Purgatório Americano
Fazia tempo que eu não lia um livro que me deixasse, de certa forma, apreensivo e feliz. E o melhor de tudo é que se trata de uma obra de um autor que até então me era desconhecido (escrevo este texto no dia 23 de novembro de 2009). John Haskell tem 51 anos e é americano da Califórnia. Vive no Brooklin e também é ator, dramaturgo e artista performático. O seu primeiro livro, Eu Não sou Jackson Pollock, foi lançado no Brasil, via editora Rocco, em 2006. No entanto, ainda não tive a oportunidade de lê-lo. Já Purgatório Americano, lançado aqui em 2009 pela mesma editora, me deixou
O casal para o carro no posto de gasolina. O marido sai do carro e vai até a loja de conveniência comprar algumas coisas para comer durante o trajeto. Olha as embalagens, escolhe os produtos com cuidado, pega um pacotinho de amendoim, uma barra de cereal e uma bebida supostamente energética. Vai ao caixa, paga, sai da loja e nem o carro e nem a sua mulher estão mais lá. Nem
Purgatório Americano é um livro feito para ser lido de uma só vez. Como um filme que não o deixa nem sequer ir ao banheiro. Mas não foi isso o que eu fiz. Eu gosto de retardar o processo quando o livro é maravilhoso. Eu gosto de repensar o livro enquanto faço outras coisas que devem ser feitas todos os dias. Eu não quero que ele acabe rapidamente. A realidade-fictícia paralela deve ficar em suspenso para compensar o tédio que é trabalhar durante um mês para ganhar num específico dia de cada mês. Às vezes não consigo lembrar do rosto de algumas mulheres que amei. Foi tudo tão intenso, fugaz e impulsivo que os detalhes se perdem, as pintas em lugares únicos, as lascas na dentição, o tremelicar dos lábios, o formato dos dedos dos pés, os perfis recorrentes, o tom de voz ao telefone, as manias surgidas da mente que são transmitidas ao corpo, os múltiplos hálitos correspondentes à determinada hora do dia, o comprimento do cabelo, o pêndulo do caminhar, a postura, o som da risada, o indivíduo único vira um borrão comum – a pressa é inimiga da perfeição das boas lembranças que não queremos esquecer sobretudo nos momentos em que nos vemos no vazio dos outros. Purgatório Americano é um livro para ser lido para sempre - e um ótimo exemplo da inutilidade da crítica literária nacional que, simplesmente, ignorou o lançamento de uma das mais instigantes e belas obras lançadas por um autor no século XXI!
(Semana que vem continuo com a confusão que é aquela porra de Pesadelo em Limeira - O dia em que a esperança morreu logo na chegada. Faltou-me tempo para escrever na semana passada.)
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