Prefácio: Papo de zagueiras
(Diálogo baseado em fatos reais)
Menina número 1: “meu, só tem gente feia nesse lugar.” Detalhe: a mina é birolha.
Menina número 2: “nossa, é verdade, só tem baiano nessa merda”, a mina número 2 é gorda pra caralho.
Menina número 1: “olha a roupa dessa menina, que coisa horrível, nada combina, parece uma... como é o nome daquele bicho que levanta umas pena colorida nas costa dele?” Além de birolha, é burra.
Menina número 2: “é uma garça, né?” Além de gorda pra caralho, não sabe que garça não é pavão.
Menina número1: “é esse bicho memo. Meu, mudando completamente de assunto, você soube que a Juliana Pompeu tá grávida?” Além de birolha e burra, é fofoqueira.
Menina número 2: “não, não acredito, pelo amor de Deus, que vaca, também ela já deu pra todo mundo, transa com todo mundo, beijou todo mundo do Universitas, bem feito praquela piranhuda gorda”, além de ser gorda e não saber que garça não é pavão, também é fofoqueira, virgem, sem espelho em casa e invejosa.
Eu adorava ir a lugares nos quais a dádiva da locomoção torna-se algo doloroso e vagaroso. Eu amava lugares onde sovacos masculinos e suor de pessoas gordas e porcas se fundiam com a nossa asseada pele. O problema é que eu estava sempre completamente doidão, portanto eu queria que tudo e todas as pessoas do mundo e de marte se fodessem explodindo.
O bom de ficar bêbado é que tudo parece possível de ser realizado. O ruim de ficar bêbado é que cu de bêbado não tem dono, mas nunca fiquei tão bêbado a ponto de esquecer que era dono do meu próprio cu. Por onde passava alguma coisa ia ao chão. Tentava mijar na rua, mas acabava mijando no meu pé e esquecendo de balançar a minhoca menor de idade (não só de idade) e os respingos amarelados sobre a calça eram inevitáveis.
Há mais de dez anos atrás, no período em que eu ainda era um inocente pré-adolescente que jogava Fifa Soccer, eu tinha uma terrível mania de fazer xixxizão com as calças completamente arriadas, o que era bastante reprovável e excêntrico quando eu, uma quase criança que socava uma e ainda reconhecia isso como um ato pecaminoso (mesmo sem saber o significado de pecaminoso), fazia a minha necessidade – e não “as”, porque extirpação das fezes eu não tinha coragem de fazer em público, embora já tenha feito na água do mar, o mesmo aconteceu com o meu amigo Ciro, o que não vem ao caso neste momento – no meio da rua, bem em frente aos incrédulos ou entretidos ou divertidos transeuntes de todas as raças, credos e gerações.
A minha devoção pelos destilados foi tão intensa que, aos 18 anos de idade, criei um pequeno guia de oito mandamentos por meio do qual instruía os incautos que atacavam as pingas com irresponsável sofreguidão a alcançarem o nível de embriaguez que os levaria, com alguma sombra de dúvida, ao tão almejado sucesso nas baladas de fim de semana. (Sucesso = Pegar mulher gata = Pegar duas ou mais mulheres gatas = Transar com mulher gata = Transar com duas ou mais mulheres gatas = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada = Transar com todas as mulheres gatas da balada, inclusive com as vendedoras de cachorro quente - só com as gatas - que ficavam em frente à balada, e com as mães gostosas que iam pegar as respectivas filhas igualmente gostosas - que já foram espetadas por você horas, minutos, segundos antes -, e com a cobradora do busão - só se ela fosse gata, o que de fato não acontecia; um camarada meu pegou uma cobradora que tinha o corte de cabelo no formato asa delta, atitude que expõe à luz o deslize de ele não ter feito usufruto dos bens do meu guia. O mesmo camarada transou com uma ex-detenta que usava a coleção primavera-verão 2002 da Onbongo e, segundo o meu brother Fagundes, que estava na Prainha Branca, local da hediondez, “tinha uma copa aloirada, tal como o Cascão, no topo da cabeça, e parecia o Márcio Santos”, zagueiro do tetra na Copa de 94. Se bem que o próprio Fagundes tentou comer a ex-detenta vestida de Onbongo com a copa Aloirada parecida com o Márcio Santos, mas não conseguiu. O que denuncia que nem o meu guia é capaz de domar tais pedreirinhos.)
Agora leiam o guia que fez da Carlos Nehring (rua na qual eu e todos os meus amigos fomos criados) o maior antro de conquistadores que a Pérola do Atlântico jamais verá. (Ou verá? Ainda estamos esperando o dia em que isso irá acontecer.) / fator George Clooney de futuro promissor/
Guia alcoólico para garotos medianos (amaldiçoados?) que não agüentam mais ficar pesados
- Coma bastante antes de sair de casa.
- Peça uma garrafa de cerveja e tome com parcimônia. (Caso não saiba o que é parcimônia, tome-a devagar. Digo a cerveja, parcimônia não se bebe.)
- Peça outra, mas dessa vez seja menos cauteloso.
- Peça mais uma e vire com tudo e cuspa no chão para impor respeito. (Sem mostrar o peito, por favor, esse gesto é bem gay e só viado irá colar em você durante a balada.)
- Peça mais uma, só que dessa vez grite e bata com a palma da mão no balcão e dê uma risada de cigano e beba no gargalo da garrafa e cuidado para não derrubar a merda da garrafa e fazer um estrago e queimar o seu filme no bar e ser expulso pelo dono do bar e aí você vai ficar bravo porque já está bêbado e o dono do bar vai chamar os pescadores alcoólatras que já passaram da hora de marcarem uma consulta no dermatologista para descobrirem que já estão em um estágio avançado de câncer de pele e então eles vão te bater muito e vai sair sangue e quando sai sangue é uma merda.(Eu, ao ver sangue, já começo a chorar e gritar.)
- Peça mais uma e vire muito rápido, muito rápido, rápido, rápido...
- Peça mais outra e beba mais rápido ainda, mais rápido, ágil...
- Agora peça uma pinga pura e peça outra cerveja e alterne a bebedeira entre a pinga e a cerveja e torça para não fazer nenhuma besteira, tipo vomitar no pé de uma garota, principalmente de uma gostosa, quando isso acontece é terrível, sobretudo quando se está sozinho na balada e a gostosa está na companhia de algum amigão que está louco para comê-la, mas ainda não conseguiu, de modo que ele enxerga essa situação como uma perfeita oportunidade para conquistar o coração da garota, ou só o clitóris, e enche você - um saco de ossos e músculos totalmente fora de si e fora de equilíbrio e que só fala um dialeto, o dialeto do bêbado, que consiste só em falar merda – de porrada para comer a garota de quatro dentro do carro no final da balada, enquanto quem come o seu rabo no dia seguinte é a sua mãe e o seu pai por estar todo melecado de sangue seco e estar fedendo a álcool e por ter fodido o farol do carro e o pára-choque e amassado a porta e por não se lembrar de merda alguma.
Desde criançinha carrego um talento absurdo para bailar e fazer imitações de cantores e artistas dos mais variados. Por esse motivo que me entregava de corpo e alma a essas manifestações vazias e sem propósito algum, que têm como principal foco nos fazer acreditar que ler Camus é uma merda e que a melhor coisa a se fazer no mundo é encher a cara, ouvir e dançar música ruim, e agir como um completo babaca acéfalo.
Portanto, devo esclarecer algumas coisas acerca do meu nem tão distante passado. (Porque todo mundo tem um passado do qual não se orgulha.) Antes de ter sido influenciado pelas poesias de Charles Bukowski, pela prosa do John Fante, pelos vícios do Dostoieviski, pelas obsessões do Woody Allen, pelas músicas do Bob Dylan, pelas bizarrices do J. D. Salinger, pela insignificância musical do The The, pelas lamúrias do Jeff Buclkey, e pelos peitos da Érika Mader na série Mandrake, eu fui uma das inúmeras vítimas a fazer parte, mesmo que por pouco tempo, dos prazeres desprezíveis do gosto popular – eu era mais um no meio da massa.
Agora, com detalhes, farei um rápido apanhado da meteórica época em que eu estava incluído na categoria “Maria vai com as outras”, do teoricamente democrático “gosto popular”.
Leonardo 1986-1994
1- Aos 4 anos de idade, eu era obrigado a fazer uma versátil RaulGildesca performance para as visitas que aportavam em minha casa, na qual se destacavam as dublagens e os trejeitos mancos de Roberto Carlos, e o swing ainda negro de Michael Jackson, que redundaram em um prematuro problema nas minhas partes baixas devido ao excessivo número de golpes acompanhados pelos gritinhos afetados dados pelo Michael que eu imitava. (As seqüelas dessas violentíssimas pegadas no santo e nada asseado órgão genital vieram à tona na época em que eu batia 48 punhetas em um único mês. “É pra evitar o câncer de próstata”, eu dizia.)
2- Aos 4 anos e meio coloquei na cabeça que queria ter o rosto do Fofão do Balão Mágico. Perdi várias aulas no coléginho por causa das inúmeras visitas que tive que fazer à clínica de dermatologia.
3- Aos 5 anos descobri que gostava de futebol e que queria ser um jogador.
4- Aos 5 anos e meio virei Corintiano.
5- Aos 6 comprei a fantasia do Grifon, do Esquadrão nipônico Changeman.
6- Aos 6 e meio quebrei o nariz achando que poderia atravessar uma pilastra de concreto.
7-Aos 7 ganhei a minha primeira pipa e logo a coloquei no alto. Infelizmente, um minuto e meio depois de colocar aquele pedaço de papel com o rosto da Hello Kitty no céu (presente da minha madrinha), vi a minha adorável pipa ser cortada e esquartejada. Chorei demais, fiquei inconsolável, peguei as duas mãos e as coloquei nos dois extremos da boca no intuito de estourar com tudo e fazer cessar a portentosa dor. Aprendi essa manobra com o fanfarrão Didi Mocó. (Devo fazer uma pequena observação. Ao saber que eu era um bebê do sexo masculino, os meus familiares ficaram completamente decepcionados, isso porque eles contavam com o nascimento de uma menina. Depois, eles fizeram de tudo, até mesmo com o consentimento do meu avô nazista e gigolô, para tentar me transformar em uma bichinha, ou até mesmo em um travequinho mirim. Por isso que a minha madrinha me presenteou com a adorável pipa da Hello Kitty.)
8- Aos 8 chorei com o gol do Viola na final do Campeonato Paulista de 1988. E, na mesma data, descobri que a história da cegonha era uma falcatrua. (Pai e mãe, mãe e pai, pai e tia, mãe e filho do zelador, opa, fechem a porta.)
9- Aos 9 virei fã do Vanilla Ice e tive uma séria infecção no couro cabeludo de tanto besuntar no meu cabelo gel das mais variadas marcas. O propósito que buscava para essa repentina excentricidade era o de edificar um topete ainda maior que o do meu ídolo.
10- Aos 9 anos e meio andava na rua com catapora, com 3 relógios em cada pulso (todos eles quebrados), camisa com a estampa do Sérgio Malandro fazendo glu-glu, e só uma parte da cabeça habitada por exíguos fios capilares.
11- Aos 10 virei fã do New Kid’s On The Block e a minha família finalmente achou que eu viraria gay.
12- Aos 11 me transformei em rebelde (muito antes dos rebeldes mexicanos), deixei o cabelo crescer, depilei uma sobrancelha (?), usava shortinhos de lycra pretos acima do joelho e bem próximos à virilha, bebia água no vasilhame de cerveja Malt 90 à guisa de me assemelhar ao meu mais novo ídolo, Axl Rose. Minha avó teve um infarto quando me viu trajando esses modelitos. “Um infarto de imensa alegria”, disse a minha avó – irmã do meu avô nazi-gigolô e tia-avó do meu primo paparazzi - estendendo a mão na minha direção para presentear-me com uma necessaire de esmaltes com as cores do arco-íris.
13- Aos 12 anos de idade, inesperadamente, comecei a gostar de Pagode, Patrícia Marx e Luis Caldas – essa última escolha muito comemorada pela minha família por motivos óbvios.
14- Aos 13 anos bati punheta pela primeira vez e gozei na mão.
15- Aos 14 anos de idade conheci o AC/DC, Sex Pistols, parei de tomar banho, parei de escovar os dentes, comecei a cuspir no próprio rosto em lugares públicos, deixei de limpar a bunda e, surpreendentemente, comecei a pegar mulher.
16- Aos 15 anos de idade comprei uma bateria, montei uma banda, continuei pegando muita mulher (a maioria eram monstros horrendos) e achei que seria o novo Neil Peart.
17- Aos 17 me apaixonei perdidamente pela primeira vez e tomei no cu
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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4 comentários:
Muito bom!!
Esse Ciro é foda.
Mais uma vez sensacional!
fodido hehe, vo te contratar pra escrever a minha biografia, prepare-se para virar o hank moody brasileiro huahuahuaha
Adorrooo os peitos da Érika Mader
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