sexta-feira, 13 de maio de 2011

Guarujá Rock City



“Escrever uma história do Guarujá para quem não é do Guarujá pode ser uma coisa difícil. Quem sabe talvez deixar de lado ou do lado de fora tudo que há de certa forma cativantemente colorido no mundo seria um modo de descrever o Guarujá à perfeição. Eu conheço isso aqui do dia em que nasci desde quatro anos depois. Sempre foram três pessoas e as três pessoas são a minha família com o acréscimo e a ruptura o acréscimo e a ruptura o acréscimo e a ruptura o acréscimo que faz da vida uma sucessão de sucessões molhadas ou secas estáticas ou incontroláveis.”
Trecho da poesia Brados de um Jesus anão com
Um bellini no rosto e uma verruga no copo
, do livro Na Pior No Havaí: época de furacões; uma gorda chata, histérica e mimada a tiracolo; uma nota de 10 dólares presa no elástico da sunga; uma ponta com muita amônia umedecida por lábios com herpes do antigo proprietário na carteira; o livro de memórias do Lobão como válvula de escape; a discografia completa de Laura Pausini no ouvido e um revólver calibre 38 com uma só bala no tambor – de festim, de Arno Palumbo, editora Napalm na Micareta Press.


Rock no Guarujá é tão possível quanto um concurso de camiseta molhada na Sibéria. Não há como. Não existe. Para ser sincero, o meu grande sonho é (OU ERA) escrever uma biografia do rock guarujaense. As grandes bandas que chegaram a encher estádios com arquibancadas vazias. Os artistas inovadores que não conseguiram revolucionar o mundo, mas pelo menos as ruas onde moravam, provocando o êxodo da vizinhança que não agüentava mais tanto barulho. Os bares mitológicos. Cereja’s Drink’s e a sua clientela fiel composta por falta de pessoas. Quando havia pessoas, faltavam pessoas bonitas. Ou sóbrias. Ou acordadas. (Ou com mais de dois dentes na boca.) Cantinho’s Bar e o seu ambiente acolhedor. Tão acolhedor que a proprietária decidiu se enforcar dentro do próprio bar, atrás do balcão. Toca do Tubarão, a Amsterdam paradisíaca sem holandesas gostosas e com o público mais batido da Baixada Santista. Basta ir até a Bola de Neve para reencontrar todo mundo. A Festa, o evento que parava a cidade e levava todos os cinqüenta e três habitantes a uma jornada regada a fumaça de cigarro, cerveja quente em copo de plástico, vídeos de surf projetados em um telão rachado, bandas cover de Alanis Morrissete, sexo prazerosamente irresponsável que culminava em mais uma paternidade antes dos 18, ficadas com a mesma menina estranha que era amiga de todas as outras meninas (“ah, a Jú é muito legal, você tem muita sorte, cara”) que não queriam ficar comigo (à exceção de Daniela Ramos, mas aquilo não era uma mulher, tava mais para um monstro, a fusão de Ariats, Willow, o da Terra da Magia, com a risada, e não com as tetas, da Fafá de Belém) por conta da inestimável simpatia que desprendia-se daquela boca que era tão grande que engoliria a China com todo mundo dentro, inclusive com o Yao Ming, e brigas ocasionais e espaçadas que transformavam A Festa em A Briga e A Briga como a grande ocasião da festa. Jambococo e a sua agradabilíssima temperatura de sauna mista freqüentada só por homens, alguns caucasianos, outros negros, pouquíssimos japoneses que eram só japoneses, muitos japoneses que também eram paraibanos, libaneses a rodo herdeiros de lojas de móveis invariavelmente às moscas entretanto com as carteiras de couro verdadeiro atulhadas de dinheiro, metaleiros-funkeiros que usavam o som da guitarra distorcida como desculpa para afundar o seu nariz com uma cabeçada chata, punks que confundiam atitude com mendicância, punks que confundiam “altitude” com “atitude”, punks que confundiam Legião Urbana com punk rock, punks que confundiam a rua com privada e hippies que confundiam chorume com perfume. Manguetown, uma noite capaz de mudar drasticamente os próximos dez anos de sua vida – isso se você conseguisse chegar até lá. Os dois primeiros passados em uma clínica de reabilitação. O próximo par de anos usando tudo que deixou de usar e enfiando tudo em tudo que deixou de enfiar no período de privação. Mais dois anos com o vírus do HIV. Um ano espalhando o vírus do HIV e rechaçando boatos. Seis meses de arrependimentos acompanhados de mais seis meses de iluminação e purgação perante a Deus. Um ano de recriminações às libertinagens da sociedade e de convicção milagrosa quanto à cura da “sua” Aids. E o último ano prostrado em uma maca maculada de sangue alheio % alheio % a tudo % devido ao todo % e a falta de tudo % sem nada % sem tranças % às traças no corredor de alguma policlínica fétida à espera da morte que nem Deus conseguiu interromper. Os organizadores da Manguetown alugavam sempre a mesma mansão de dois andares no bairro da Enseada, a preço de banana. O térreo, onde ficava o extenso quintal, era destinado à apresentação das bandas, basicamente hardcore melódico, covers da Alanis Morrissete, Killing The Name como apelação infalível - até a mina que cantava Alanis Morrissete cantava Killing The Name para acordar a galera entediada que ficava gritando “sai fora, putinha do caralho!”. O primeiro andar era onde ficavam os quartos. Assépticos e cheirosos como só o esgoto que passa pela Favela do Caixão pode ser. Um cara e uma mina se encontravam invariavelmente chapados por alguma substância, desde drops Dulcora até cocaína. Tal como um roteiro de filme pornô, conversavam um pouco para logo procurarem um quarto vago no qual pudessem tirar a roupa e transar bastante. Quase sempre no pelo. Das sete, cinco: chato, clamídia, sífilis, gonorréia e gravidez; ou gravidez, crista de galo, aids, chato e sífilis; ou clamídia, aids, gonorréia, gravidez e crista de galo. O terceiro andar consistia em um espaçoso terraço-parque de diversões-reduto caindo aos pedaços para os usuários de todas as drogas possíveis e imagináveis para o poderio econômico de uma cidade de nono mundo num país de terceiro mundo que, à época, anos 90, estava mais para quinto.

E os festivais? Os festivais que subverteram os ditames repressores e pararam guerras, nos quais guitarristas geniais de pele negra vestidos como ciganos tocaram hinos dos seus países como forma de protesto enquanto a galera se afogava no ácido e afundava na lama? (A lama nunca foi um problema. Ela é uma substância imanente do nosso povo. Vide o epíteto “Pé de Lama”.) Os Estados Unidos tiveram o emblemático Woodstock e o cult Lolapalooza. A Inglaterra tem o Festival da Ilha de Wight, o festival de Glastonbury, o Reading Festival, entre tantos outros. A Espanha tem o Sonar Festival. O Brasil já teve o Rock in Rio, o Hollywood Rock, o Monsters of Rock, o Tim Festival etc. E nós, aqui do Guarujá, que tipo de festival nós tivemos? (Além do Guarujá Verão Show, que, vamos ser sinceros, é uma merda, uma bosta total, todo ano é o mesmo Chiclete com Banana - se você é chicleteiro, Deus te abençoa; se você não é chicleteiro, Deus que se foda!), a mesma Ivete Sangalo, a mesma Claudia Leite, os mesmos César Menotti e Fabiano, em cima do palco, acima do peso e abaixo da crítica (o quê, de certo modo, pode ser encarado como um elogio). Nós tivemos, em julho de 1999, em pleno verão fora de época porque à época aqui era inverno mas isso não faz muita diferença aqui porque aqui não é Campos de Jordão portanto dá para ficar bêbado por bem menos de 300 reais (Maiúsculas), O OUSADO, O DESBUNDADO, O PORNOGRÁFICO, O SUBVERSIVO, O INCLASSIFICÀVEL, O MULTIRRACIAL, O SANGUINOLENTO, O TRANSFORMADOR, O FILANTRÓPICO, O MISANTROPO, O BILÍNGUE, O SIMBÓLICO, O... O... O... O... O... o único festival de rock na história do rock que teve como banda de abertura um grupo de pagode – O APOCALIPTICAMENTE CLASSE MÉDIA “WIZARD BANDS”! (Exato, a filial caiçara da escola nacional de línguas internacionais organizando festivais musicais no intuito de dissuadir a discriminada juventude guarujaense afetada pela atmosfera ao mesmo tempo melíflua e torpe da arte a não cometer suicídio ou castração coletiva na singular Praça das Bandeiras que não possui uma mísera bandeira.)

A Wizard contava no seu corpo docente com uma gama de professoras estúpidas mas talentosamente gostosas e adeptas à felação em alunos que porventura viessem à tona com suas toras sedentas por empirismo licencioso nas longas madrugadas sonolentas de sonhos lúbricos em vigília entorpecida por ervas com excesso de amônia. (Eu estudei lá durante dois anos e posso afirmar uma coisa: não aconteceu nada disso comigo.) Vinte bandas participaram da primeira edição do festival. A primeira edição deu tão certo que nem houve a segunda. Das vinte bandas, dez classificaram-se para a fase final. Das dez finalistas, as três primeiras colocadas ganharam prêmios. E que prêmios! Uma camiseta da Wizard. Uma. Havia bandas com sete integrantes. E uma camiseta. Além do mais, horrorosa! Uma camiseta da marca de surf Antiqueda, uma das proeminentes patrocinadoras do evento. E alguém se pergunta. “Uma?” Uma. Um cd da banda So What! What? So What! What? So What! Whatcha Whatcha On? Banda paulistana de hard rock farofa que encerrou o festival com um show digno de nota: 0,1. Direito à gravação de três músicas no estúdio do lendário e pontual produtor santista Boca. E, das três músicas gravadas, a honra de ter duas músicas no histórico CD do festival: Wizard Bands Vol 1. O CD custava dez reais e para todas as dez pessoas que ofereci o CD as dez ofereceram no mínimo dez pertinentes motivos para não comprar o CD. Então eu dei os CD’s. Ao meu pai, a um amigo da escola que disse para umas meninas gostosas do Paraná que adorava morar em “uma cidade litorística”; à minha mãe, que, obviamente, amou; à minha namorada da época, que já à época me chifrava com caras mais fortes que só uma época depois fui descobrir; a um entulho amarelo que estava estrategicamente parado em frente à minha casa; a mim mesmo; a mim mesmo de novo, ocasião na qual o transformei em patins de patinação no gelo, só que sobre o asfalto esburacado e sob um calor de 43 graus, e bailei como se estivesse no perobístico Holliday On Ice; a uma criança de rua que logo depois o utilizou, de modo inteligente, como frisbee; a uma macumba que estava diabolicamente parada na esquina da minha casa; e, finalmente, a Deus, que, desconfio, não curtiu, isso porque dois dias depois quebrei o meu tornozelo andando assim do nada.
Eu fazia parte da banda RKF – a banda mais sexista a não fazer sexo do rock litorâneo. Para ser sincero, éramos todos virgens. Embora nos enganássemos ao disseminarmos histórias sacanas sobre empregadas domésticas apoiadas de quatro sobre tanques de lavar roupa, sobre amigas mais velhas das irmãs mais velhas que romperam a barreira do som com os seus urros apocalípticos de prazer e dor enquanto nos deixavam romper os seus hímens porcalhões que hiperbolicamente quase nos fizeram morrer afogados de um líquido parecido com suco de tomate caudaloso, sobre primas gostosas que na realidade eram bagulhos incapazes de provocar qualquer alusão a qualquer coisa sobretudo ao tipo de coisa que pode ser identificada como tudo, menos coisa, sobre anãs atletas cadeirantes campeãs de luta greco-romana que levantavam...

Outra banda de destaque era a banda mirim pacifista Fuck’n All. Garotinhos de 12 a 13 anos que eram influenciados evidentemente pela versão mais velha e imaturamente madura: RKF. Como o RKF, eles mandavam todo mundo pra casa do caralho, bebiam pinga direto do gargalo, deixavam a cueca samba-canção à mostra, viam as mulheres como objeto, eram mais promíscuos quanto ao estilo musical do que a bunda do roqueiro Serguei jamais será, mas também não comiam ninguém. Um espécime assaz curioso nessa trupe de cinco garotos era o outro vocalista, porque havia outro além do outro, Luquinha. Fruto de uma educação experimental, anos depois de deixar a banda e a gloriosa camiseta do Olodum que provocava suspiros nas gatinhas do hardcore, Luquinha foi preso na mesma cela do irmão mais novo. Dias depois desse reencontro, os outros 147 presos que dividiam a cela com os dois irmãos, que era da magnitude da casa do Jerry, pediram transferência porque não agüentavam mais as selvagens brigas dos dois afortunados.

N.D.A entrou para história do rock guarujaense não pela qualidade musical, muito menos pela originalidade do nome, mas por conta do comportamento fantástico de um dos integrantes: vamos chamá-lo de A (até parece que ninguém sabe de quem estou falando), baterista e mágico. Retificando: péssimo baterista e mágico mediano. A mágica de A não se relacionava com as ferramentas usuais do mundo dos mágicos. Esqueça cartas de baralho, pombas brancas, cartolas pretas, mulheres cortadas ao meio e ilusionismo. Não era nada ilusório, era tudo verdade. O que sumia, sumia. E o poder da sua mágica cresceu ainda mais por conta de sua mudança do Guarujá para Curitiba. Por exemplo, você e A (não me pergunte quem, você sabe muito bem de quem estou falando, lembre-se daquele boné importado que você tanto gostava) estão na mesa de um bar. De repente, você coloca uma nota de cem reais sobre a mesa para checar algo no bolso de sua bermuda. Quando você olha de novo para a mesa para pegar a nota de cem e recolocá-la no bolso, ela sumiu. Foi assim com o meu CD “importado” do The Cramps. Com as blusas de outros amigos. Óculos. A caixa da batera do Kellinho. Vídeos. Bonés. O sumiço repentino na hora de pagar a conta no bar. A aparição repentina em festas para as quais não fora convidado...

Da metade ao fim da década de 90 o Guarujá foi encurralado por um tardio frenesi de música grunge – em suma, rock velho travestido de novo – executada por surfistas idosos que já naquele período tinham a mesma idade que nós, eu e os meus amigos sedentos por buça (qualquer buça que fosse realmente uma buça), temos hoje. Atualmente eles têm a mesma barriga, a mesma erosão capilar, a mesma incontinência urinária, o mesmo bundão, o mesmo intermitente pigarro, o mesmo bigode amarelado, o mesmo receio em falar em voz alta sobre o temido exame do toque, o mesmo descuido em peidar em público, a mesma obsessão por uma só marca de cerveja porque as outras, agora, dão dor de cabeça, a mesma cor no nariz do nariz de palhaço, a mesma decepção no ato de descabelar o palhaço por conta da insistente indolência do palhaço, o mesmo desembaraço de enfiar a mão no rabo e coçá-lo em público, o mesmo insuportável, num dia bom soa até engraçado, estertor noturno, o mesmo questionamento matutino quanto à possibilidade do próprio pênis estar realmente diminuindo, a mesma sensação lancinante que, a todo momento, menos quando ele olha para a bunda de alguma menina que tem a idade da própria filha e percebe que mesmo com esta vista privilegiada a porra do pau velho enrugado não sobe, o acomete ao sentir que algum soturno diligente cidadão do Vale da Morte está à espreita para levar a próxima encomenda e a próxima encomenda, cruzes ++++++, ser ele – as mesmas neuroses dos nossos pais.


Portanto, nós – em micaretas ao ar livre nós só pegávamos friagem – estávamos cagando e andando para eles. A exceção dessa trupe, que evitava que nossa bosta fosse encontrada a caminho do banheiro da escola, nos campos de futebol, nas salas de visita das nossas avós ou na escadaria da igreja, chamava-se Chacras. Afinal, além de ensaiarem na nossa rua (o baterista, o bom e “velho” amigo Yuri, que, há poucos anos, e com toda a propriedade, poderia ter servido de dublê em Hollywood para a adaptação cinematográfica de Hulk - a propriedade se deve ao abuso de chá de cogumelo que “o deixou verde”, palavras do próprio), eles nos induziram indiretamente a esquecer o futebol e a enchermos o saco estéril dos nossos pais para comprar instrumentos barulhentos. (Filhos da puta!) Eles eram em quatro, e talvez alguns eram vivos, e um deles, não o Yuri, posteriormente se viu envolvido em alguns crimes amenos (roubos e assassinatos, basicamente) na selva amazônica. Adoravam beck (cá entre nós, quem não curti... uma Becker, a mais pura cerveza chilena) e tinham uma espécie de quinto integrante, o homem responsável pelas letras, sujeito incógnito que, na minha humilde opinião que julga estar certa quase sempre, era o verdadeiro gênio da banda, o qual, infelizmente, não me recordo o nome (na verdade, nunca soube o nome dele, era mais recluso e mais talentoso que Thomas Pynchon), mas sei que era o tio do Yuri, e que tinha bigode, e que era careca, enfim, o perfil do campeão. Agora, sinta o drama:
“Titanic de pobre,
É a catraia que sai do Itapema
E atravessa pra Santos.”
Note a singeleza desta frase:
“Quando chega a sexta-cheira...”
O compromisso e a sabedoria de homenagear o que dá prazer:
“Rabo de Galo,
Três Fazendas,
51,
Velho Barreiro,
Álcool Puro,
Óleo diesel,
Cloro,
Solvente,
Merda de Pombo,
Vômito de cachorro com sarna,
Urina de prostituta de Chernobyl...”
O compromisso com a história do povo:
“Essa é a história do catador de lixo da praia que dava a bunda em troca de lata”

E o passado recente? Aquele momento no qual nos conformamos que talvez teríamos que fazer faculdade de engenharia elétrica? Tristes dias cada vez mais longínquos porém intensamente nítidos que nos afligiram em sua vertiginosa passagem ao iluminar, paulatinamente, com requintes de sadismo e doses cavalares de humor lúgubre, as vogais em forma de neon colorido da palavra HOBBY? Por que o Bolinho, depois que tornou-se straight-edge, ficou mais gordo? Por que escolher Ian Mcaye como referência ao invés de Tommy Lee? Por que cursar jornalismo já que, assim que me formei, a última coisa que eu queria ser era jornalista? Por que Bob Marley, se não fosse artista, seria biólogo? Por que Peter Tosh, se não fosse artista, seria nutricionista? Por que balançar a cabeça, tal qual um headbanger, se o cabelo sumiu?

Aos 20 anos, as responsabilidades rondam como células defeituosas. Para ganhar dinheiro com nossa música teríamos que transformar a nossa retidão e autenticidade nas diabruras boçais do Tihuana, no radicalismo naturalmente grisalho e tingido de caju do Capital Inicial, na fúria púbere descerebrada e celebrada aos 40 do Charlie Brown Jr, no som da risada enlouquecida de alguma piada insossa contada por um eminente funcionário da MTV, mas preferimos, ainda bem, soa mais verdadeiro do que as mentiras que os outros contam a si mesmos, ser empacotador de supermercado a compactuar com a sensação de sucesso que depende da anuência de outras pessoas mais estúpidas que a gente.

Ainda há mais bandas. Muitas bandas. Dos mais diversos estilos e idiossincrasias. De diversos bairros e das mais longínquas fronteiras. Algumas só ensaiavam aos sábados e outras uma vez por mês. Havia aquelas que nunca ensaiavam e aquelas que ensaiavam todos os dias mas que parecia que nunca haviam ensaiado. Bandas tatuadas, bandas depiladas, bandas marombadas, bandas destiladas, bandas drogadas, bandas nudistas, bandas evangélicas, bandas gordas, bandas pobres, bandas exibidas, bandas endiabradas, afinadas, desafinadas e empoeiradas. Enfim, bandas desgraçadas. Sem exceção. Guarujá não é só a Pérola do Atlântico. Guarujá não é só a cidade onde Silvio Santos tem um hotel. Guarujá não é só a cidade onde Santos Dumont se suicidou. Guarujá não é só um fracasso cada vez maior no turismo. Guarujá não é só uma das maiores Mecas de bandidos engravatados. Guarujá não é só uma das cidades brasileiras com uma sublime beleza natural que prima vertiginosamente para a decadência irreversível. Guarujá é também o maior cemitério de artistas que existe no Brasil. E, a cada segundo, eles continuam morrendo.
Nada como um dia após o outro para algo morrer como sempre.




(A partir da próxima semana, toda segunda-feira, um novo texto.)

3 comentários:

marcos disse...

E ai RKF, é o Peruca amigo do Caio, do Easy Money, Continuo Tocando ainda Hj e fazendo Musica, não morri ainda, kkkkkkkk

http://www.facebook.com/pages/Supergrave/210865168944070?sk=app_178091127385

Claudinh@ disse...

Faltou falar do Skina, Garagem Rock Festival... parabéns pelo texto!

Unknown disse...

Easy money