segunda-feira, 27 de junho de 2011

Os 1001 ensinamentos, lucubrações e idiossincrasias do Solitário Corredor

















Número 1

Quem vê, pensa: “vou começar a correr para ver se arranjo uma mulher que me aqueça no frio e que tire a minha roupa e lamba o meu suor no verão”. Quem vê filme hollywoodiano, pensa: “não existe gente assim, não há tamanha interação que gere, em tempo recorde, uma relação sexual com tanta simplicidade”. Quem corre no Parque do Ibirapuera, diz: “tem muita gostosa por aqui”. Quem corre no Guarujá, na orla da praia, fora de temporada, pede: “tomara que eu não seja assaltado, já estou sem relógio, sem corrente, sem Ipod, correndo descalço, sem shorts, sem camiseta e só de samba-canção - só falta um louco ou uma gorda alucinada querer me estruprar”. Quem corre, sua. Ou, como diria Heleno de Prado, o poeta do mangue, “quem corre, soa”. Porque suor por todo o corpo só é sexy em pessoas que são sexy's até cobertas de merda. Letícia Spiller suada: encaro (com prazer!). Suzana Vieira suada: passo, deve parecer um churros estragado pelo verão. Dani Bananinha cagada: sem pestanejar (as enfermeira(o)s limpam bosta de gente doente e, cá entre nós, além de serem mal remunerada(o)s ao exercerem tamanho sacrifício nauseabundo, os seus pacientes não chegam nem a um décimo da gostosura contida nos 53kg magnificamente distribuídos em 1,66 de altura, 69cm de cintura, 88cm de busto e 91 cm de quadril de Dani Bananinha)!

Jamais presenciei e nem ao menos soube de alguém que tenha paquerado outro alguém na hora da corrida e dessa intersecção casual tenha vindo à luz algo relevante: Sexo. Ou, como questionaria Juquinha, um gentleman de fino trato: “Sexo Anal?”. Em contrapartida, o meio em que vivo e as pessoas com quem ando não podem servir de parâmetro em um mundo marcado a sangue pela sacanagem interesseira e pela sacanagem por atributos – aqui, na Carlos Nehring, não temos nada que lhe interesse e somos destituídos de qualquer atributo que possa lhe interessar à primeira vista. Eu? Eu não paquero. Eu ajo. E quase sempre erro. O alvo. O tom. Tanto da conversa quanto da voz. O penteado. Ou o corte. Do cabelo ou da roupa. Só por ter nascido, eu já saio em desvantagem. Graças às malucas, pude perder a virgindade. E à bebida. Às drogas. E o que elas fazem com a cabeça das pessoas. As lembranças se apagam e parece que nada aconteceu. Conta-se a todo mundo e fica a impressão que nada que se faça irá fazer com que as pessoas acreditem que você realmente fez. Essa é a origem da mentira verdadeira. Ou da verdade ultra-subestimada. Discos voadores brilham no céu nas madrugadas das grandes cidades. Parentes já falecidos assaltam a geladeira de madrugada. Professoras em trajes sumários deixam à mostra a microcalcinha na aula de antropologia. Namoradas de amigos os traem na escuridão do cinema com direito à felação. Subitamente: um bacanal. Subitamente: uma empregada gostosa aparece e se despe num significante estalar de dedos. Subitamente: uma bela teta se solta no fundo da piscina. Mas não há testemunhas. Quando há testemunhas, ou elas estão inconscientes ou xavecando uma mendiga ou xavecando a cobradora do ônibus de cabelo asa-delta ou xavecando a tia do cachorro-quente ou correndo destrambelhadamente nuas pelas ruas apinhadas de alcoólatras mirins ou fumando o sétimo beck do dia só pela força do hábito ou se masturbando à noite no cantão da praia do Tombo pensando naquela prima gostosa que morreu ao voltar bêbada de uma balada depois de ficar com um cara parecido comigo e que com toda a certeza contou para todo mundo e óbvio que ninguém nunca acreditou nele, ninguém estava lá de fato para ver, nunca mais ele terá a chance de vê-la à distância para bater no braço dos que estão em volta e apontar o dedo e dizer “é aquela daquela noite” e pensar e não externar: “Nem morta ela irá confessar o que fez comigo”.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A moda do Hard Seicho-No-Ie (um texto sério)

















"Não faça nada! Minta!”
Primeiro e único mandamento da cartilha do Hard Seicho-No-Ie.

“Sou isso que sou. Goste ou não, sou isso que sou.”
Trecho do livro Como fugi do estrabismo, de Arno Palumbo, editora Sem

Eu nunca tive Twitter. Eu nunca tive Facebook. Eu fui o último do meu círculo de amizades a ter celular. Esclareço desde já que não tenho nada contra quem usufrui dessas mídias sociais. Essa relutância à tecnologia não se deve a um suposto purismo renitente, mas sim ao fato de possuir muitas dificuldades e preguiça para aprender a utilizar essas ferramentas antes modernas, atualmente comuns, futuramente jogadas no sótão empoeirado do esquecimento. Admito que me sinto incapacitado, e de certo modo receoso, em acompanhar as evoluções vertiginosas pelas quais passam os aparelhos tecnológicos. Eu só aciono os comandos básicos do meu celular: tipo, ligar para minha mãe. Eu desativei há bastante tempo o meu Messenger. Eu só olho o meu e-mail de vez em quando. Eu só tive coragem de participar do Orkut, hoje datado, porque estava à procura de uma garota: eu não tenho mais Orkut e não consegui pegar a garota. Até uns tempos atrás eu ainda comprava Cd. Até uns tempos atrás eu ainda não havia baixado filmes pela internet. Até uns tempos atrás eu ainda não havia assistido nada pelo computador sem que me causasse uma comichão desconfortável de impaciência. Até hoje me nego a baixar livros.

A solitária interação que tenho com pessoas que não conheço é por meio deste blog. Há menos de um mês que retornei à escrita. Eu fiquei praticamente dois anos sem escrever absolutamente nada em lugar algum. Eu parei porque estava ficando... sem vontade. Eu parei porque estava ficando... de saco cheio de tudo e, especialmente, de mim. Eu parei porque tomei conhecimento da extrema irrelevância à qual as minhas idéias estão destinadas. Eu aceito numa boa, não tenho pique e nem falta de vergonha na cara para autopromoção. Portanto, fiquei quase dois anos lendo livros, assistindo séries, correndo (é, bem rápido), parando paulatinamente de dirigir carros (hoje quase totalmente, eu faço até compras suado, que nojo, né, nem tudo na vida cheira a vinho envelhecido e Angelina Jolie) e trabalhando. Lendo livros... eu não consigo ler mais nada além de livros. As revistas que lia não significam mais nada. O jornal que meu pai assina é... o jornal que o meu pai assina. As leituras cibernéticas são escritas, em sua maioria, por iludidos hipócritas e comentadas, em sua extrema maioria, por universitários com analfabetismo funcional. Contra todos os prognósticos tento bravamente sentir-me minimamente ao máximo desinformado. Entretanto, nos últimos meses, me senti tentado a voltar. Dar um rumo mais criativo à minha vida além da existência condensada ao ato de inspirar pelo nariz e espirrar pela bunda. Quando criei este blog, eu tinha pretensões. Nada grandioso e purpurinado, mas achava, de algum jeito obscuro, que podia fazer a diferença. O obstáculo que impediu voos mais altos foi a cisma que tenho de não me levar a sério, embora saiba que o que impede essa cisma de ser maior é o meu ainda maior anonimato. Ninguém me conhece e eu não conheço ninguém que tenha o “real” poder de transformar ninguém em alguém. Além de todos esses percalços, há outro definitivamente intransponível: eu não gosto de fazer o que eu não gosto de fazer, e, detalhe, eu não faço. E a coisa que mais gosto de fazer é não fazer coisa alguma que julgo desnecessária: eu já nasci aposentado da vontade do voyeur do cotidiano – a de gozar com o pau dos outros. Não me importa a grana que oferecerem e nem o rabo que abrirem: morrerei pobre e eunuco. Essa constatação pode me deixar louco, mas me sentiria morto se não agisse de acordo com as coisas que acredito. Chame de princípios, eu chamo de assinatura. Portanto, quando voltei a escrever regularmente e passei a refletir seriamente se devia ou não voltar a postar as minhas “discutíveis” diatribes, o esperado e temido momento das questões quiçá insolúveis se abateu sobre mim, e se essas questões o espancarem com violência, então, caro idiota, a carapuça serviu diretinho, e, antes que me pergunte, caso a carapuça não tenha evoluído para uma metástase, a cura é possível: Vale a pena escrever a analfabetos funcionais que se acham filósofos? Vale a pena escrever a analfabetos funcionais que recém descobriram Freud e que usam a pretensa verdade freudiana como a própria verdade? Vale a pena escrever a analfabetos funcionais que citam Susan Sontag em uma churrascada em meio a uma discussão inebriada, apaixonada e apaixonante sobre futebol? Vale a pena escrever a analfabetos funcionais que só leram um livro na vida: O Manual de Redação do Estadão? Vale a pena escrever para o analfabeto funcional afiliado à UNE que aspirou todo o dinheiro do diretório acadêmico do qual era presidente para investir em pó? Vale a pena escrever a analfabetos funcionais entusiastas do regime cubano que assinam Marie Claire? Vale a pena escrever a analfabetos funcionais entusiastas do artista que é entusiasta do regime cubano que usa esse sincero entusiasmo para morar em um triplex no Leblon? Enfim, vale a pena escrever a alguém que julga reacionário tudo aquilo que é contrário ao seu ponto de vista?

A intelectualidade brasileira diz: “Nós somos contra tudo que não defendemos!”.
Porém, o que eles defendem? O que a imprensa brasileira defende? O que os analistas políticos, econômicos, culturais, comportamentais defendem? O que a Folha de S. Paulo defende colocando um anúncio de meia página na capa do caderno Ilustrada da nova loja da Daslu? O que a MTV Brasil defende empregando uma besta chamada Bento Ribeiro? O que defende Xico Sá ao ser parte integrante do programa Saia Justa, o qual sempre fez questão de tripudiar? O que defende Mano Brown como VIP de shows de rap que custam uma fortuna? O que defende o lesadíssimo senador Eduardo Suplicy ao ser amigo de um terrorista estrangeiro filho duma puta? O que o João Gordo defende trabalhando para a instituição evangélica que sempre repudiou? Dinheiro? Então vale mentir em troca de dinheiro? Então os políticos não fazem nada de mais? Então não pega nada cuspir no prato que ainda irá comer? Quanto você custa? Posso barganhar? O que você defende? Posso querer a sua bunda? Posso defumar os seus mamilos? No que você acredita? O que Marcelo Rubens Paiva defende no texto A moda do reaça?

Eu li Feliz Ano Velho, Blecaute, Bala na Agulha e Malu de Bicicleta. Li em uma época na qual ainda estava descobrindo as minhas predileções literárias. Considerei, durante certo período, Marcelo Rubens Paiva como um dos únicos expoentes da literatura pop no Brasil. Depois eu fui crescendo, as minhas teias cognitivas foram se expandindo, e o que antes era interessante tornou-se boa recordação. Fazia tempo que não lia nada escrito por ele. Até que me instigaram a seguir determinado caminho que me obriguei a não percorrer durante algum tempo e deparei com o texto – estilo hard seicho-cho-ie - A moda do reaça. Ao terminar de ler, me senti triste por reconhecer a chegada da senilidade em um autor que admirava quando jovem (procure na internet, não vale a pena!). Eu sempre fui e serei um defensor contumaz da liberdade de expressão, mesmo que a expressão seja repulsiva. Mesmo que a expressão engendre-se das reflexões de “palhação da classe” de Rafinha Bastos e Danilo Gentili. Mesmo que a expressão seja publicada por meio dos dedos e do cérebro de rato cancerígeno de Lobão. Mesmo que a expressão nasça da sofreguidão adiposa envolta em uma atmosfera “ambiance” de Ed Motta. Mesmo que a expressão seja adocicada pela falta de conteúdo e pela saturação visual de Mari Moon. Mesmo que a expressão advenha das falácias redigidas pelos terceiros de Ricardo Teixeira. Mesmo que a expressão saia do inimigo n. 1 da esquerda playboy brasileira: Diogo Mainardi. Diogo Mainardi é tão culpado quanto Renato Russo é gênio. Diogo Mainardi é tão culpado quanto Dinho Ouro Preto é punk. Diogo Mainardi é tão culpado quanto Zé Love é bonito. Lógico que Marcelo Rubens Paiva não deixou de refestelar-se no lugar comum e eleger Diogo Mainardi o culpado por toda a ignorância brasileira – para delírio dos habitués freqüentadores da coluna da Mônica Bergamo e das festas “altruístas” da revista Trip. O mais avassalador problema da velhice é alimentar o inimigo com o seu alimento predileto sem se dar conta disso. A única coisa que sei sobre Diogo Mainardi é que ele adora quando quem não o adora faz questão de atestar o desagrado no veículo para o qual trabalha. A propósito, eu nunca li Diogo Mainardi, o que sei sobre ele é o que as pessoas escrevem sobre ele. Com A moda do reaça. Marcelo Rubens Paiva rebaixou-se a Ophra Winfrey no célebre caso James Frey. No íntimo, ele e os outros Hard Seicho-No-Ie são outros no íntimo: eles nunca acharam uma mulher feia, nunca acharam um homem feio, nunca torceram o nariz para o gosto de alguém, nunca atravessaram um sinal vermelho, nunca xingaram um pedestre, nunca dirigiram bêbados, nunca contaram uma piada de português, nunca atravessaram a calçada por medo, nunca deram duas voltas no trinco da porta de entrada do apartamento, nunca instalaram na porta de entrada do apartamento um trinco para chave-tetra, nunca julgaram quem não conheciam, nunca escolheram como amigos péssimos amigos, nunca espantaram um cão, nunca fecharam o vidro do carro a um pedinte, nunca se surpreenderam negativamente com algo que disseram em público, nunca vibraram em silêncio por terem peidado silenciosamente em público, nunca tiveram medo da morte, nunca tiveram vontade de matar, nunca quebraram uma vidraça, nunca reconheceram-se como reles medíocres, nunca tomaram uma decisão olhando somente para o próprio umbigo lustroso. (O que de fato eles nunca fizeram e, pelo andar da capenga carruagem, nunca farão, é descer do “aprazível” muro!)


Acredito que discutir política culmina em atmosferas tão catastróficas quanto assistir a uma performance de Le Parkour feminino. Discutir política nada mais é do que isso: a pessoa A defende uma coisa, ou acha que defende uma coisa, a pessoa B defende outra coisa, ou acha que defende outra coisa, a pessoa A tentará provar à pessoa B que a coisa que ela defende é a correta, a pessoa B tentará provar à pessoa A que o seu ponto de vista é o correto, por fim, a pessoa A não conseguirá provar à pessoa B o seu ponto de vista, a pessoa B não conseguirá provar à pessoa A a sua coisa. Moral da história: ou a pessoa A ficará de cara amarrada à pessoa B, ou a pessoa B ficará de cara amarrada à pessoa A, ou a pessoa A e a pessoa B darão um basta à política e começarão a falar sobre a vagabunda da Suelen que ficou com o casinho da tia descolada da Pri.

Quem lê este blog, saiba que defendo, como disse antes, a liberdade de expressão irrestrita. Eu defendo o casamento gay, com véu, grinalda, buquê, musica disco, música da Broadway, daminhas de honra de três anos de idade equilibrando as alianças na ponta do nariz. Eu defendo a legalização da maconha, embora acredite que, mesmo com a legalização, o tráfico não irá acabar. Eu só não defendo a legalização de todas as drogas porque entendo que o Brasil não está culturalmente pronto para administrar tal revolução. Eu defendo o direito ao aborto. Eu defendo o direito à eutanásia. Eu considero o anarquismo o melhor “sistema” para reger a sociedade, embora o reconheça como utópico portanto impossível de ser implantado onde haja humanos envolvidos. Eu defendo as pesquisas e os transplantes de células-tronco – e tenho tudo contra quem é contra essa dádiva científica. Eu defendo a pirataria em detrimento dos impostos abusivos. Eu defendo o livre acesso às criações artísticas por meio de downloads. Eu defendo A Lei Rouanet somente a artistas desconhecidos ou pouco conhecidos. Eu defendo as cotas sociais ao invés das cotas raciais. Eu defendo quem não defende a Copa do Mundo no Brasil. Eu defendo quem não defende as Olimpíadas no Brasil. Eu defendo quem prefere as bicicletas aos carros. Eu defendo quem prefere as próprias pernas aos veículos motorizados. Eu defendo quem utiliza regularmente os transportes públicos embora saiba que os nossos transportes públicos estão mais para as regiões púbicas de um náufrago de 98 anos de idade. Agora, a polêmica: eu defendo a pena de morte a estupradores, latrocidas, terroristas, ditadores genocidas, assassinos passionais, psicopatas, assassinos de aluguel e a locatários do assassino de aluguel. “Nossa, bicho, que fascista!” Se você acha essa atitude fascista, hard seicho-no-ie, você não sabe o que é fascismo. Para entender o porquê, eu parti da seguinte premissa: minha mãe está caminhando por uma rua erma em direção à sua casa após fazer as compras. Ela é abordada por um homem que logo anuncia “perdeu, vagabunda, isso é um assalto!”. Mesmo depois de a minha mãe entregar tudo a ele – dinheiro, jóias, celular, relógio, botas etc -, o homem espanca a minha mãe, estupra a minha mãe e a mata estrangulada com o sutiã que foi arrancado selvagemmente do corpo dela. O que você faria se tivesse a chance de encontrar esse filho da puta a sós? Eu o mataria. Não capitularia nem por um segundo, eu o mataria todos os dias, todas as horas, todos os segundos. Eu gostaria de ver morto o homem que estuprou a minha filha até a morte. Eu gostaria de ver morto quem mandou matar meu pai por denunciar um esquema de fraude governamental. Eu gostaria de ver morto quem mandou explodir o prédio onde mora parte da minha família. Eu gostaria de ver morta a babá que envenenou deliberadamente o meu neto de cinco meses de vida. Eu gostaria de ver morto o ex-namorado da minha filha que a assassinou porque ela não queria mais vê-lo. Tenho certeza que esse sentimento brota, mesmo contra a vontade, nas pessoas que tiveram partes cruciais das suas vidas extirpadas dessa forma.
Não, eu não tenho que entender por que uma pessoa que supostamente sofre de “problemas” teve que roubar, estuprar e matar uma mulher de 60 anos. Não, eu não tenho que compreender por que uma pessoa “carente” teve que matar a ex-namorada porque ela não queria mais ficar com ele. Não, eu não tenho que me conformar com a atitude da mulher que envenenou uma criança de cinco meses de vida. Não, eu não tenho que aceitar que a voz divina levou uma pessoa a explodir um hospital infantil.

Pelo menos eu não sou tão retardadamente contraditório quanto o jornalista inglês Christopher Hichens, que se diz contra a pena de morte em qualquer circunstância, mas depõe a favor à Guerra do Iraque. Ambas são penas de morte. A única diferença é que a guerra mata, sobretudo, inocentes.

Aliás, esqueci de outro tipo de pena de morte, a pena de morte do hard seicho-no-ie, a qual censura quem tem coragem de falar o que pensa!

VAMOS NOS ENGANAR QUE OS HUMANOS SÃO NATURALMENTE IMPARCIAIS, E ACEITAR QUE A PARCIALIDADE É UM CRIME PERMITIDO SOMENTE A POUCOS AFORTUNADOS!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

2º. Round: Feministas Radicais e por quê, em casos excepcionais, bater em mulher pode ser benéfico à sociedade

















Elas estão sempre de canto, a cara amarrada, pálidas, unhas sujas e carcomidas, palitinho na boca, braços cruzados e macios como os do Alf, O Eteimoso, um dos joelhos dobrados e a sola do pé encostada na parede, regata-machão branca, um rolo de silver tape fazendo a vez de sutiã, cabelos curtos e mal aparados camuflados por bonés desbotados de caminhoneiro, coturno comprado na Galeria do Rock, corrente prateada de bolinha e o indefectível bucinho bem canalha (a propósito, muito parecido com o que eu esqueço que uso de vez em quando). Elas são mulheres, ou quase isso, e pegam mais mulheres que qualquer garanhão metido a Chiquinho Scarpa (até eu sou capaz de pegar mais mulheres que qualquer garanhão metido a Chiquinho Scarpa). Retificando, elas são mulheres, “nós somos mulheres, caralho!”, e pegam mais mulheres que qualquer garanhão metido a Ricardinho Mansur. Elas podem parecer o Jared Leto. Elas podem parecer o Zac Efron. Elas podem parecer o Leonardo Di Caprio. Elas também podem parecer o Teddy Boy Marino. No telefone, elas podem ter a voz do seu irmão mais novo. Ou podem ter a sua voz quando era mais novo. Elas podem ter a voz da Marília Gabriela. Ou podem ter a voz do Cid Moreira. Mesmo que seja difícil, elas podem se tornar suas amigas (garanto que você não vai querer nada além disso). Vocês podem jogar sinuca. Vocês podem se embebedar. Elas não pedirão o seu desodorante emprestado. Vocês podem paquerar mulheres juntos. Elas podem lhe dar dicas para encontrar o ponto G. Elas podem peidar na sua cara, vomitar no chão da sua sala, arrotar na cara da sua avó, interditar o seu banheiro e levar a sua namorada para a cama. Você não irá encontrá-las na próxima edição do Carnafacul. Você não irá encontrá-las no show da Simone. Você não irá encontrá-las no show da Angela Ro Ro . Você não irá encontrá-las no show da Ana Carolina. Você não iria encontrá-las nos shows da Cássia Eller. Você poderá encontrá-las nos shows do Krisiun. Você poderá também encontrá-las numa churrascada na sede oficial dos Abutres Moto Clube. Vocês podem até, quem sabe, encontrá-las estrelando um ensaio fotográfico antissensual no Facebook. Mas com toda a certeza você irá encontrá-las nos shows do Dominatrix.

Elas odeiam os que se intitulam machistas, embora sejam mais trogloditas que o machista que é capaz de decepar a língua do engraçadinho que ousar perguntar se ele é heterossexual. Elas são feministas radicais, caralho!. Elas não estão nem aí para os seus músculos, porra! Elas não estão nem aí para a sua falta de músculos, cacete! Elas não estão nem aí caso você saiba trocar uma lâmpada, merda! Elas não querem nem saber que você consegue carregar o botijão de gás cheio só com uma mão, cu! Elas não querem nem saber que você precisa de auxílio para carregar um botijão de gás vazio, frouxo! Elas não estão nem aí para o fato da sua barba ser áspera, cara de melão! Elas não estão nem aí para o fato de você ter pelos nas costas, cara de feijão! Elas pouco se importam que você corre na praia sem camisa, chato! Elas não querem nem saber que é natural para você comer a namorada por trás, loser! Elas têm tudo isso e elas conseguem, com os instrumentos certos, fazer tudo isso.

Aaaaahhhh, minhas queridas mulheres brasileiras, suecas, africanas, guatemaltecas, portuguesas, espanholas, italianas, argentinas, francesas, cubanas, gregas, russas, afegãs, norte-americanas, inglesas, australianas, esquimós, para elas, vocês não são mulheres porra nenhuma! Elas estão cagando mole para o requebrar dos seus quadris. Elas estão mijando em pé e bem amarelo para as plásticas dos seus narizes. Elas fecham os olhos e trançam os pelos do sovaco para os silicones dos seus seios. Elas estão coçando as micoses e acariciando as cicatrizes nos pulsos provocadas pelas brasas de Derby vermelho para as suas sardas abaixo da região do pescoço conquistadas graças aos bronzeamentos religiosos desde os cinco anos de idade no litoral norte. Elas catam piolho e comem a seborréia para as luzes dos seus cabelos. Elas coçam a xana e estrangulam um gambá rechonchudo para as suas depilações a laser. Elas comem as unhas e cospem terra molhada de urina de cavalo para as suas unhas Vermelho Ivete.

É estarrecedor, minhas queridíssimas mulheres, eu sei bem. Eu me faço as mesmas perguntas que vocês estão fazendo a si mesmas neste momento crucial. Qual é o problema em possuir as medidas e o sex appeal da Scarlett Johansson e curtir mulheres? Qual é o problema de uma mulher deliciosa levar a namorada deliciosa ao show da Roberta Sá? Qual é o problema de uma mulher lésbica e independente dançar como a Beyoncé, vestir-se como a Miley Cyrus e ler um romance do Nicholas Sparks? Porque, sinceramente, me incomoda ouvir uma mulher bradar que todos os homens são misóginos, que todas as mulheres que valorizam os seus atributos físicos são vazias, e que para ser uma mulher de verdade ela tem que ser uma sósia do Vin Diesel.
A próxima vez que encontrar uma Feminista Radical terei que dar uma bica, de Kichute, no meio das suas pernas. De baixo pra cima. Com o peito do pé. A intenção não é feri-la fisicamente, mas ideologicamente.

“Sofia? Sofia? Arnaldo!?” “Fala, porra, o que que tu qué, caralho!?” “POW! Mina, para de fingir que tá doendo, tu não tem saco e tem, como escudo de proteção, a juba do Nelson Triunfo entre as pernas!”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tudo É Albino Menos Rebeca recomenda

Blue Valentine

















Se você é homem, gosta de uma breja, é romântico, talentoso porém desprovido de ambição, e sofre, de modo intermitente, com a mente ambígua das mulheres, este filme é sobre você. E detalhe: você está fodido, talvez para sempre, muito cuidado com quem você irá escolher como par romântico, a sua vida não é um filme de 100 minutos, é um martírio crescente que pode durar cem anos, isso se você for um filho da puta azarado.
Blue Valentine é o tipo de filme que gosto: triste. Adoro filmes tristes cujos finais acabam da pior maneira possível. Excesso de sangue, overdose, suicídio passional, doenças terminais e acidentes brutais: amo muito tudo isso. Entendo que posso passar a impressão de ser uma pessoa mórbida, mas não me gusta, por exemplo, Jogos Mortais, nem Faces da Morte. Sangue gratuito só vale a pena em filmes de zumbis. Só para constar, eu dei um vestido colorido, uma bolsa de couro marrom e uma cesta de café de manhã à minha namorada pelo seu aniversário. E namoro uma menina que é fã de Lily Allen – para você ver que das mentes supostamente mais diabólicas vêm as atitudes mais tolerantes. E para reforçar ainda mais o senso democrático com o qual são revestidos os meus relacionamentos mundanos, publicarei agora o pequeno lembrete que minha namorada fez questão de deixar sobre a minha escrivaninha quando soube que eu ia indicar este filme a você: “Meu, eu dormi nesta porra, não perca tempo com esta merda”, o que faz parecer, pelos impropérios deste lembrete, que não namoro uma menina, mas um membro dos Hells Angels. O que também faz parecer, se analisarmos sob o ponto de vista do meu notório egocentrismo, que ela não está se referindo ao filme, mas a mim. (Ela dorme pra caralho!) O interessante é que não foi só ela que odiou o filme, todas as pessoas para as quais indiquei o filme fizeram questão de vê-lo nem até a metade, provocando uma sensível queda no meu ibope de diletante refinado. Entretanto, vamos ser razoáveis com este que no momento escreve estas palavras trajado com uma calcinha box da Sexy Machine e uma bota preta de cano alto da Timberland, a minha mina curtiu Crepúsculo, e não só Crepúsculo, mas também Vampire Diaries, e não só Vampire Diaries, ela leu todos os livros do Crepúsculo. Ou seja, ela não manja porra nenhuma. Dê uma chance a mim, assista ao filme, pouco me importa se sozinho ou acompanhado, mas não transe enquanto o filme tá rolando, muito menos com homens, é gay e trata-se de um desrespeito para com os atores e realizadores do filme, uma vez eu transei com a minha ex-namorada enquanto o filme tava rolando, foi catastrófico, ela interrompeu o coito para fazer algo melhor: ver o filme. Blue Valentine será lançado na próxima sexta-feira, dia 10 de junho, nos cinemas daqui, intitulado borra cuecamente de Namorados para Sempre. No entanto, caso a sua situação financeira não seja compatível ao preço pouco generoso das salas de projeção, surrupie-o da internet, eu fiz mais ou menos isso, comprei o filme no camelô e, por enquanto, foi o melhor filme que vi este ano.

Três Vidas

















Em um dia desses que se destaca por algum lapso de imprevisibilidade que vem de dentro, percebi que nunca me interessei por nada oriundo de Portugal. Eu nunca vi um filme português. Eu desconheço qualquer artista plástico de Portugal. Eu nunca fui perseverante o bastante para assistir integralmente a um jogo do campeonato português de futebol. Eu nunca li nenhuma literatura de Portugal. Nem sequer li Saramago. Eu nunca peguei uma mina da terrinha. Eu pensava nos peitos de alguma menina com peitos dignos de reflexão quando o professor de português do cursinho declamava ardorosamente os versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Eu tinha que reparar esse equívoco. Afinal, sou também fruto de uma linhagem lusitana. Portanto, quando deparei com o livro Três Vidas, do escritor português João Tordo, não hesitei: apertei o passo e comprei uma coisa norte-americana. No entanto, quando uma pilha do mesmo livro caiu desastrosamente no meu pé, não tive dúvidas: este filho da puta quer me mostrar que existe mais que bacalhau em Portugal. Então eu gastei quase cinqüenta paus no calhamaçinho de 606 páginas. E, bem longe das minhas expectativas, eu não só gostei do livro como foi o melhor romance que li este ano. A história é contada por um narrador anônimo muitos anos depois dos fatos relatados terem ocorrido. Ela começa no final da década de 70 e termina nos primeiros anos do século XXI. Passa por Alentejo, Lisboa e vai à degradada Nova Iorque nos anos 80. O livro tem de tudo: amor, intrigas, perseguição e morte. E você precisa ser totalmente filho da puta para não ler este clássico contemporâneo. Não é exagero, corra atrás.


Treme

















O que diabos aconteceria se um furacão resolvesse dar uma passada pelo Guarujá? Na minha opinião, só sobraria água. Todas as pessoas que permanecessem iriam morrer. Os mais espertos fugiriam antes. Para ser sincero, os mais espertos já fugiram há muito tempo. Só resta quem é fraco o bastante para viver em São Paulo. Eu sou um deles, não me eximo. Mas será que não ia sobrar alguém? Provavelmente, Nego Alan. Como sempre, ele estaria em todos os lugares. Salvando pessoas presas nos escombros, preso nos escombros, solto no alto-mar, voando alto dentro de um helicóptero, morto em cada esquina, vivo em cada esquina, orando no próprio enterro etc. Mais alguém? Morrisey Caiçara. Bêbado em todos os bares, inconveniente em todos os bares, insuportável em todos os bares, cantando o que ninguém pediu para cantar em todos os bares, um personagem desfavorecido cujo castigo é transformar-se em mais uma das infames lendas de uma ilha com uma gravíssima fratura exposta. E a cultura, será que ela sobreviveria? Qual cultura? Há algum tipo de cultura nesta merda? O surfe de marolas? Latrocínio no happy hour? Vai, me dê outra cultura? A pesca no cantão dos Astúrias? A bocha no cantão dos Astúrias? As bicicletas por todos os cantos inclusive nos cantos em que não é permitido o tráfego de bicicletas? Já sei, as pessoas andando no meio da rua. Famílias inteiras andando bem no meio da rua. Crianças peladas andando no meio da rua. A crentaiada se arrastando no meio da rua. Mulheres grávidas com carrinho de bebê no meio da rua. Pessoas boiando no meio da rua como sacos de lixo.
Mas, para saber o que aconteceu após o Furacão Katrina devastar Nova Orleans, basta assistir à melhor série da atualidade: Treme. Criada por David Simons, que tem no currículo nada mais nada menos que The Wire, a série policial mais foda da história, e por Eric Overmyer, Treme mostra o dia-a-dia de intensos personagens e os seus hercúleos sacrifícios para manter a cultura de Nova Orleans viva. Um professor universitário e escritor que começa a postar vídeos no YouTube esculhambando a postura blasé do governo Bush para com a situação da cidade; uma talentosa chef de cozinha que não consegue arcar com as despesas do próprio restaurante; um DJ irreverente e músico insignificante que faz de tudo para ser levado a sério; um trombonista que é constantemente sobrepujado pelos seus vícios; um casal de músicos de rua, ele, violonista e pianista, ela, violinista, que vivem em conflito por conta da inveja do namorado cujos talentos musicais são inferiores aos da namorada; uma dona de bar que sofre com o paradeiro do irmão mais novo após a tragédia; um tradicionalista de jazz e chefe de uma gangue de índios carnavalescos que, contra todos os prognósticos, principalmente os dos próprios filhos, insiste em manter a tradição da gangue e lutar pelos direitos de seus pares; e uma advogada incansável que denuncia os podres da obsoleta, lerda e injusta justiça de Nova Orleans. Quase todos os personagens se conhecem, os que nunca se viram, mais cedo ou mais tarde se darão conta da presença do outro, das tristezas e anseios do outro, em uma colcha de retalhos cujo dinamismo é similar às belas histórias da escritora sulista Carson Mccullers. A grosso modo, Nova Orleans é muito parecida com o Brasil. Repleta de autoridades corruptas, de tráfico de drogas, de deterioração nos serviços públicos, de bares, lixo e música. O que destoa, essencialmente, é a paixão insaciável com que o povo trata a sua cultura: por meio do swing do jazz tocado nas ruas e nos bares enfumaçados, por meio de festas nos quintais das casas onde todo mundo é bem-vindo, por meio dos funerais tristes e ao mesmo tempo festivos e, acima de tudo, por meio do Mardi Grass, o mais afamado carnaval norte-americano que, até agora, não foi descaracterizado pela perseverante sede amarga do capitalismo. Assista agora!