segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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Reclamaram que fantasio as histórias. Viajo muito. O elenco existe, mas não está satisfeito. Não se sentem retratados com fidelidade. Muito exagero. Muitas coisas ditas que jamais foram ditas. Se eu não fosse o patrão da minha própria empreitada, definitivamente já teria sido excomungado do meu próprio cérebro. Quem sou eu que não estava ali? Que mundo é este que vivo mas que nunca vi? O muito que se faz para muitos é pouco para muitos.

Os meus parágrafos são longos, quando não são únicos. As vistas doem. As vistas não doem quando algo se move. Quando dois corpos se movem. Quando duas mulheres nuas se movem ao ritmo do oceano. Ler não é agradável quando se lê o desagradável? Ler não é agradável quando se lê?

Oito decisões em oito doses: este... William Faulkner disse “que até mesmo o pior tipo de ficção é muito mais real que qualquer tipo de jornalismo”. O que faço?

Oito decisões em oito doses: este texto será dividido em oito partes. A outra decisão das oito em oito doses é que será completamente verdadeiro.

Cada momento. Cada esperança. Cada promessa. Cada nome. Cada cheiro. Cada dado anatômico. Cada tom de pele. Cada tom de voz. Cada sorriso. Cada ponto de vista. Cada espaço físico. Cada defeito. Cada proposta. Cada temperatura. Cada alucinógeno. Cada toque. Cada beijo. Cada distância. Cada ritmo. Cada conexão. Cada ritual. Cada desilusão. Cada lágrima. Cada começo. O fim.

Esta não é uma introdução. Muito menos a história propriamente dita. O título da história é Pesadelo em Limeira – O Dia em que a esperança morreu logo na chegada.

Mas o título não vem agora. Não sou perfeccionista, mas mudarei o jeito de serei. E também a concordância das leis. Vamos apagar este título:

Pesadelo em Limeira – O Dia em que a es

Pesadelo em Limeira – O Di

Pesadelo em Limei
Pesadelo e
Pesade
Pés
P

Introdução

Vou começar contando uma mentira. Alguém conhece o Ivan? Muitos conhecem o Ivan, mas ninguém nunca o viu. Me refiro a ninguém a todos que conheço. Eu passei por mentiroso na faculdade por contar as mentiras dele. Quem contou as mentiras dele não passou por mentiroso ao contá-las para gente. Ele transformou Ivan em lenda. Ele transformou-se em um comediante de stand-up antes da moda. Quem transformou-se em um comediante de stand-up antes da moda? Também não sei. Talvez Ivan não exista. O que sei é que nada que Ivan disse que existe existe.

Primeira: Ivan estava andando na praia dos Astúrias. De manhã, à tarde, à noite ou de madrugada? Sinceramente, não sei. Sinceramente, ninguém sabe. Então ele continuou andando pela praia dos Astúrias quando, de repente, seus pés sentiram algo duro sob a areia. Curioso que só, curioso que só Ivan, ele resolveu cavar. Cavou... Cavou... Cavou... Cavou... Cavou até os seus olhos férteis depararem com um material parecido com metal. Há a versão que era aço. Há a versão que era titânio. Há a versão que era latão. Porém, a versão mais propalada é que era... um material jamais visto no Planeta Terra. Ou seja, a parada não era nossa. Cavou Cavou Cavou... Cavou Cavou Cavou... até que encontrou... até que encontrou.... uma NAVE ESPACIAL. Ou disco voador, se preferir. O símbolo apocalíptico da ficção científica em plena praia dos Astúrias. Não satisfeito por encontrar algo que mudaria todos os rumos da história da humanidade, ele resolveu... dar um rolê na nave. E deu. Um objeto não-identificado no céu pilotado por um sujeito nunca identificado por ninguém. E disse que foi fácil. Tranqüilo. A... 9.000 Km por hora. No entanto, como todo gênio que se preze, Ivan era egoísta, não queria dividir nada com ninguém, então ele enterrou a nave no mesmo lugar em que estava enterrada. Como ele fez isso? Bem, ele é o Ivan.

Segunda: era inverno no Guarujá. Como todo mundo sabe, ou não, inverno no Guarujá significa menos calor, não frio. Ivan estava deitado na sua cama. Uma típica manhã fria sem frio do inverno guarujaense. Sem muita coisa a fazer, e sem querer fazer coisa alguma, Ivan olhou languidamente em direção à janela. Uma simples olhada na janela de Ivan não é uma simples olhada na janela de Ivan. Ele encontrou um gato. Bem... e daí? Ele encontrou um gato parado em frente à janela. Tá... e? Ele encontrou um gato parado em frente à janela que estava parado em frente à janela porque estava literalmente congelado pelo frio que não faz frio do Guarujá. Nãaaaaao? Ele encontrou um gato parado em frente à janela que estava parado em frente à janela porque estava literalmente congelado pelo frio que não faz frio do Guarujá com a perna direita erguida para trás, a perna esquerda como pé de apoio, o braço direito esticado para trás, e o braço direito levantado como se estivesse apontando para a lua cheia. Ele encontrou um gato congelado em uma posição de ballet. Ele encontrou um gato bailarino congelado em uma cidade litorânea de um país tropical fazendo um arabesque. (Eu manjo dessas paradas de ballet.)

Terceira: Ivan estava decorando o quarto. Praticamente tudo já estava organizado. Todos os objetos em seus devidos lugares. Mas havia um espaço na parede que deixou Ivan intrigado. Ele tinha que preencher aquele espaço. Para nenhuma surpresa de ninguém, ele fez algo surpreendente. Pegou a metralhadora do pai e, naquele exíguo espaço em branco, com extrema habilidade, escreveu a tiros: IVAN.

Quarta: A irmã de Ivan, da qual não sabemos o nome e que também ninguém nunca viu, estava presa na sala de aula. Ela gritou pedindo socorro. Quem poderia salvá-la? Lógico, Ivan. Dizem as más línguas anônimas que Ivan era muito forte. Ao chutar a porta para arrombá-la, Ivan não conseguiu derrubá-la. Em compensação, com o mesmo chute, ele derrubou todas as paredes, o teto e assim resgatou a irmã do pesadelo gerado pela claustrofobia. A porta ficou em pé. Dizem as mesmas más línguas anônimas que, se Ivan tivesse dado outro chute, ele teria derrubado a escola e resgatado, mesmo assim, todo mundo. A porta continuaria em pé.

Quinta: Ivan foi fazer uma trilha em algum lugar da mata atlântica. Sozinho ou acompanhado? Esqueci de perguntar. Ao se tratar de Ivan, supõe-se que ele estava acompanhado por uma gangue de fadas lésbicas. O dia esvaia-se agradabilíssimo. O céu estava azul, o sol era reconfortante e os pássaros estavam afinados. Mas nada no mundo de Ivan pode ser monótono. Portanto, um tigre fez questão de aparecer. E estava bravo e faminto. E foi para cima de Ivan. Pobre tigre. Ivan deu um balão no tigre e o matou estrangulado com um mata-leão.

Sexta: Ivan e o seu primo, do qual desconhecemos o nome e que também ninguém nunca viu, estavam a fim de fazer uma travessura. A travessura: Por que não atirar de espingarda na direção do morro? Travessura bem imbecil, reconheço. O primo iniciou as atividades: fez um buraco ridículo numa pedra ridícula. Chegou a vez de Ivan e, quando a vez dele chega, ela está peremptoriamente proibida de ser ridícula. O meu pai sempre diz que “a genética é foda!”. Se ele estiver certo, isso explica a atitude tomada pelo primo de Ivan após o tiro de Ivan na direção do morro. Ivan pediu, ou melhor, Ivan ordenou que o primo fosse para o outro lado do morro. Ivan atirou e a bala atravessou o morro. O primo de Ivan viu a bala saindo do outro lado do morro. Se eu investigasse, ele diria que ela até deu tchau.

Sétima: Ivan pegou escondido a Ferrari do pai. (A lenda que corre é que Ivan era favelado, mas... ) Ele estava na estrada pilotando a Ferrari a uns 575 Km por hora quando, infelizmente, perdeu o controle do carro. Perder o controle do carro a 575 Km por hora é morte na certa. Mas não esqueçamos que Ivan é indestrutível. E esperto. Ao perceber a iminência da colisão, ele fez um malabarismo incrivelmente simples: esticou o braço direito na direção do pára-brisa e colocou o braço esquerdo no painel. Portanto, quando o carro bateu em uma placa de sinalização, Ivan ficou colado. O pára-brisa explodiu, o airbag foi automaticamente acionado, a frente do carro encolheu, mas Ivan bloqueou-se da morte com uma manobra digna de um mentiroso filho da puta!
Embora grande parte desta introdução seja composta por mentiras, é tudo verdade.

(Continua na próxima segunda-feira.)

Um comentário:

Ana Paula disse...

Cada momento...
Cada esperança...
Cada promessa...
Cada nome...
Cada cheiro...
Cada dado anatômico...
Cada tom de pele...
Cada tom de voz...
Cada sorriso...
Cada ponto de vista...
Cada espaço físico...
Cada defeito...
Cada proposta...
Cada temperatura...
Cada alucinógeno...
Cada toque...
Cada beijo...
Cada distância...
Cada ritmo...
Cada conexão...
Cada ritual...
Cada desilusão...
Cada lágrima...
Cada começo...
O fim!!!
Lindo isso!Momentos são tão importantes, e as pessoas deixam passar, simplesmente esquecem,é tão bom lembrar, quando lembro de lembranças gostosas eu simplesmente sorrio, faz tão bem!esquecer por quê?