As luzes amarelas e vermelhas. As luzes amarelas e vermelhas que vejo nas entradas e saídas dos estacionamentos escuros, antigos e invariavelmente úmidos. Entre a saída e a entrada, há o mesmo lugar de sempre. Elas fazem de mim mais novo. Elas, as luzes. Elas, a saída e a entrada. E o mais novo de mim ficou nos anos 80 e jamais irá voltar. Nem a minha memória é capaz desse feito. A ficção está aí para ser usada a favor de quem não estava lá no lugar que nunca esteve em lugar algum. Só na cabeça de um cidadão que trabalhou durante um longo período para tornar verossímil a história de um grupo de coelhos que fala pelos cotovelos e só com a boca que foi impressa numa pilha de papéis vagabundos encontrada em um escuro, antigo e invariavelmente úmido estacionamento que possui uma entrada e uma saída e uma luz amarela e outra vermelha que me fazem recordar o mais novo de mim que ficará para sempre inalterável entre a saída e a entrada da minha memória.
(Fotografia: A memória não é capaz desse feito.)
(Excepcionalmente, nesta quarta-feira, postarei outro texto.)
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