segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pesadelo em Limeira - O dia em que a esperança morreu logo na chegada - Parte 7

“E aí, Xexéo, a mamãe chegou!”

Toque do celular da distinta moça que trabalha na minha casa

A história de um breve romance indie cheio de putaria grudenta - Parte 5

Há vários anos que o esquenta deixou de ser um ritual e se tornou uma necessidade. O modo fugaz que alguns humanos encontraram para esquecer quem são. Eu me incluo nessa. Aliás, eu me incluía nessa. Agora, as minhas madrugadas de cachaça viraram noites, se transformaram em cervejas com baixo teor alcoólico e acontecem sobre um sofá de couro com a tevê ligada no Globo Repórter. Em compensação, eu não preciso mais correr atrás de mulher. Embora, no passado, no passado mais recente que o passado distante, eu também não corresse atrás de mulher. Elas que corriam. De mim. Eu nem ao menos corria atrás delas para que elas corressem de mim. Então eu me afundava na cachaça, ou na vodka, ou no rum, ou no gim, ou na maior quantidade de cervejas baratas, ou na atmosfera de um cobertor que recendia a peido estalado de ressaca, para esquecer por algumas horas que eu era o cara que não corria atrás de nenhuma menina mas que mesmo assim as meninas corriam dele.

A primeira vez que eu fiquei bêbado foi no aniversário da pin up gordinha antes citada. Na época ela não era nem pin up, nem gordinha, mas todos já sabiam que ela estava a caminho de ser uma cidadã desagradável... aos olhos. Entenda, não estou dizendo que ela é esquisita. Eu só estou dizendo que ela é esquisita e faz de tudo para ficar ainda mais esquisita. São duas coisas absolutamente diferentes. E esquisita é um eufemismo. A festa foi uma merda. A pin up gordinha estava na fase Billy Joel Armstrong. Isso mesmo, o vocalista do Green Day. Ela andava de calça jeans rasgada, camiseta preta encardida e usava o cabelo curto tingido de loiro tigrado que parecia que fora cortado por um dos ‘talentos’ sem coordenação motora do Centro Comunitário. Ela estava mais para uma Dilma Rousseff maltrapilha do para Billy Joel Armstrong. E ela não andava com punks ou com quem quer que seja que o Billy Joel Armstrong anda. Ela andava com funkeiros. Culpa da geografia. Nascer aqui dá nisso. Você escuta And You Will Know Us By The Trail of Dead e o seu melhor amigo ouve You Can Dance. Você lê as peças do Bertolt Brecht e a sua mina lê... Belo e as paradas escritas nos encartes dos cd’s dele. Você fica arrebatado pelo diário de Anne Frank e a sua colega de trabalho fica arrebatada pelas confissões do Frank Aguiar. A última vez em que trombei a pin up gordinha foi numa roda de beck na praia do Tombo em algum réveillon deste século. Ela me viu fumando um e disse “olha só, quem diria, é você mesmo, Leonardo, quem está fumando um beck?”, “Não, é o Seal!”.

A segunda vez em que fiquei bêbado foi numa festa de quinze anos espírita (é, isso existe). Tirando a parte em que a família da mina que fazia quinze anos ficou invocando, antes da valsa, todos sentados em volta de uma grande mesa branca enquanto os convidados se perguntavam se ia rolar a brincadeira do copo, as almas dos familiares que não puderam em vida presenciar tamanho acontecimento; tirando a parte na qual eu quase botei fogo no meu par (sim, eu já estava bêbado, naquela época tudo acontecia mais rápido, a palavra ética era tão compreensível quanto uma aula de ética na faculdade); tirando o absurdo momento no qual UNESCO despirocou a boiola ao rasgar com raiva caliente a camisa social branca com a qual estava caracterizado como se soubesse que estava sendo filmado para o novo clipe dos Papaquitos por conta do questionável ritmo alucinante que ecoava das caixas de som de autoria do até então macho Rick Martin; a festa foi da hora. Eu peguei num peitinho. Eu já havia pegado num peitinho, da minha primeira namorada, mas esse era diferente, era triangular, e eu o peguei enquanto estava me preparando para dançar valsa, e não foi o peitinho da mina com a qual estava dançando, foi da outra que estava atrás de mim. E não era um peitinho, era um peitão, pois a minha ex-namorada daquela época fazia ginástica olímpica e você tá ligado como o peitoral das ginastas é para dentro. Eu fiquei muito mais bêbado do que a primeira vez. Quando me deixaram em casa, eu tentei sair pelo vidro aberto do carro ao invés de sair pela porta. E saí pelo vidro aberto do carro. E, quando entrei em casa, eu tentei me jogar na piscina, mas acabei tropeçando na própria embriaguez e indo parar no jardim. Ao escutar o barulho, o meu pai levantou da cama para ver o que tinha acontecido. Ao olhar para o quintal, eu fiquei miando como um filhote de gato jogado dentro de um jardim cheio de espinhos e o meu pai acabou aceitando as idiossincrasias da natureza e voltou a dormir. Mas o melhor mesmo da festa é que foi a primeira vez que fui abençoado pela manifestação corporativista mais bela que a nossa sociedade foi capaz de criar: a confluência garçoniana. Garçoniana é relativo a garçons. A confluência garçoniana acontece no momento crítico da festa em que ninguém consegue mais beber, menos você, ou, nesse caso, eu. Eu estava lá disposto. Eu estava de pau duro e disposto. Suado e disposto. Empenado e disposto. Com quatorze anos e disposto. Ainda com quatorze anos e já empenado. E o Brasil não acha nada absurdo que o seu cachorro esclerosado de 17 anos de idade penetre na sua filha de nove anos que pira naquele vídeo da Cristina Aguilera no qual ela luta boxe ao mesmo tempo em que quer chupar um pau de um imigrante ilegal da República Dominicana. Você acha que eles se importariam com a embriaguez de um pré-adolescente? Sim, eles se importariam. Sim, eles se importaram. Pois depois de serem esnobados por quase todos os convidados da festa que, ao verem um garçom equilibrando com classe uma bandeja cheia de garrafas de 600 ml de cerveja, escondiam seus copos empapuçados, enfurnavam-se no banheiro, enfurnavam as suas línguas na boca de outras pessoas que também enfurnavam as suas línguas na boca de outras pessoas e assim sucessivamente, eles viram que pelo menos havia alguém naquele lugar, a tão subestimada exceção, que valorizava a classe. Então eles passaram a me servir. Então eles me instalaram sozinho em uma mesa gigante que ficava próxima à cozinha. Então eles colocaram quatro cervejas dentro de um balde cheio de gelo. E amarraram um babador em volta do meu pescoço. E colocaram na minha frente uma bandeja fumegante de bolinha de queijo. E tiramos várias fotos.

Foto 1: Eu comendo três bolinhas de queijo de uma vez só enquanto virava no gargalo uma garrafa de 600 ml de cerveja.

Foto 2: Eu virando tudo que estava dentro da minha boca em cima da mesa.

Foto 3: Eu sentado em cima da mesa, com a camisa aberta, com o pescoço esticado olhando para o teto enquanto os meus olhos estavam fechados e a minha boca fazia um biquinho, não, eu não estava pagando de modelinho, eu estava arrotando.

Foto 4: Eu tentando beber o conteúdo do copo com o fundo do copo virado para cima.

Foto 5: Eu me dando conta que dá para ver através do fundo do copo que o conteúdo do copo foi parar no meu colo.

Foto 6: Eu fazendo sinal de positivo na fila do banheiro das mulheres.

Foto 7: Eu puxando o coro do “por que parou, parou por que, por que parou, parou por que”, a fila não se movia.

Foto 8: Eu mijando sentado no banheiro das meninas.

Foto 9: Eu pegando emprestado o batom de uma mina que conheci no banheiro.

Foto 10: Ela tomando o batom da minha mão para mostrar como se faz.

Foto 11: Eu e ela dando um beijo no espelho e deixando as nossas marquinhas.

Foto 12: Eu, a minha nova amiga, a Kelly (vulgo Kellínguiça) e a Soraia (vulgo Boca de Veludo) discutindo os motivos que fizeram a Rosana (a aniversariante) beijar o buraco negro que é a boca do Alemão Peão.

Foto 13: Saulo pegando a Boca de Veludo enquanto eu apontava o dedo para o casal em ação e olhava para a lente da câmera como quem diz: “Vai memo, maluco!”.

Foto 14: Rick me perguntando com quem eu havia pegado o batom que coloria a minha boca.

Foto 15: Rick com o batom na mão entrando no banheiro. Dos homens.

Foto 16: Rick saindo do banheiro com o nó da gravata exageradamente desfeito, com a camisa artificialmente escancarada, com braguilha obstinadamente esticada, com marcas de batom em forma de boca no pescoço, nas bochechas (Rick desenha muito bem), até mesmo na boca (quem consegue deixar uma marca de batom na boca de uma pessoa em forma de boca?), vociferando em desespero que havia sido atacado por um monte de mina no banheiro, “Olha só o que essas malucas fizeram comigo! Me atacaram enquanto... (ele sabe mentir muito bem) enquanto... enquanto estava tirando um cravo do queixo”, “Muito sexy, Rick, elas não conseguiram se conter ao vê-lo tirando um cravo preto do queixo”, “Deveriam ter tirado uma foto dessa cena para vendê-la depois como afrodisíaco”, “Que cena? O quase estupro que sofri?”, “Claro que não, estou falando da extração de cravo em frente ao espelho”, “O estranho, Rick, é que elas o atacaram, ou melhor, supostamente o atacaram no banheiro dos homens”, “É, bem, elas... elas... elas... foram mijar lá porque... porque... ah, sei lá, é sério, elas me atacaram, eu vi tudo, eu tava lá, eu...”.

Foto 17: Todo mundo tirando um sarro de Rick embora de modo muito mais ameno do que o sarro que, anos depois, iria mudar a vida de Rick para sempre.

Se por um lado há o excesso, a solidariedade em demasia, há também a repressão, o racionamento total de serviço, que se dá pela temida evasão garçoniana. Foi o que aconteceu na terceira vez em que fiquei bêbado, sem dúvida alguma, a mais nojenta (não tão repulsiva quanto a segunda história que ainda não tive coragem de contar para vocês, eu não esqueço as minhas dívidas), vômitos, sangue e miojo boiando numa tigela cheia de água de torneira. Dessa vez, foi a festa de quinze anos da mina que foi o meu par na festa de quinze anos espírita. Exato, a mina que eu quase botei fogo naquele ritual ridículo de acender a vela. Luana, o nome da vadia, quando tive a oportunidade, eu deveria tê-la queimado viva. Ela simplesmente proibiu todos os garçons de nos servir. “Vocês não vão estragar a minha festa!” Então fomos atrás de quem nos servisse. No bar da rua de trás. De Velho Barreiro. Purinha. Duas garrafas. Eu, UNESCO, Testa, Ford Models do Tombo, Negão, Carmelino Pão e Vinho e Mentira de Angola. (Mentira de Angola... o bisavô de Mentira de Angola lutou na Guerra de Angola. Depois de se perder do resto do regimento, ele foi cercado por cinqüenta soldados inimigos. Sem ter o que fazer, ele apertou o gatilho de sua espingarda de última geração do século XIX e girou o corpo em 360º como uma componente da ala das baianas da Mocidade Amazonense. Evidente que ele matou todo mundo. O irmão mais velho do Mentira de Angola namorou a Luana Piovani. Basta olhar o irmão mais velho do Mentira de Angola para constatar que ele não namorou a Luana Piovani. Mentira de Angola existe!) Sete copos de plástico para sete insurgentes das causas adolescentes que nem imaginavam que em menos de sete minutos e com bem menos da metade de sete doses demonstrariam bem mais de sete atitudes indecorosas para destruir um evento em menos de sete segundos.

Atitude indecorosa número 1: Fomos beber em frente o local da festa. Como forma de protesto. Recepcionando os convidados.

Atitude indecorosa número 2: Cada um tomou pelo menos cinco doses.

Atitude indecorosa número 3: Eu tomei dez. O meu recorde desde então. Pretendo não ter motivos para batê-lo. Na idade adulta, dez doses significa desespero.

Atitude indecorosa número 4: Mentira de Angola foi o primeiro a vomitar.

Atitude indecorosa número 5: Testa, o homem que, na oitava série, na oitava vez que cursou a oitava série, escreveu um dos textos mais revolucionários da história da literatura moderna que não se tem notícia. Aconteceu na aula de redação. Tínhamos que continuar com uma idéia que começava assim: O cinema estava lotado. Quase todas as pessoas estavam dormindo. Quando, de repente... a partir daí teríamos que colocar a cabeça para funcionar. E Testa, do jeito que lhe é peculiar, colocou a dele. Quando o quando, de repente, apareceu diante dos seus olhos, ele... poderia ter se safado com alguns dinossauros. Dinossauros são sempre assustadores. Eu tenho muito medo de dinossauros, menos os feitos pela rede Record, ou melhor, menos os defeitos feitos pela rede Record, a Tevê que mais empobrece o Brasil, e a evocação dos dinossauros não seria nada absurda para a mente de uma pessoa que cursava a oitava série, tudo bem, ele já estava com uns sessenta anos e ainda estava na oitava série, e parecia que ele estava querendo se aproximar do célebre Brian, que, apesar do nome gringo, é até hoje considerado o homem mais burro da história da Ilha de Santo Amaro, com 21 anos, Brian ainda estava na primeira série, tirando 0, quem freqüentava o antigo parquinho do centro sabe a quem estou me referindo, era ele quem ficava em pé no meio do brinquedo Samba, aquela porra redonda que girava sem parar enquanto um monte de luz de puteiro piscava de modo intermitente e um poperô de teclado mequetrefe embalava o enjôo, com o semblante tão vivaz quanto a máscara do Mike Myers, o serial killer do filme Halloween, Brian era um psicopata, até Sarachú temia Brian, o Guarujá temia Brian, o mar temia Brian, Brian era aquele tipo de cão raivoso que até o próprio dono tem medo, a caneta de Brian tinha medo de Brian, por isso que Brian sempre pedia caneta emprestada, e as canetas emprestadas não queriam ser emprestadas para Brian, as cuecas de Brian tinham medo de Brian, as unhas de Brian tinham medo de Brian, o cérebro, ou o que sobrou dele quando Brian veio à luz, também tinha medo de Brian, quando chovia, a chuva não molhava Brian, porque a chuva também tinha medo de Brian, portanto, parecia que Testa queria se aproximar da marca de Brian, e Testa também era assustador, todo mundo tinha medo do Testa, eu não tinha porque ele era meu amigo, e eu o salvei da morte quando ele engasgou na classe com um pedaço caudaloso de catarro de uma mal curada pneumonia, e eu peguei uma mina que eu não curtia umas nove vezes porque a prima dela só ficaria com o Testa se eu ficasse com a prima dela, e eu tinha uma dívida com o Testa, o Testa me salvou de ser linchado quando certa vez me acusaram injustamente de ter cuspido na cabeça de uma mina no colégio, e Testa é a única pessoa que conheço que foi expulsa do colégio umas onze vezes pelo diretor que parecia o Steven Seagal (à exceção o modo destemperado de agir que não era de um lutador de filmes de ação, mas de um design de interiores com o ego de um cenógrafo do Ballet Bolshoi) mas que mesmo assim continuou indo, fingindo que assistia às aulas, fingindo que não batia por maldade na ala dos punheteiros que entrava em ação com as suas Playboys com cola Print natural na hora do recreio, fingindo que não roubava para uso próprio os engradados de refrigerante do caminhão da Coca-Cola, e se fingindo colericamente surpreso quando diziam a ele que ele havia repetido de ano mais uma vez, mas não foram só essas manifestações antissociais que tornaram Testa um pretenso Brian, o trunfo de Testa para tentar superar a infâmia que era Brian é que ele falava umas paradas nada vê, e Brian não falava umas paradas nada vê porque a voz de Brian também tinha medo dele: uma vez, quando estávamos andando pela rua a caminho da escola, nós passamos por uma menina muito magra, o bastante para Testa fazer o seguinte comentário nada vê: “Nossa, essa mina é mó Raquítima”. Raquítima! Jamais a voz de Brian teria coragem de se pronunciar dessa forma. Quando, a pedido do Barbinha Canalha na Cara Inchada de Chicano, Testa escalou a formação dos Beatles, saiu isso: “na guitarra e vocal, John Bennon”, Bennon!, “no baixo e vocal, Paul Macartsley”, Macartsley!, “na bateria, Bingo Star”, Bingo! Contudo, eu considero essa história falaciosa. Em primeiro lugar, eu não estava lá para testemunhar. Eu não minto, eu só aumento um pouquinho, eu gostaria de usar esse poder para aumentar um pouquinho o meu pau, mas não dá certo. Em segundo lugar, Barbinha Canalha na Cara Inchada de Chicano achava que os Beatles eram um trio, porque ele ignorou completamente a existência de George Harrison, o meu beatle preferido, e Barbinha Canalha na Cara Inchada de Chicano tem até hoje como banda predileta o Pavilhão 9, e como ídolo supremo, Marinho, ex-baixista do Yo-Ho Delic e do Pavilhão 9. Quando Testa trabalhou algumas semanas em uma sorveteria no Tombo, e foi questionado por uma cliente se lá na sorveteria havia toalete, ele respondeu essa parada nada vê: “Toalete? Não, ainda não temos esse sabor”. Quando, na viagem de formatura do terceiro colegial (Testa conseguiu se formar, o nosso colégio era tão altruísta que, além de garantir a formação do Testa, ele nos dava a possibilidade de ficarmos em recuperação final em todas as matérias, e, já que estamos falando do Testa, hoje ele é casado e tem duas filhas, agora, onde Brian está, eu não sei, a única coisa que tenho certeza é que ele não está morto, pois até a morte tem medo de Brian), nós conversávamos com duas meninas de uma estranha cidade batizada falicamente de Rolândia, e elas nos perguntaram como era morar no litoral, ele lançou essa parada nada vê: “Nós, que moramos em uma cidade litorística...”. Litorística! Enfim, quando o quando, de repente, surgiu como uma missão de vida ou morte diante dos olhos confusos do Testa, ele teve que lançar a parada nada vê mais parada nada vê de toda a galáxia: Quando, de repente, apareceu Guiler (o nome desse soldado detentor de uma magia apelativa do Street Fighter ainda gera muita discórdia no mundo com cheiro de comida delivery dos aficionados por videogame, gente boiola da estirpe do Rocambole, Telmo e Carmelino Pão e Vinho, mas Guiler eu sei que não é), Chong-Li (porra, Testa, até eu sei que é Chun-Li), Braddock (ahhhh, Testa, Braddock é o Chuck Norris, não o boxeador negão lerdo pra caralho), Sangief (só faltou trocar o S pelo Z, por pouco), Branca (havia uma mina que andava com a gente cujo nome era Branca, eu acho que todo mundo queria pegar aquela mina, ela era gatinha, branquinha e sardenta, não verde e mostrenga, embora ele possa ter confundido com outra mina que andava com a gente cujo nome fora carinhosamente rebatizado de Cabelo do Cu do Urso, e depois, na ocasião em que ela raspou o cabelo do cu do urso, Daúde Pós-Apocalíptica) então, foi assim que sucedeu-se o quando, de repente, do Testa, ele resolveu acordar a galera dorminhoca do cinema com os personagens do Street Fighter, e o mais impressionante, o que torna essa história um dos maiores monumentos da literatura moderna de todos os tempos que não se tem notícia, ou melhor, um dos maiores monumentos da literatura infantil retardada babona de todos os tempos que não se tem notícia, é que ele errou tudo, do começo ao fim, inclusive o próprio nome, ele esqueceu o penúltimo sobrenome, de modo involuntário, e o mostrou pra mim com orgulho, como se fosse da hora mostrar uma das suas filhas que por uma rara armadilha agourenta do destino tivesse emergido ao mundo com um bigode de chinês e com uma tromba de elefante entre as pernas. E por que diabos eu comecei a falar do Testa? Ah, sim, o Mentira de Angola foi o primeiro a vomitar, e o Testa, que não pode ver ninguém vomitando (outro indício de que Testa jamais seria um Brian, o próprio vômito de Brian tem medo de Brian), também vomitou.

Atitude Indecorosa Número 5: Mentira de Angola vomitou, Testa viu Mentira de Angola vomitando e também vomitou, Ford Models do Tombo não agüentou testemunhar os dois vomitando e também vomitou.

Atitude Indecorosa Número 6: Mentira de Angola vomitou, Testa viu Mentira de Angola vomitando e também vomitou, Ford Models do Tombo não agüentou testemunhar os dois vomitando e também vomitou, Negão não suportou o quadro que descortinava-se à sua frente pincelado com uma fusão de maisena estragada e vísceras e se sentiu obrigado a jorrar tudo na calçada.

Atitude Indecorosa Número 7: Mentira de Angola vomitou, Testa viu Mentira de Angola vomitando e também vomitou, Ford Models do Tombo não agüentou testemunhar os dois vomitando e também vomitou, Negão não suportou o quadro que descortinava-se à sua frente pincelado com uma fusão de maisena estragada e vísceras e se sentiu obrigado a jorrar tudo na calçada, UNESCO sucumbiu ao vomicídio coletivo.

Atitude Indecorosa Número 8: Mentira de Angola vomitou, Testa viu Mentira de Angola vomitando e também vomitou, Ford Models do Tombo não agüentou testemunhar os dois vomitando e também vomitou, Negão não suportou o quadro que descortinava-se à sua frente pincelado com uma fusão de maisena estragada e vísceras e se sentiu obrigado a jorrar tudo na calçada, UNESCO sucumbiu ao vomicídio coletivo, Carmelino Pão e Vinho não aceitou que eu seria o único a não vomitar, portanto ele apelou vomitando e andando na minha direção, tal qual um zumbi com quase dois metros de altura acometido por uma crise de congestão crônica, enquanto tentava urrar Orgasmatrow.

Atitude Indecorosa Número 9: Mentira de Angola vomitou, Testa viu Mentira de Angola vomitando e também vomitou, Ford Models do Tombo não agüentou testemunhar os dois vomitando e também vomitou, Negão não suportou o quadro que descortinava-se à sua frente pincelado com uma fusão de maisena estragada e vísceras e se sentiu obrigado a jorrar tudo na calçada, UNESCO sucumbiu ao vomicídio coletivo, Carmelino Pão e Vinho não aceitou que eu seria o único a não vomitar portanto ele apelou vomitando e andando na minha direção, tal qual um zumbi com quase dois metros de altura acometido por uma crise de congestão crônica, enquanto tentava urrar Orgasmatrow, mas foi em vão, eu não vomitei, eu não sinto nada ao ver outras pessoas vomitando, eu fui, há alguns anos, a um mini-festival em Santos no qual uma banda punk do ABC tocou cujo vocalista vomitou sobre a fatia da platéia que estava mais próxima do palco se acotovelando e a platéia atingida manifestou-se em resposta pegando com a mão alguns restos de vômito que encharcavam as suas cabeças e os jogando para o alto como se fossem confetes de carnaval atiradas por crianças fantasiadas de pirata, mesmo de longe, dava para discernir uma porção de arroz deformada, sopa de feijão preto, bacon murcho, farofa com creme de leite... além do mais, eu tenho o costume de olhar para a agulha entrando na minha veia quando faço exame de sangue, e eu sou o primeiro a me prontificar na ocorrência de matar uma barata e faço questão de pegá-la com a mão antes de jogá-la no lixo. Eu só tenho medo de rato. Qualquer rato. Até do Ratatouille. Até do Fievel. Até do Mickey. Até do Stuart Little. Até do Charopinho (“Me chamando...”). Do Mestre Splinter eu não tenho. Ele só quer o nosso bem.

Atitude Indecorosa Número 10: os convidados foram obrigados a se desviar do lago de vômito deixado pelas vítimas da evasão garçoniana.

Atitude Indecorosa Número 11: UNESCO, ao atravessar, de modo triunfante, a porta de entrada do salão da festa, que era de ferro, conseguiu dar uma canelada na quina da porta, justamente a canela que tinha uma grande e feia verruga, que na época chamávamos equivocadamente de berruga, o bastante para a verruga estourar e UNESCO ficar com a canela jorrando sangue até o fim da festa. Beautiful.

Atitude Indecorosa Número 12: Testa interrompeu o xaveco que dava em Bruna (gostosíssima, canalha e com uma flor roxa tatuada um pouco acima do cóccix) para vomitar no ventre esculpido da mesma. Testa querendo superar Brian.

Atitude Indecorosa Número 13: Eu tomando dez foras consecutivos da Bruna.

Atitude Indecorosa Número 14: Eu tomando o décimo primeiro fora.

Atitude Indecorosa Número 15: Eu tomando mais 13 foras seguidos. Da Bruna.

Atitude Indecorosa Número 16: Finalmente Bruna topou ficar comigo.

Atitude Indecorosa Número 17: Entretanto, bem no momento em que eu iria beijá-la, começou a rolar na pista Hole In My Soul, do Aerosmith, portanto eu tive que correr em direção a pista, eu simplesmente amo essa música, eu simplesmente acho a pior fase artística do Aerosmith a melhor fase.

Atitude Indecorosa Número 18: Quando voltei, Testa estava engolindo a Bruna para depois vomitá-la na minha cara.

Atitude Indecorosa Número 19: Eu, Carmelino Pão e Vinho e Ford Models do Tombo fomos dormir na casa do UNESCO.

Atitude Indecorosa Número 20: Ford Models do Tombo perguntou: “Quem está com fome?”.

Atitude Indecorosa Número 21: Eu respondi: “Eu!”.

Atitude Indecorosa Número 22: Ford Models do Tombo disse que ia preparar um delicioso miojo.

Atitude Indecorosa Número 23: Ele encheu uma panela gigante com água de torneira turva e jogou uns 10 miojos. Não dez sacos de miojo, mas dez miojos avulsos. Ninguém teve a inteligência de perguntar de que lugar ele exumou aqueles miojos.

Atitude Indecorosa Número 24: Ford Models do Tombo gritou, “Tá pronto!”, e o que vi na minha frente foi um prato grande de alumínio usado para depositar ração de cachorro transbordando de água cheia de cabelo e com uns três miojos boiando.

Atitude Indecorosa Número 25: Eu finalmente vomitei sobre os três miojos de todo mundo. Quatro, no caso de Ford Models do Tombo, regalia do chefe. Eu só não fodi o nosso jantar porque, além de a fome ser tamanha e de estarmos esgotadamente embriagados, nós comemos mesmo assim.

Quem ficaria bêbado em uma festa de criança? Eu. Tem coisa melhor do que brigadeiro, chopp mexicano com gosto de urina de fralda geriátrica e videokê? Certo, qualquer merda de cerveja, inclusive Kronenbier, é melhor do que aquele chopp mexicano com gosto de urina de fralda geriátrica. Certo, buceta é melhor do que brigadeiro. Contudo, não há nada que supere um bom videokê. Confesso, eu amo videokê. Quando tem videokê, só eu quero cantar. E se eu tiver que dividir o microfone com você em alguma canção, eu não irei deixá-lo cantar. O meu ego de cantor frustrado irá atropelá-lo em cada estrofe. E quando não for a minha vez, eu irei gargalhar na sua cara. Eu direi que a sua escolha de música foi péssima. Que a sua apresentação foi um lixo. E se nada disso o intimidar, eu direi que a sua mãe é uma vaca! Eu sempre canto Guns. Eu sempre canto Paradise City. Eu sempre canto Whitney Houston. Eu sempre canto aquela música da trilha sonora do filme O Guarda-Costas. Eu sempre canto Alejandro Sanz. Eu sempre canto No More Tears, do Ozzy. Quando tem Mr.Big no aparelho, eu sempre canto. Eu nunca consegui cantar Ugly Kid Joe porque até hoje não consegui encontrar nenhum aparelho de videokê que tenha Ugly Kid Joe. Eu canto todas as baladas do Aerosmith. Eu canto o tema da Bela e A Fera. Eu canto Negritude Jr. “Não dança a nossa dança, o amor é meu segreeeeduuuuuu, nos olhos de esperança, mas tenho meeeeeedo.” Ultimamente ando cantando Tihuana e sua melíflua canção Pula pu-pula filha da pula. Não há letra no mundo da música que faça menos sentido do que essa. Eu não conheço ninguém que, quando está chapado, quer ficar pulando, xingando e batendo nos outros. Mas cantar essa música no videokê é muito divertido. É como encher uma bexiga com água e jogá-la na cabeça azulada de uma velha beata do alto de um prédio. Tudo o que odeio ouvir eu amo no videokê. Tudo que é bom faz mal. Portanto, se houver videokê, eu me embriago sem problema algum de chopp com gosto de urina de fralda geriátrica, me entupo de brigadeiro e mino qualquer remota possibilidade de comer uma buceta. A festa foi da irmã do Saulo, a Augusta, ela estava fazendo dez ou onze anos. Essa foi a quarta vez em que fiquei bêbado e a fama de bebum já começava a me preceder. Eu estou em todas as fotos da festa. Ora cantando sozinho no videokê. Ora cantando sozinho junto com outras pessoas que tentavam mas desistiam de cantar ao meu lado. Ora vaiando as crianças que estavam cantando no meu lugar. Ora sendo vaiado pelas crianças enquanto estava no meu lugar. Ora sendo esculachado pelas mães das crianças. Ora convidando as mães das crianças para tomarem um banho comigo na banheira do quarto dos pais do Saulo. As fotos dessa festa constroem com exatidão o poder vexatório da cronologia etílica. No começo da festa, eu estou penteado, ereto, arrumado e cheiroso. No meio, estou descabelado, suado, esgarçado, fedido e com o rosto tão grande e vermelho quanto o testículo esquerdo do Kid Bengala. No fim, eu estou jogado no sofá sem camiseta e com o cabelo ensebado de vômito. Aconteceu o seguinte, eu cheguei a um ponto no qual eu não conseguia mais andar de olhos abertos. Se eu abrisse os olhos, eu tinha a sensação de que estava andando de ponta cabeça. Se eu deitasse, eu tinha a sensação de que estava deitado no teto e o teto estava no chão e o chão estava no teto. Ou seja, só vomitando para aplacar toda essa atmosfera kafkiana. Então eu fui até o banheiro do Saulo, tranquei a porta, tudo isso com os olhos fechados, como um cego alcoólatra, e, quando abri os olhos, não sei que me deu que acabei olhando para o teto e prontamente ignorando a existência da gravidade e vomitando para o alto. O vômito, como não podia deixar de ser, caiu no meu cabelo, colou as minhas pálpebras e banhou a minha camiseta branca da Sims. (Não, essa não é a segunda história nojenta.) Depois eu tive que esconder a camiseta vomitada no fundo guarda-roupa do Saulo. Ela só foi encontrada cinco anos depois pela avó do Saulo. Ela lavou a camiseta e a entregou a mim. Até hoje a camiseta existe e agora ela é usada como pijama.

Por que eu fiz você perder minutos preciosos da sua existência ao contar essas histórias repletas de orgias alcoólicas, a única modalidade de orgia da qual participei? Só para informá-lo que eu tenho total conhecimento das fases pelas quais o cidadão comum tem que passar para ficar indubitavelmente bêbado. E Rick, quando pegou a Cristina, não passou por nenhuma delas. Mesmo que até hoje insista com teimosia que foi vítima das vicissitudes por vezes escabrosas da inconseqüência etílica.

(Continua na próxima segunda-feira. Assim espero.)

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