segunda-feira, 16 de maio de 2011

Justiceiro do Rock



A resenha a seguir foi publicada no jornal Folha De S. Paulo no dia 9 de fevereiro de 2011.
(Ela é de autoria de Carlos Messias.)

CD: Majesty Shredding
Artista: Superchunk
Avaliação: ** (duas estrelas eufemisticamente “indulgentes” e covardes para não dizer que achou uma merda)

“Em seu primeiro álbum após quase dez anos de hiato, a banda indie dos anos 90 comete dois erros comuns entre os seus contemporâneos na ativa: a autoindulgência e a autorreferência. O desleixo não tem mais o mesmo charme e o som característico da banda soa datado. Ainda assim, os saudosistas conseguirão se divertir com rocks ruidosos e pitorescos como My Gap Feels Weird e Learned To Surf." (De novo, Carlos Messias.)

Ao ler isto aí em cima, eu me pergunto: Que porra é essa? Será que ele ouviu o mesmo cd que ouvi? Será que ele leu a mesma merda que li? Será que ele se perguntou se realmente vale a pena comer “alguém” alguns degraus acima na hierarquia para publicar esta bosta? Será que o “alguém” alguns degraus acima na hierarquia questionou-se se realmente vale a pena ser sodomizado(a) para liberar a publicação desta bosta?
Destruir algo que você tem apreço causa desconforto. Agora destruir algo que você tem apreço com argumentos estapafúrdios causa... pena e... medo. Pena porque esses tipos “moderninhos” devem achar Arcade Fire a maior banda de todos os tempos. Medo pelo fato desses bundões estarem dominando o mundo como pestes hermafroditas. A ironia é que o Arcade Fire foi descoberto e lançado pela Merge Records – gravadora que tem como co-proprietário Mac McCaughan, líder do Superchunk.

Vamos à justiça!

Primeiro que usar palavras como autorreferência e autoindulgência numa crítica, ou melhor, numa microcrítica de um disco de rock é uma autoestupidez. Além disso, a maior estupidez é apontar a autorreferência como erro. (Eu nunca vi nenhum crítico ter a ousadia de apontar o Ramones como “vítima” da autorreferência.)
Após ler com atenção este belo “tratado” de Carlos Messias, Mac McCaughan tomou algumas providências com relação ao futuro do Superchunk:

“Cansamos dessa coisa de Superchunk. No próximo CD, não cairemos na armadilha da autorreferência, afinal, qual é a vantagem de prosseguir sendo nós mesmos? Portanto calcaremos nosso ‘novo’ som em um estilo meio Preta Gil, meio Edson Cordeiro fase dance-ópera, meio o ‘originalíssimo’ The Gossip...

“Não tocaremos músicas antigas na próxima turnê. Evitaremos, ao máximo, a praga da autorreferência. Já adianto que terá muita coisa de Miley Cyrus, Usher, Shaggy, Corona, Matisyahu e nada nosso! Foda-se a autorreferência, viva o plágio!”

O apelo de Mac McCaughan - em deferência a Carlos Messias - em prol da erradicação da autorreferência no mundo da arte foi aderido por muitos personagens, de níveis distintos, do universo artístico. Vejam alguns depoimentos:

“Meu pai me disse, no leito de morte, que a pior coisa que ele fez na vida foi ser um artista inovador. Cada tentativa que ele teve para mostrar isso, e não foram poucas, afinal, são 998 discos, o deixava profundamente triste a ponto de desejar, 86.400 segundos por dia, ser a bunda do Boy George e ter o cérebro do Chorão, do Charlie Brown Jr”, declaração de Ahmet Zappa, às lágrimas, ao revelar a maior decepção do seu pai, Frank Zappa.

“Graças à internet, tive a possibilidade de assistir ao mais belo show que vi na minha nada gloriosa vida até agora. O show aconteceu em 2001, no Brasil, em um festival chamado Rock’n Rio, e a banda responsável por essa dádiva, infelizmente finada, é a banda menos autorreferente da história da música: vos apresento Surto!”, trecho da última entrevista de Bob Dylan para a Rolling Stone americana.

“Por que Deus não me permitiu ter a voz da Sandy?”, derradeiras palavras de Luciano Pavarotti antes de morrer.

“Em novo álbum, Iron Maiden larga o metal e abraça o “disco-punk” – o estilo menos autorreferente da atualidade”, manchete de capa da revista Kerrang!

“Obrigado, agora posso morrer em paz”, desabafo do autor americano Phillip Roth ao ser agraciado com o Prêmio Pulitzer pelo 'soberbo' livro Ctrl C... Ctrl V – Eu roubei o cérebro do Pedro Bial, lançado pela editora Google.

Carlos Messias dará consultoria na Columbia University, em Nova York, no dia 32 de julho, a 'velhos' artistas que revolucionaram o rock independente americano e mundial e que, infelizmente, não conseguem dar um rumo menos autorreferente a suas carreiras. Presenças confirmadas: Bob Mould, Mac McCaughan, Black Francis, Henry Rollins, Jello Biafra, Kevin Seconds e Rivers Cuomo. Participação especial do guru Lúcio Ribeiro”, anúncio de capa do jornal The New York Times.

“O desleixo não tem mais o mesmo charme e o som característico da banda soa datado.”

Meu Deus! Se há uma característica da qual os artistas da atualidade são desprovidos é da autorreferência. E se há um período dentro do qual esses mesmos artistas poderiam viver em harmonia é o Novo Datado, ou seja, uma contradição à identidade. Eles não fazem parte de uma data, mas de todas as datas. Eles são, por enquanto e, assim espero, por pouco tempo, os últimos dos titãs. E, como últimos, eles vivem dos restos dos que os precederam. E, às vezes, esses restos foram ridicularizados enquanto viveram por inteiro no Planeta Terra. Portanto, lhes pergunto: Qual é o nome do resto que, enquanto inteiro, era tratado como puta infectada e, hoje, é a principal matéria-prima para qualquer expoente do Novo Datado? Acertou, a antes escorraçada Dance Music. A mesma que você chamava, trajado com a camiseta do AC/DC, de poperô.

Presumo que a maioria das pessoas odeia quem recorre a citações alheias para defender um ponto de vista. Em síntese, é isso que expressa e defende o “lixinho” escrito por Carlos Messias. Entretanto, para fazer a alegria dos “Carlinhos” que estão emperiquitados por aí, e para não soar datado, devo reconhecer: NEYMAR INVENTOU O CORTE MOICANO.










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