As mulheres amam o que você é para as pessoas.”
Trecho do ensaio Adultérios, divórcios, estupros e milk shake, de Arno Palumbo, publicado originalmente no braço dele
(Dedico este texto aos amigos Victor e Daniel – só vocês sabem pelo que nós passamos, ou melhor, só vocês sabem pelo que nós não passamos)
Antes dos acontecimentos lamentáveis que serão retratados daqui a pouco, eu tinha uma namorada. Eu a amava do modo mais juvenil, mais babaca, mais idealizado e mais almejado possível. A minha barriga doía só de pensar nela. Ela sempre chegava atrasada aos nossos encontros. Quanto maior a espera, maior a dor de barriga. Quanto maior a dor de barriga, maior a vontade de cagar. Imagine o semblante de um garoto de 17 anos à espera do seu primeiro amor na entrada do shopping com uma avalanche de fezes no corpo pronta para desmoronar: Oi.
Eu era burro, espinhento, macilento, fora de moda, ansioso, abstêmio e inocente. Hoje sou burro, fora de moda (compro roupas no supermercado), tranqüilo (só não sou calmo quando perco as minhas chaves: “cadê as minhas chaves? Perdi, já era, perdi, já era, fudeu”), hipocondríaco (matei!, matei!, era o mosquito da dengue, se este bostinha me picar de novo, eu morro, já peguei essa porra duas vezes, tem repelente aqui?!), alcoólatra (“eu não sou alcoólatra!”) atleta (“mesmo de ressaca e vomitando, consegui correr quinze quilômetros”), sensível (“sangue bom aquela gooorda!”), desconfiado (“deu-lhe sete? sem tirar? naquela mina? no carro dela? lá? na boca? ela gritou teu nome? ela gozou 11 vezes? filmou?”) e mais velho. Entre esses dois pólos, eu me tornei a pior versão de mim mesmo criada por mim mesmo.
O eufemismo: nós terminamos. Que significa: ela me traiu. Se eu disser com todo mundo, é um exagero, mas se disser com dois quartos da cidade, estou sendo generoso. A limitação acarretada pelo trágico fim desse relacionamento foi que ele me estancou. Eu parei voluntariamente de existir para as outras pessoas: eu parei voluntariamente de existir para as outras mulheres.
Outro eufemismo: celibatário. Que significa: pesadão. Eu não pegava ninguém. Ou eu parei de pegá-las, ou elas pararam de me pegar. O que tenho certeza é que tudo que me envolvia parou: menos a minha mão direita.
Antes dos acontecimentos lamentáveis que serão retratados daqui a pouco, eu tinha uma namorada. Eu a amava do modo mais juvenil, mais babaca, mais idealizado e mais almejado possível. A minha barriga doía só de pensar nela. Ela sempre chegava atrasada aos nossos encontros. Quanto maior a espera, maior a dor de barriga. Quanto maior a dor de barriga, maior a vontade de cagar. Imagine o semblante de um garoto de 17 anos à espera do seu primeiro amor na entrada do shopping com uma avalanche de fezes no corpo pronta para desmoronar: Oi.
Eu era burro, espinhento, macilento, fora de moda, ansioso, abstêmio e inocente. Hoje sou burro, fora de moda (compro roupas no supermercado), tranqüilo (só não sou calmo quando perco as minhas chaves: “cadê as minhas chaves? Perdi, já era, perdi, já era, fudeu”), hipocondríaco (matei!, matei!, era o mosquito da dengue, se este bostinha me picar de novo, eu morro, já peguei essa porra duas vezes, tem repelente aqui?!), alcoólatra (“eu não sou alcoólatra!”) atleta (“mesmo de ressaca e vomitando, consegui correr quinze quilômetros”), sensível (“sangue bom aquela gooorda!”), desconfiado (“deu-lhe sete? sem tirar? naquela mina? no carro dela? lá? na boca? ela gritou teu nome? ela gozou 11 vezes? filmou?”) e mais velho. Entre esses dois pólos, eu me tornei a pior versão de mim mesmo criada por mim mesmo.
O eufemismo: nós terminamos. Que significa: ela me traiu. Se eu disser com todo mundo, é um exagero, mas se disser com dois quartos da cidade, estou sendo generoso. A limitação acarretada pelo trágico fim desse relacionamento foi que ele me estancou. Eu parei voluntariamente de existir para as outras pessoas: eu parei voluntariamente de existir para as outras mulheres.
Outro eufemismo: celibatário. Que significa: pesadão. Eu não pegava ninguém. Ou eu parei de pegá-las, ou elas pararam de me pegar. O que tenho certeza é que tudo que me envolvia parou: menos a minha mão direita.
Os meus amigos devem estar sentindo vergonha alheia por este relato. Eles não devem estar encarando este relato como um ato de coragem, mas como burrice. Eu sou burro. Mas o que eles não esqueceram é que não esqueci que eles estavam ao meu lado. Eles não esqueceram que não esqueci que eles estavam ao meu lado fazendo a mesma coisa que eu: acúmulo de porra.
Se pudéssemos fazer parte de um time, nós seriamos o Íbis: sempre goleado. Como o Íbis, antes de entrar em campo, nós já sabíamos que seríamos barbaramente trucidados. Como o Íbis, nós encontramos um modo bizarro para conseguirmos nos divertir no centro desta perspectiva árida. Todos os homens que conhecíamos, mas que não faziam parte do nosso círculo, iam para a balada para pegar mulheres. Como sabíamos com antecedência que não arrumaríamos nada, paramos de esquentar a cabeça com essa carência. Para que não morrêssemos afundados no arquipélago de merda projetado por nós mesmos, adicionamos doses cavalares de álcool, nudez em público, patéticas brigas, duelos de dança, divulgação de nossas belíssimas aquarelas de vômito e, sobretudo, a subestimada verdade. Admitíamos tudo para quem perguntasse.
“E aí, cara, pegou alguém?”, “Não!” “Bebeu muito, né?”, “Até bebi, mas não foi por causa disso”, “Por quê, então?”, “A minha cota de decepção já se esgotou”.
“Foi você que saiu correndo pelado atrás do busão?”, “Foi”, “O que você tem na cabeça, cara?”, “Não sei, o que você tem na cabeça?”, “O que não tem na sua cabeça”, “Então você é desonesto consigo mesmo e com as outras pessoas!”
“E aí, cara, pegou alguém?”, “Não!” “Bebeu muito, né?”, “Até bebi, mas não foi por causa disso”, “Por quê, então?”, “A minha cota de decepção já se esgotou”.
“Foi você que saiu correndo pelado atrás do busão?”, “Foi”, “O que você tem na cabeça, cara?”, “Não sei, o que você tem na cabeça?”, “O que não tem na sua cabeça”, “Então você é desonesto consigo mesmo e com as outras pessoas!”
Por pior que fôssemos, nós éramos sinceros. E, entre os piores, nós éramos os melhores. E entre os melhores? Hoje, nós somos os melhores.
Desde a época de Santo Agostinho que as mulheres reclamam que a maioria dos homens não presta. A velha novidade, contudo, é que elas sempre preferiram os caras que não prestam. O que faz delas cúmplices. E, o pior de tudo, hipócritas.
Conheci meninas que ficavam com dois caras na mesma época e, quando souberam que um deles havia ficado com outra menina, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci meninas que namoravam e chifravam o mesmo cara por anos e, após o fim do relacionamento, ao trombarem com seus ex-cornos na companhia de novas mulheres e totalmente refeitos de qualquer dano perpetrado por elas, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci caras que traíam as suas namoradas há vários anos e, quando souberam que elas faziam algo bem semelhante com o instrutor da academia, surtaram, espumaram baba raivosa pela boca, as amaldiçoaram e as espancaram na frente de todos os amigos, entretanto, nada mais natural, elas voltavam correndo como hamsters adestrados cujos corpos estavam assolados por algum vírus pestilento.
Desde a época de Santo Agostinho que as mulheres reclamam que a maioria dos homens não presta. A velha novidade, contudo, é que elas sempre preferiram os caras que não prestam. O que faz delas cúmplices. E, o pior de tudo, hipócritas.
Conheci meninas que ficavam com dois caras na mesma época e, quando souberam que um deles havia ficado com outra menina, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci meninas que namoravam e chifravam o mesmo cara por anos e, após o fim do relacionamento, ao trombarem com seus ex-cornos na companhia de novas mulheres e totalmente refeitos de qualquer dano perpetrado por elas, surtaram, verteram enxurradas de lágrimas e os amaldiçoaram para todas as amigas. Conheci caras que traíam as suas namoradas há vários anos e, quando souberam que elas faziam algo bem semelhante com o instrutor da academia, surtaram, espumaram baba raivosa pela boca, as amaldiçoaram e as espancaram na frente de todos os amigos, entretanto, nada mais natural, elas voltavam correndo como hamsters adestrados cujos corpos estavam assolados por algum vírus pestilento.
O mundo só é dos homens quando as mulheres não estão nele. Por que vocês, mulheres, acham que nós curtimos nos reunir para assistir futebol? Por que vocês, moçoilas, acham que nós gostamos de nos reunir para tomar uma cerveja, falar merda e vermos qual de vocês é a mais danada? Eu não ignoro a possibilidade de vocês, leitoras de Elizabeth Gilbert, estarem se perguntando, histéricas, por que nós, homens impolutos, não nos fodemos entre si? Porque nós, meninas superpoderosas, não viveríamos sem as raríssimas exceções que podem ser encontradas, a muito custo e com muitas baixas, em um grupo que é dominado por vadias falsas!
(Continua na próxima segunda-feira.)
3 comentários:
Existem pessoas e pessoas!
Não leio Elizabeth Gilbert e concordo contigo! A maioria das mulheres é assim mesmo, assim como a maioria dos homens gosta de se reunir para assistir futebol,tomar uma cerveja, falar merda e ver qual de nós é a mais danada, fora o fato de ficar mexendo com a gente na rua com cantadinhas xumbregas e nao dar a mínima pra o q a gte tá falando pq tá ocupado olhando pra nossa bunda ou seios.
Enfim, um dilema! Receio que não tenha solução.
Essa era da imagem, tecnologia e individualidade acaba com a gente às vezes...mas no fim, somos todos animais mesmo.
Ana Paula, leia com atenção o texto, em nenhum momento eu generalizei. Existem as exceções e você pode ser uma delas.
Outra coisa: sem provocação, não há discussão.
A imprensa brasileira é um exemplo mais do que claro, pois não provoca, só se atem aos fatos, não opina, não gera discussão.
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