
Pergunta: E essa aí com o moletom desbotado do Epcot Center?
Resposta: Já pagou uma bubuca pra mim dentro do carro do Senzala.
Pergunta: E a loira bunduda?
Resposta: Dei só uns beijinhos. Beija mal.
Pergunta: E a morena peituda?
Resposta: Tirei a virgindade dela.
Pergunta: E a ruivinha sardenta?
Resposta: Comi ela e a mãe.
Pergunta: Ao mesmo tempo?
Resposta: Lógico. Fiz cada uma gozar três vezes!
Pergunta: E aquela ali que tá apoiada no vaso de barro?
Resposta: Tive um caso com ela durante dois meses. Inverno é foda.
Pergunta: A anã? Tu teve um caso com a anã do terceiro ano de geografia?
Resposta: Opa, peraí... caralho, me enganei... é mentira... confundi...

Pergunta: Você tem alguma informação oficial sobre os indicados ao prêmio Nabokov deste ano?
Resposta: Informação oficial eu não tenho, mas já sei quem vai ganhar.
Pergunta: Quem?
Resposta: Porra, o Marcelo Camelo.

Resposta: Corintiano é tudo ridículo, tudo sofredor, tudo cagão!
Pergunta: Torce pra quem?
Resposta: Pro Manchester United.
Pergunta: Você nasceu onde?
Resposta: Na Barra do Una, fica no litoral sul de São Paulo.
Pergunta: Tem um puta manguezal por lá, né?
Resposta: Tem, eu nasci bem ao lado do mangue, fiquei com cara toda melecada. Na verdade, ainda nem tem luz naquela porra.

Resposta: Fecha a porta!
Pergunta: E aí, o que aconteceu? Por que essa bagunça?
Resposta: Minha mina me deixou.
Pergunta: Por quê?
Resposta: Incompatibilidade de interesses.
Pergunta: O que você tá fazendo com essa caixa na mão?
Resposta: Vou jogar tudo que é dela fora. Começando pelos CD’s.
Pergunta: Ela não vai ficar brava?
Resposta: Eu quero que ela se foda. Se liga, me ajuda.
Pergunta: O que é isso?
Resposta: É o CD do Fugazi, uma bosta, é dela, pode jogar fora!
Pergunta: E esse?
Resposta: The Nudes, Pele. Também é dela, deve ser alguma coisa que o Pelé canta, música pra criança pobre e analfabeta, sei lá, eu não sabia que ela gostava do Pelé, aquela vaca sempre odiou futebol. Foda-se, joga fora!
Pergunta: E esse aqui com esse cara de boina?
Resposta: Bob Dylan. Parece música sertaneja. É um malandro tipo fanhoso. Também é da Elisa. Manda Pro lixo.
Pergunta: E esse do cara de correntão?
Resposta: Caralho, eu achei que tinha perdido este CD, gosto pra caralho desse cara, ele faz um som foda. Este disco é meu. A Elisa odiava este CD. Mas um motivo pra odiar aquela vaca! Bota pra rolar no som.
Pergunta: Qual é o nome desse cara do correntão que tu curte?
Resposta: Cabal.
Pergunta: Ele faz a sobrancelha, não faz?
Resposta: Tá louco, mano, o cara é sangue nos óio!

Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Revolução dos Bichos.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Veja
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Valor nutricional do Cebolitos.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: “Era Só Mais Um Silva: A História Do Funk Carioca”.
Pergunta: Tá lendo o quê?
Resposta: Cartaz de desaparecimento de um cão na primeira pessoa.
Pergunta: Foi o cão que escreveu?
Resposta: Parece que sim.
Pergunta: Como é?
Resposta: “Oi, eu sou o Fluffy, tenho dois aninhos e estou com a minha patinha esquerda quebrada. Sou macho, apesar do meu nome e da minha raça, pudoll, e há duas semanas estou longe de casa e com muito frio, fome e com saudades dos meus donos...

Resposta: Na minha adolescência, quando estava com os hormônios em ebulição e não podia alugar filme pornô na locadora, eu alugava Instinto Selvagem.
Pergunta: E hoje, se não tivesse internet, o que será que a molekadinha iria alugar para socar uma?
Resposta: Ken Park!

Resposta: Hoje eu fiquei pensando nas oscilações da existência e cheguei a uma reconfortante conclusão.
Pergunta: Qual?
Resposta: Até as coisas mais grotescas podem se tornar triunfos tão aprazíveis quanto um orgasmo fantástico que precede o mais belo pôr do sol.
Pergunta: Por exemplo?
Resposta: Kenny G versão Ska!
Resposta do que sempre pergunta: Pode crer.