Eu estudava em um colégio particular com o distinto conforto de um colégio estadual. Na sétima série a classe tinha 63 alunos. 60% composto por mulheres. A maioria dessas meninas era mais danada do que o mais testosteronico dos homens. Metade da ala masculina era composta por micro-criminosos (pichadores, cheiradores de cola, de benzina, adeptos da erva do Bob dos Marley, ladrões de refrigerante, alcoólatras pueris, fãs de Marcelo D2, espancadores de mulher, sonhadores em busca da dádiva da pós-graduação do estupro, afogadores de gordinhos nerds que, no primeiro momento, não passavam cola a eles, mas depois de apanharem bastante, sofrerem bastante, prostravam-se como prostitutas regeneradas pelos braços gordos, suarentos, dourados, de um ex-cliente bem feitor). A outra metade era substancialmente heterogênea – nerds chatos, nerds legais, gargalhadores que até babavam em suas ridículas jardineiras, orelhudos patinadores, desafortunados de língua presa, míopes sem sorte nos esportes, narigudos e orelhudos, obesos gentis, obesos efeminados, ingênuos que se achavam o máximo por irem à escola de mobilete, aspirantes a valentões protometrossexuais, filhos de dono de padaria com halitose, assinantes incógnitos de revista de mulher pelada das mais variadas, orelhudo e narigudo e gordo e com o rosto atulhado de espinhas amareladas, e magrinho cabeçudo inusitadamente bom nos esportes, amigo dos nerds legais, respeitado pelos nerds crápulas, estimado pelos valentões, incompreendido pelos professores, companheiro dos feios, conselheiro dos anormais, mediador das diferenças, por um semestre adorado pelas mulheres, por outro sumariamente odiado pelas vacas; ou seja, falo de mim mesmo.
Em circunstâncias normais, não era para eu estar naquilo que se tornou o maior pandemônio na história da Escola Adélia Camargo Corrêa. Antes, havia reprovado dois anos em outras instituições. No colégio Alfa, exemplo de ensino elitista guarujaense, onde se tinha que levar papel higiênico da própria casa, senão teria que flanar pelo suntuoso pátio com a bunda suja, me fodi na quinta série, em quase todas as matérias, menos em educação física; e no Don Domênico, reduto dos playboys enfurecidos por serem playboys, que cometiam atos ignominiosos tais como a deglutição das próprias unhas ao vivo, a extirpação de espinhas sanguinolentas contra paredes quase translúcidas e a audácia de conceberem respostas invariavelmente ofensivas que visavam professoras corcundas de história que possuíam laços familiares estreitos com Platão, Aristóteles e o machão do Sócrates, me estrepei na sexta série, em matemática e geometria.
Segundo o método criado pelos meus pais, por meio do qual a minha incompetência era julgada sem compaixão e com requintes de crueldade, eu teria que mudar de colégio a cada vez que fosse reprovado – com a atenuante condição de ter que fazer as malas somente a escolas particulares, pois eles tinham medo da triste possibilidade de seu querido rebento tratado a pão de ló ser esfaqueado ou currado por um bando de pré-adolescentes selvagens. Outro quesito desse método era que, embora eu fosse aportar em mais uma instituição particular com o meu rosto angelicalmente corado, obrigatoriamente seria matriculado em uma versão menos bem sucedida que a antecessora. Em outras palavras, não faria mais trabalhos escolares com herdeiros de políticos, mães platinadas peitudonas não escutariam mais o meu tímido mas sensual sibilar as agradecendo pelo rocambolesco lanche da tarde, e a melhor notícia de todas é que não haveria mais necessidade em me apaixonar por garotas impossíveis, intocáveis, musas sem defeitos – à época desconhecia o fato que a falta de idéias é um câncer grave que concebe fracassos e se alimenta da própria criação.
Toda a paz e respeito que adquiri na sétima série talvez tenha sido uma recompensa pelos sucessivos e intermináveis anos em que sofri nas mãos de crianças grandes papudas de unhas sujas que por meio da violência minimizavam o seu diligentemente atualizado acúmulo de desventuras sociais. Recebi o meu primeiro soco na cara muito antes do primeiro beijo. Vi amigos atolados na espécie mais cruel de subordinação. Guarujá é tão pequena que não faltam ocasiões para esbarrar fisicamente no outrora diabo dos seus pesadelos. Eles mastigam de boca aberta enquanto saúdam amantes contratadas num esforço sobre-humano de infundirem discrição na inevitável brusquidão dos seus gestos. Nas bolsas de aposta são favoritos absolutos a terem o próximo ataque fulminante nos intumescidos corações gordurosos. Não falam, cospem. Não abraçam, esmagam. Não lembram, esquecem. Ao contrário delas, suas sempre atuais - estava escrito nas estrelas - esposas chifrudas, aquelas coitadas que inspiram compaixão alheia tamanho o descontrole absoluto das crianças que se agarram histéricas em suas roupas de grife já alargadas pelas mãozinhas geneticamente ignóbeis. Elas, as cornas permanentes que insistem em evocar o passado glorioso repleto de luxúria e intransigência, jamais esquecerão da ensolarada adolescência. Jamais intuirão que os verões noventinos eram mais claustrofóbicos do que os verões atuais. Elas reviram minuciosamente álbuns de fotografia em busca de consolo. Não invejam as amigas porque essas estão em pior situação. Provam freneticamente as roupas que caiam tão bem há alguns anos atrás, nem são tantos anos assim, e que agora as banhas fazem questão de estragar derramando os funestos tecidos adiposos sobre os fechos antes vistos pelos inúmeros ávidos rapazes como a única porta capaz de se comparar à exultante sensação de conquistar a Copa do Mundo.
Paloma me viu e fez questão de rolar o corpanzil redondo em minha direção. Olhou nos meus olhos com olhar explícito de expectativa. Enfim a chance tão sonhada de poder cruzar o limiar em direção à máquina do tempo. Um passo pra trás em busca do progresso. Fisicamente eu não mudei nada. Ela sabe disso mais do que ninguém. O único consolo nutrido pela circunferência ambulante é a possibilidade de não ter havido uma alteração drástica na minha risível personalidade inocente. Ela espera elogios. Não se pergunta como porque está excepcionalmente interrompida a inclemente visão auto-crítica que nutre sobre si mesma à base de muito açúcar, sal, pizza, batata-frita, ausência de orgasmo, perda de fôlego, curso por correspondência de interpretação dramática em prol do fingimento em pleno ato de fornicação, duas horas diárias de desfalecimento acompanhados de sonoras flatulências e estertores modelo porco e ingestão de suor azedo com pitadas de pêlos descoloridos e pentelhos companheiros saudosistas de órgãos genitais invisíveis... Não a vi chegando até mim. Vi gotas de suor sobre sua testa. Vi uma torrente de suor sobre os seus braços. Não vi o seu pescoço. Ilustrei internamente o fato de poder tocar os seus seios com o dedão do meu pé. Conjeturei pleno de certeza a visão patética que deve ter sido o percurso de sua maratona em busca da linha chegada (eu). Conjeturei a triste empertigada corporal no apoteótico, não menos grotesco, intuito de empinar a geleienta comissão de frente repleta de atrativos similares a uma esparramada ilha desmatada, ausente de turistas, famosa pelo seu passado e devastada por antigos homens que usaram, abusaram e sugaram todos os belos atributos naturais a tornando um ambiente digno de pena. Conjeturei os bastidores, a pré-balada, as palavras saindo da boca do marido, o esposo calvo, ele era mais bonito, ele era o mais bonito, o bafo de cebola se intensificando à medida em que se aproximava à boca da mulher, que já foi tão linda, que só com o olhar era capaz de escravizar uma legião de garotos sôfregos, e hoje tem opacas olheiras escondendo os olhos esverdeados, o semblante extenuado de tanta amamentação, de limpar merda fresca, de carregar trinta quilos em cada braço, de ter que fugir desesperadamente de lugares públicos devido à abertura do berreiro dos seus fofos herdeiros que destruíram de vez a sua vida, mas ela os ama tanto, mesmo quando pede a Deus para acordar no dia seguinte com 15 anos de idade, livre de tudo, cheia de esperança, prometendo a si mesma não cometer os mesmos erros, já que ela conheceu o futuro e não gostou de nada do que viu lá, principalmente ao se olhar no espelho e se impressionar por se reconhecer em um corpo de dirigível.
Em circunstâncias normais, não era para eu estar naquilo que se tornou o maior pandemônio na história da Escola Adélia Camargo Corrêa. Antes, havia reprovado dois anos em outras instituições. No colégio Alfa, exemplo de ensino elitista guarujaense, onde se tinha que levar papel higiênico da própria casa, senão teria que flanar pelo suntuoso pátio com a bunda suja, me fodi na quinta série, em quase todas as matérias, menos em educação física; e no Don Domênico, reduto dos playboys enfurecidos por serem playboys, que cometiam atos ignominiosos tais como a deglutição das próprias unhas ao vivo, a extirpação de espinhas sanguinolentas contra paredes quase translúcidas e a audácia de conceberem respostas invariavelmente ofensivas que visavam professoras corcundas de história que possuíam laços familiares estreitos com Platão, Aristóteles e o machão do Sócrates, me estrepei na sexta série, em matemática e geometria.
Segundo o método criado pelos meus pais, por meio do qual a minha incompetência era julgada sem compaixão e com requintes de crueldade, eu teria que mudar de colégio a cada vez que fosse reprovado – com a atenuante condição de ter que fazer as malas somente a escolas particulares, pois eles tinham medo da triste possibilidade de seu querido rebento tratado a pão de ló ser esfaqueado ou currado por um bando de pré-adolescentes selvagens. Outro quesito desse método era que, embora eu fosse aportar em mais uma instituição particular com o meu rosto angelicalmente corado, obrigatoriamente seria matriculado em uma versão menos bem sucedida que a antecessora. Em outras palavras, não faria mais trabalhos escolares com herdeiros de políticos, mães platinadas peitudonas não escutariam mais o meu tímido mas sensual sibilar as agradecendo pelo rocambolesco lanche da tarde, e a melhor notícia de todas é que não haveria mais necessidade em me apaixonar por garotas impossíveis, intocáveis, musas sem defeitos – à época desconhecia o fato que a falta de idéias é um câncer grave que concebe fracassos e se alimenta da própria criação.
Toda a paz e respeito que adquiri na sétima série talvez tenha sido uma recompensa pelos sucessivos e intermináveis anos em que sofri nas mãos de crianças grandes papudas de unhas sujas que por meio da violência minimizavam o seu diligentemente atualizado acúmulo de desventuras sociais. Recebi o meu primeiro soco na cara muito antes do primeiro beijo. Vi amigos atolados na espécie mais cruel de subordinação. Guarujá é tão pequena que não faltam ocasiões para esbarrar fisicamente no outrora diabo dos seus pesadelos. Eles mastigam de boca aberta enquanto saúdam amantes contratadas num esforço sobre-humano de infundirem discrição na inevitável brusquidão dos seus gestos. Nas bolsas de aposta são favoritos absolutos a terem o próximo ataque fulminante nos intumescidos corações gordurosos. Não falam, cospem. Não abraçam, esmagam. Não lembram, esquecem. Ao contrário delas, suas sempre atuais - estava escrito nas estrelas - esposas chifrudas, aquelas coitadas que inspiram compaixão alheia tamanho o descontrole absoluto das crianças que se agarram histéricas em suas roupas de grife já alargadas pelas mãozinhas geneticamente ignóbeis. Elas, as cornas permanentes que insistem em evocar o passado glorioso repleto de luxúria e intransigência, jamais esquecerão da ensolarada adolescência. Jamais intuirão que os verões noventinos eram mais claustrofóbicos do que os verões atuais. Elas reviram minuciosamente álbuns de fotografia em busca de consolo. Não invejam as amigas porque essas estão em pior situação. Provam freneticamente as roupas que caiam tão bem há alguns anos atrás, nem são tantos anos assim, e que agora as banhas fazem questão de estragar derramando os funestos tecidos adiposos sobre os fechos antes vistos pelos inúmeros ávidos rapazes como a única porta capaz de se comparar à exultante sensação de conquistar a Copa do Mundo.
Paloma me viu e fez questão de rolar o corpanzil redondo em minha direção. Olhou nos meus olhos com olhar explícito de expectativa. Enfim a chance tão sonhada de poder cruzar o limiar em direção à máquina do tempo. Um passo pra trás em busca do progresso. Fisicamente eu não mudei nada. Ela sabe disso mais do que ninguém. O único consolo nutrido pela circunferência ambulante é a possibilidade de não ter havido uma alteração drástica na minha risível personalidade inocente. Ela espera elogios. Não se pergunta como porque está excepcionalmente interrompida a inclemente visão auto-crítica que nutre sobre si mesma à base de muito açúcar, sal, pizza, batata-frita, ausência de orgasmo, perda de fôlego, curso por correspondência de interpretação dramática em prol do fingimento em pleno ato de fornicação, duas horas diárias de desfalecimento acompanhados de sonoras flatulências e estertores modelo porco e ingestão de suor azedo com pitadas de pêlos descoloridos e pentelhos companheiros saudosistas de órgãos genitais invisíveis... Não a vi chegando até mim. Vi gotas de suor sobre sua testa. Vi uma torrente de suor sobre os seus braços. Não vi o seu pescoço. Ilustrei internamente o fato de poder tocar os seus seios com o dedão do meu pé. Conjeturei pleno de certeza a visão patética que deve ter sido o percurso de sua maratona em busca da linha chegada (eu). Conjeturei a triste empertigada corporal no apoteótico, não menos grotesco, intuito de empinar a geleienta comissão de frente repleta de atrativos similares a uma esparramada ilha desmatada, ausente de turistas, famosa pelo seu passado e devastada por antigos homens que usaram, abusaram e sugaram todos os belos atributos naturais a tornando um ambiente digno de pena. Conjeturei os bastidores, a pré-balada, as palavras saindo da boca do marido, o esposo calvo, ele era mais bonito, ele era o mais bonito, o bafo de cebola se intensificando à medida em que se aproximava à boca da mulher, que já foi tão linda, que só com o olhar era capaz de escravizar uma legião de garotos sôfregos, e hoje tem opacas olheiras escondendo os olhos esverdeados, o semblante extenuado de tanta amamentação, de limpar merda fresca, de carregar trinta quilos em cada braço, de ter que fugir desesperadamente de lugares públicos devido à abertura do berreiro dos seus fofos herdeiros que destruíram de vez a sua vida, mas ela os ama tanto, mesmo quando pede a Deus para acordar no dia seguinte com 15 anos de idade, livre de tudo, cheia de esperança, prometendo a si mesma não cometer os mesmos erros, já que ela conheceu o futuro e não gostou de nada do que viu lá, principalmente ao se olhar no espelho e se impressionar por se reconhecer em um corpo de dirigível.
3 comentários:
vaaaaaaaaaaaai toma no cu blogger de meeeeerda! escrevi um comentario gigante, e eu perdi a porra toda...
AAAAAAAAAAAAH CARALHOOOOO!!!!!
A ruíva de rosa é a mais gostosa das 4.
Eu dava uns amassos nela, fácil!!!.
ha! ha! ha! A molecadinha da mão peluda entra babando... dá até dó... agora, falando sério, este texto foi um achado, muito interessante mesmo.
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